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Otimismo e preocupação: sentimentos de fileira em momentos de colheita

Artigo de opinião de António Saraiva, Director Executivo da Portugal Nuts – Associação de Promoção de Frutos Secos

António Saraiva

As chuvas recentes tiveram como consequência adiar o final da colheita da amêndoa, de Norte a Sul, porque chegaram com distribuição e intensidade diferente daquelas a que o clima que conhecíamos nos habituou. Salvo casos esporádicos de materialidade dos prejuízos, tem produzido efeitos menos negativos do que noutras culturas, que por agora também se vão colhendo. A precipitação caída nas últimas semanas serviu para mexer com o planeamento desta operação, com implicações nos custos e perda de produção, numa altura em que os preços de venda da amêndoa atravessam um período de baixa, o que é sempre mal recebido por quem quer ver justamente remunerado o resultado da sua atividade.

Mas há sempre um outro lado mais positivo de ver as coisas. Para quem, na zona do EFMA, vê a água que lhe resta até atingir a dotação máxima definida pela EDIA, alguns milímetros de precipitação, mesmo que caídos intensamente, são como um aliviador respiro para um mergulhador em apneia. E os atuais e quase históricos preços baixos da amêndoa têm como único ponto positivo o fato de servirem para se tomarem decisões devidamente ponderadas e fazer pensar que este é apenas mais um ponto de inflexão do mercado, que verá preços mais favoráveis no virar da campanha.

Do maior produtor mundial, os EUA, o que vamos lendo diz-nos estar perante uma das mais tardias colheitas, com produtividades afetadas, apresentando problemas de qualidade devido ao efeito de insetos. Este atraso, também motivado pelas condições do tempo, tem levado à expedição de partidas com stock da colheita anterior, face à incapacidade imediata da colheita atual para satisfazer os pedidos.

Por cá, ainda sem dados que permitam fazer uma avaliação global da colheita, as indicações que chegam da região do Alentejo é de que facto está a ser um ano de amêndoa de boa qualidade, mas com calibres menores do que o esperado e com menor rendimento em miolo do que o habitual.

Foi neste ambiente de consciência das dificuldades presentes, mas de confiança no futuro, que teve lugar o recém seminário “Investimentos nos frutos secos em Portugal: Criar valor” organizado pela Portugal Nuts no âmbito da Agroglobal, com a colaboração da Consulai e da PRA.

Deste momento sobressaem quatro conclusões chave:

– Compromisso – Quem investe nesta cultura não olha apenas para o preço corrente. Faz um plano de negócios a 25 anos e apesar dos preços baixos circunstanciais, estes não afetam a decisão de investimento de longo prazo. A produção de frutos secos não é uma moda. O investimento veio para ficar.

– Competência – Tem sido impressionante o crescimento da produção de amêndoa nos últimos 10 anos, que não acontece por acaso. A economia e as empresas reagem bem quando são disponibilizadas infraestruturas críticas e estratégicas para o futuro.

– Competitividade – A cultura da amêndoa na Europa tem muitas vantagens. Há melhores condições para produzir amêndoa que na Califórnia com oportunidade de fornecer amêndoa na Europa mais cedo. As quantidades que vão ser produzidas em Portugal, vão permitir substituir a importação de frutos secos de outros destinos mais longínquos.

– Confiança – Estamos a tornar os frutos secos numa fileira na qual vale a pena apostar. Se traçámos este caminho, vale a pena continuar.

Porém há uma questão que permanece, “será que o país valoriza este desenvolvimento?”.

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