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Estudo do MARE-ISPA identifica capacidade de aclimatação dos sargos bebés às alterações climáticas

Investigadores do MARE-ISPA revelam num estudo publicado na revista ‘Environmental Pollution, em Novembro deste ano, que o sargo (Diplodus sargus), na sua fase larvar, terá a capacidade comportamental para se deslocar para áreas mais adequadas, escapando de ambientes mais adversos, e suportando as alterações climáticas.

Esta espécie de peixe, de elevado interesse comercial, pode alterar a sua fisiologia, mantendo-se activa face ao aquecimento e à falta de oxigénio nos oceanos, o que lhes confere vantagens para suportar as alterações climáticas previstas para final do século, refere uma nota de imprensa do MARE-ISPA.

Assim, estudar os efeitos das futuras alterações climáticas nos sargos bebés torna-se essencial para melhor compreender o futuro das populações adultas e sustentabilidade das espécies. “As larvas dos sargos podem dispersar até aproximadamente 200 km da costa por quatro semanas, dirigindo-se depois para regiões mais costeiras, onde se tornam juvenis e recrutam para a população adulta. É durante essa jornada que 80% das larvas pode morrer por causas naturais, mesmo em condições óptimas”, adianta a mesma nota.

E acrescenta que a correcta gestão e uso sustentável dos recursos pesqueiros passa também por uma melhor compreensão das suas fases larvares, estágios iniciais do ciclo de vida dos peixes. A sobrevivência de um maior número de larvas de peixes pode ter um impacto positivo nas populações adultas.

Taxa de sobrevivência

André Lima, investigador responsável pelo projecto FutureLarvae e autor principal do estudo, avaliou quais seriam as hipóteses desses pequenos sargos sobreviverem num futuro cenário de alterações climáticas. Para tal, em condições laboratoriais controladas, as fases larvares de sargos foram expostas a um aumento de temperatura de 4°C e baixa disponibilidade de O2 dissolvido (hipoxia) por um período de 2 semanas. A simulação seguiu o cenário mais pessimista do IPCC (Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas) para o final do século e a expansão de zonas mortas na costa europeia.

Quando expostos aos efeitos combinados de aquecimento e hipoxia, as larvas de sargos apresentaram uma taxa de mortalidade 50% superior às larvas expostas aos efeitos individuais do aquecimento ou da hipoxia. Apesar disso, foi possível observar que as larvas sobreviventes são capazes de aumentar a sua velocidade de natação, mesmo quando diminuem a taxa de respiração, a respiração celular e o metabolismo aeróbico em situações de hipoxia.

Por sua vez, Ana Faria, investigadora e co-autora do estudo, explica que “devido ao aumento da temperatura da água do mar, é expectável que os pequenos sargos acelerem o metabolismo e, consequentemente, aumentem o consumo de oxigénio. Se no futuro, as larvas dispersarem para um habitat mais quente, com menor disponibilidade de oxigénio, elas precisarão de utilizar mecanismos para superar essa situação extrema, ou acabarão por morrer. Apesar destas fases serem extremamente sensíveis a alterações no meio ambiente, por não possuírem ainda tecidos bem desenvolvidos como os peixes jovens e adultos, algumas espécies apresentam capacidades fisiológicas e comportamentais que as podem ajudar a superar situações mais adversas”.

André Lima refere que “uma enzima do metabolismo energético celular, chamada Lactato Desidrogenase e ligada ao metabolismo anaeróbico, estava positivamente relacionada com a velocidade de natação e a distância nadada pelas larvas em situações de hipoxia. Essa capacidade de nadar mais rápido e por distâncias mais longas com pouco O2 disponível para respiração é possível por um mecanismo fisiológico que permite às larvas aumentar a eficiência do metabolismo celular, mesmo quando há pouco oxigénio dentro das células”.

Vantagem evolutiva

Os autores do estudo referem ainda que “essa é uma vantagem evolutiva de espécies activas que permitiu as larvas serem tão tolerantes a hipoxia quanto são os sargos adultos, mas tal vantagem só será favorável se as zonas mortas e mais quentes não se expandirem ao ponto de impedir que as larvas se desloquem para fora delas no futuro”, realça a mesma nota.

Este artigo é o primeiro realizado no âmbito do projecto FutureLarvae, financiado pelo Programa de Investigação e Inovação da União Europeia Horizon 2020 – Marie Sklodowska-Curie n.º 101038057, que tem como objectivo integrar as respostas fisiológicas ao aumento da temperatura e à diminuição de O2 em modelos de distribuição de espécies (SDMs) para prever a distribuição futura de larvas de peixes.

Pode ler o artigo completo aqui.

Saiba mais sobre o projecto FutureLarvae aqui.

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