Este é o primeiro artigo resultante da nova parceria entre o agriculturaemar.com e A Cientista Agrícola.
A Cientista Agrícola surgiu no início de 2018 como uma iniciativa que visa aproximar toda a população da ciência e investigação aplicadas ao sector agrícola.
“Nós acreditamos que todas as pessoas podem ser cientistas agrícolas, já que as ciências agrárias apresentam uma linguagem que facilmente podemos aprender. E aprendê-la, dá-nos poder: Poder de analisar,questionar e repensar o sector agrícola actual. Oferecemos também um conjunto de serviços e info-produtos para que se sinta também um cientista e encontre todas as ferramentas que precisa para “se cultivar” cada vez mais”, explica a promotora do site Rosa Moreira.
O Parque de Máquinas agrícola: capacidade e tempo de trabalho
A importância das máquinas agrícolas para o desenvolvimento do sector agrícola
Ao longo dos anos a mecanização agrícola ocupa um patamar de importância que pretende dar resposta à procura de maior potência e de máquinas mais avançadas tecnologicamente nas explorações, e com isso representar o maior custo de produção.
É benéfico que a mecanização das explorações agrícolas cresça, mas esta deve ser estruturada e previamente pensada, reforçada de uma boa gestão (Faria, 2017). Após a entrada na União Europeia, Portugal era um País atrasado e pouco moderno em relação à média europeia e seguiu um novo rumo com a atribuição de subsídios a fundo perdido para a instalação/renovação de equipamentos mecânicos.
Na verdade, a modernização abrangeu também explorações agrícolas com a aquisição de máquinas agrícolas para colmatar o défice de máquinas e a modernização de outras, para acompanhar a média de outros países, quer em número quer em necessidade. A gestão do parque de máquinas agrícolas deve ser realizada conjugando o trabalho a produzir com o tempo disponível, gerindo as máquinas disponíveis (e a sua potência) para manter um nível de custos fixos e variáveis razoáveis.
Rentabilidade total da exploração
Além disso a gestão passa também pela rentabilidade total da exploração que é feita tendo em vista alguns factores (Ortiz-Canavate, 1989):
- Factores institucionais: Subsídios, promoções, formação profissional;
- Factores infra-estruturais: Qualidade da rede viária, disponibilidade de água e de energia eléctrica, oficinas;
- Dimensão do sistema de mecanização: Capacidade das máquinas em função das culturas e das áreas das parcelas agrícolas;
- Necessidade de potência: Desempenho da potência, tamanho e tipo de equipamento em função do terreno e solo;
- Custos: Aquisição de máquinas próprias, aluguer de máquinas ou necessidade de prestação de serviços sociais: mão-de-obra disponível, estatuto social, efectivo humano.
A capacidade de trabalho que o parque de máquinas agrícolas apresenta é a característica operativa mais importante, determinada pela quantidade de trabalho realizada (culturas por área ou número de parcelas trabalhadas) e o tempo de operação das máquinas que realizam esse mesmo trabalho (hora, dia, época de trabalho).
A capacidade de trabalho global de um parque de máquinas agrícolas
A capacidade de trabalho global de um parque de máquinas agrícolas depende da capacidade de trabalho efectiva, calculada tendo em conta o desempenho das máquinas, utilizando observações de campo e a seguinte fórmula matemática:
C (ha/h) = V (Km/h) x L (m) x E (%) / 10
C = Capacidade de trabalho efectiva em termos de área trabalhada num certo período temporal
V = Velocidade média de deslocação de uma máquina durante a operação.
L = largura de trabalho da máquina.
E = Eficiência de campo: (desempenho de uma máquina nas condições atuais de campo e o desempenho máximo teórico que essa máquina tem).
(Carvalho, 2017)
Principais factores que afectam a capacidade de trabalho efectiva de um parque de máquinas agrícolas
Os principais factores que afectam a capacidade de trabalho efectiva de um parque de máquinas são:
- Características de operação das máquinas;
- Características físicas da própria máquina (velocidade, dimensões manobrabilidade, manutenção);
- O desempenho das máquinas em função da dimensão e forma da parcela ou tipo de solo (textura, rochas presentes);
- Características biológicas da cultura a ser trabalhada:
– Produção e densidade da cultura;
– Variedade das culturas;
- Características ambientais, onde se destacam as condições climáticas e estados meteorológicos;
- Tomadas de decisão do operador:
– Conhecimento das condições de trabalho;
– Habilidade e experiência com as máquinas;
– Conforto com máquina e conhecimentos de segurança para o rendimento da tarefa e do trabalho.
Máquinas agrícolas e a sua capacidade de trabalho efectivo
Na capacidade de trabalho efectivo temos de ter em conta a eficiência de campo que varia tendo em conta o:
- O tamanho e forma das parcelas agrícolas;
- A modelação e teor humidade do solo;
- O modelo de execução do trabalho;
- A produção e condições da cultura;
- O tempo despendido devido à capacidade do operador e as suas políticas de operação;
- O não uso de toda a capacidade da máquina.
A capacidade de trabalho varia também com o tempo disponível que é o tempo de trabalho que uma máquina demora a executar uma operação em função da área. É um factor de caracterização do desempenho das máquinas com o significado e valor inverso da capacidade de trabalho (Witney, 1988).
Os factores que afectam o tempo disponível das máquinas agrícolas
Características ambientais:
– Os estados meteorológicos durante o período de trabalho ou época cultural são o principal factor limitante dada a sua imprevisibilidade;
– As características do solo e os possíveis problemas de tracção associados;
Características físicas das máquinas:
– Desempenho das máquinas em função da dimensão e forma da parcela além do declive e tipo de solo;
– A tipologia da tarefa e sua facilidade de mecanização;
Características biológicas da cultura:
– O ciclo cultural é um factor muito limitante derivado à fase de maturação da planta;
Tomadas de decisão do gestor e do operador:
– A disponibilidade temporal do operador e a sua flexibilidade de trabalhar fora de horas são factores a ter em conta.
Parque de máquinas agrícola português
O parque de máquinas agrícolas português evoluí positivamente ao longo dos anos em termos de aquisições, mas continua a ser considerado um parque envelhecido, presenciando equipamentos agrícolas com idade superior à idade de vida útil recomendada (que é de 10 anos).
Com a volatilidade dos mercados existe sempre a incerteza do preço final do produto final produzido, sucedendo-se a variação do custo de máquinas de agrícolas na sua aquisição ou aluguer e ainda a sua utilização e manutenção.
O ajustamento do parque de máquinas e alfaias agrícolas ao nível da exploração deve minimizar as necessidades de mão-de-obra e reduzir o tempo de realização das tarefas, levando à diminuição do desgaste dos equipamentos utilizados e economia de combustíveis.
Se pensarmos num plano a longo prazo tendemos para um aumento da produtividade do equipamento e a contínua inovação tecnológica do parque em função do sector que trabalha.
Futuro da mecanização agrícola
O futuro da mecanização agrícola passará em parte pelo requerimento de prestadores de serviço em função da região onde se labora e das práticas culturais praticadas, minimizando-se o custo de manutenções dos equipamentos agrícolas e aquisição de novos equipamentos, que apresentam um enorme custo e encargo para o agricultor e exploração.
Sendo de salientar a importância que a agricultura e os agricultores representam ao longo da sua actividade, está dependente destes assegurar o futuro das seguintes gerações, sem descurar a melhoria da sua qualidade de vida e inovando na sua exploração agrícola e seu sector.
Finalizo com uma nota de importância para o risco de segurança dos operadores e manobradores agrícolas em operações agrícolas e florestais, que infelizmente levam a diversos acidentes graves e à morte de operadores. As acções de formação de operadores devem ser parte integrante das preocupações de funcionamento das explorações para permitir o maior conhecimento teórico e prático acerca dos equipamentos utilizados e diminuir acidentes com estes.
Bibliografia utilizada:
Carvalho, R. F. Saruga, F. J. B. (2007) “Mecanização Agrícola – 1º e 2º Volume Máquinas Agrícolas”, DGADR.
Faria, V. Paredes, C. Pena, J. (2017) “Formação em contexto de trabalho na Cooperativa Agrícola de Vila do Conde”, Relatório de final de estágio – Curso Técnico Superior Profissional em Mecanização e Automação Agrícola, ESA-IPVC.
Ortiz Canavate, J. Hernandez, J. L. (1989) “Tecnica de la Mecanizacion Agrária (3ª ed)”. Mundi-Prensa, Madrid.
Witney, B. (1988) “Choosing and using farm machines”. Longman Scientifical and Technical,
José Pena: josecfpena95@gmail.com