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Pode o novo amendoal contribuir para a sustentabilidade da apicultura?

Artigo de opinião de António Saraiva, Director Executivo da Portugal Nuts – Associação de Promoção de Frutos Secos

A convite da FNAP (Federação Nacional dos Apicultores de Portugal), e em representação da Portugal Nuts, participei recentemente numa mesa-redonda intitulada “Importância da polinização dirigida na Agricultura”, integrada no XXII Fórum Nacional de Apicultura. Pretendia-se que fosse dada a conhecer a experiência e visão da Portugal Nuts, na temática da polinização dirigida com abelhas melíferas, e sua importância para o sucesso económico das explorações agrícolas dos produtores de amêndoa (o único fruto de casca rija com polinização entomófila, isto é, com recurso a insetos).

Apesar da larga maioria dos pomares modernos no país ser composto por variedades autocompatíveis (em que a polinização se pode dar na mesma flor), a experiência mostra que não se dispensa a introdução de abelhas melíferas durante a curta floração, para um maior sucesso da frutificação. Sem dados concretos sobre o ótimo económico do número de colmeias por hectare, já se trabalha em pequena escala, com base na experiência de campanhas anteriores.

Uma só amendoeira pode produzir até cerca de 50.000 flores (Cunningham, 2017) e a riqueza do seu pólen é uma excelente fonte de proteína, já que fica disponível relativamente cedo, numa altura em que não existem outras fontes de alimento comparáveis para as colmeias.

E as sinergias não se ficam por aqui. Ouvi dos apicultores que prestam serviços de polinização, tanto na mesa-redonda como em conversas posteriores, que a prestação destes serviços no amendoal moderno é uma atividade fulcral para a sua sustentabilidade económica e que a experiência que têm tido com os nossos produtores decorre com grande profissionalismo e interesse pelo reconhecimento da apicultura nos resultados dos amendoais.

Mas também ficou a mensagem de que é necessário crescermos lado-a-lado e em diálogo, para antecipar as necessidades futuras, com a entrada em produção dos novos amendoais, uma vez que não haverá capacidade de resposta por parte dos apicultores polinizadores à elevada procura por este tipo de plantações, no curto intervalo de tempo em que ocorre a floração.

As abelhas melíferas introduzidas não são as únicas incansáveis polinizadoras dos amendoais. Elas partilham esta tarefa com outros insetos polinizadores que ocorrem naturalmente nos pomares, e melhoram muito o seu desempenho quando na presença destes “competidores” locais. Daqui resulta que a preservação e manutenção de pequenas ilhas de vegetação natural dispersas pelos pomares ou como sebes nas suas margens e mesmo a manutenção do coberto vegetal nas entrelinhas, fomentam a presença de diferentes tipos de polinizadores naturais na exploração (mais biodiversidade funcional), traduzindo-se numa melhor prestação deste serviço de ecossistema, com ganhos de produtividade.

Para além da necessidade de previsão da quantificação das necessidades futuras de serviços de polinização para o amendoal, ficou também claro que os apicultores necessitam de procedimentos obrigatórios mais céleres e adaptados à realidade, para a movimentação das colmeias, entre a sua origem e os pomares. Sempre na salvaguarda do cumprimento de todas as normas sanitárias e de controlo que a DGAV requer.

Numa agradável e informativa presença neste muitíssimo participado e interessado Fórum, fica claro que a sustentabilidade se constrói com a colaboração entre todos, para o bem comum.

Agricultura e Mar

 
       
   
 

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