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Trazer a saúde e sustentabilidade para a mesa é possível

Artigo de opinião de Tiago Luís, Coordenador de Alimentação da ANP|WWF

Refeição após refeição, cada escolha alimentar que fazemos refletir-se-á, eventualmente, na nossa saúde e bem-estar. É sabido que certos alimentos nos trazem saúde e que outros nem tanto, devendo estes, por isso, ser consumidos em menor quantidade.

Os hábitos alimentares dos portugueses são desequilibrados e desadequados face às recomendações da Roda dos Alimentos Portuguesa, como revelou o Inquérito Alimentar Nacional e de Atividade Física (IAN-AF, 2015 a 2016). Estamos a consumir, em média, mais alimentos de origem animal do que o recomendado e os produtos alimentares como bolos, doces, bolachas, snacks salgados, refrigerantes e bebidas alcoólicas, que estão entre os alimentos menos saudáveis e sustentáveis, representam ainda cerca de 21% do nosso consumo total diário. O consumo excessivo destes produtos alimentares é feito em detrimento dos alimentos frescos de origem vegetal, cujo consumo, em mais de metade da população portuguesa (56%), não atinge a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de aproximadamente 5 porções por dia – este padrão alimentar inadequado é um dos principais fatores de risco que contribui para o total de anos de vida saudável perdidos. Ou seja, apesar de estarmos enquanto sociedade a viver mais anos, os últimos anos das nossas vidas são caracterizados por menos saúde do que teríamos se nos alimentássemos melhor.

Da mesma forma que nós somos o que comemos, também o estado da natureza reflete as nossas escolhas alimentares. Tudo o que consumimos influencia – e é influenciado por – todo o ambiente à nossa volta e a produção de alimentos (vegetais, fruta, carne,  pescado, etc.) representa uma das atividades humanas com maior impacto ambiental ao nível dos ecossistemas terrestres e marinhos. 

Para assinalar o Dia da Terra, a ANP|WWF (no âmbito do projeto Eat4Change) publicou no dia 22 de abril, o Plano Semanal para uma Alimentação Saudável e Sustentável. Este plano, desenvolvido em conjunto com a Associação Portuguesa de Nutrição (APN), pretende mostrar que é possível fazer uma alimentação que assegure as necessidades nutricionais individuais sem comprometer o limite diário de pegada carbónica para cumprir o Acordo de Paris, isto é, manter o aumento do aquecimento global abaixo de 1,5ºC até 2050.

Este plano semanal é composto por alimentos pertencentes a todos os grupos da Roda dos Alimentos Portuguesa, ou seja, inclui carne e pescado, para além de outros alimentos de origem animal. No entanto,  as refeições principais de base vegetal têm, de modo geral, uma pegada carbónica inferior às refeições principais de carne, peixe ou ovos, tendo as refeições de carne, tendencialmente, a maior pegada.

Embora o plano semanal tenha procurado otimizar a alimentação em termos nutricionais e em termos ambientais focando-se na pegada carbónica, há outras dimensões de impacto ambiental da produção alimentar que deverão no futuro ser tidas em conta. Na agricultura, para além do aumento das emissões de gases de efeito de estufa à medida que a produção agrícola é intensificada, também mais elevado se torna o consumo de água, energia, pesticidas e fertilizantes, o impacto sobre habitats e espécies, e, consequentemente, maior é a contaminação dos solos e cursos de água, comprometendo a fertilidade dos solos e a diversidade de espécies.

Por outro lado, as alterações climáticas (para as quais também contribui a forma como produzimos e consumimos alimentos) afetam negativamente a produtividade agrícola (por exemplo, com secas mais graves e mais prolongadas) e de pescado (por exemplo, alterando a distribuição geográfica das espécies comerciais, fazendo a sua abundância reduzir nalguns locais), com efeitos que só terão tendência a piorar nas próximas décadas. 

Verifica-se, portanto, que, não só “somos o que comemos”, como o que comemos tem a capacidade de moldar o ambiente ao nosso redor. Ao fazermos uma alimentação que respeita as nossas necessidades nutricionais, utilizando de forma integral (evitando o desperdício) alimentos sazonais e frescos (em geral, mais sustentáveis e nutricionalmente ricos); que tem em atenção os modos de produção e o cuidado de privilegiar os alimentos de origem vegetal como fonte de proteína em detrimento dos de origem animal, estamos a contribuir todos os dias para um padrão alimentar que respeita a nossa saúde e o nosso planeta.

Precisamos, portanto, de repensar os nossos sistemas alimentares, para que todos consigamos escolher mais facilmente alimentos que contribuam tanto para a nossa saúde como para a saúde do planeta. Este plano semanal apoia os cidadãos para fazerem escolhas mais saudáveis, mas precisamos também de uma produção alimentar mais sustentável que produza em quantidade alimentos adequados e que o seu processamento e distribuição assegurem preços acessíveis a todas as pessoas.

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