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Podemos viver sem cerejas?

Artigo de opinião de Paula Custódio Reis, Deputada na Assembleia da República pelo Partido Socialista, distrito de Castelo Branco

Sobre as árvores da minha infância, tenho das cerejeiras uma memória clara: subir a um ramo, sentar-me e comer as que quisesse, enquanto brincava com a seiva-cola que escorria e formava cristais de cor âmbar.

Talvez por isso me tenha encantado com a ideia de que os meus filhos pudessem criar as mesmas memórias. Árvore comprada no mercado do Fundão, plantada no Outono, regada a preceito, um ano destes encheu-se de flores. Batido o vento quente de primavera, as cerejas não vieram. «Não foram polinizadas» explicaram-me.

A verdade é que a existência de abelhas tem sido ameaçada por fatores como as alterações climáticas, as alterações de utilização dos solos e das práticas agrícolas, invasões biológicas e bioagressores como os ácaros Varroa, Microsporos de Nosema, Vírus e outros, o que degrada os habitats potenciais criando disrupções ambientais.

Se queres mel, suporta as abelhas, escreveu, no século XVI, Erasmo de Roterdão. Simbolicamente falando, e aplicando esta máxima aos nossos dias, diria que a apicultura é um setor basilar, quer estejamos a falar de agricultura, quer falemos da sobrevivência dos ecossistemas no geral

Apesar da importância de um setor, atestada com a existência de 10435 explorações apícolas registadas, com um número total de 792 239 colónias e nove Denominações de Origem Protegida, nos dias que correm, as colónias de abelhas têm poucas condições de sobrevivência de per si, sem a intervenção de um apicultor que as alimente, caso necessário, ou que translade a colmeia para um local onde exista floração.

A Dieta Mediterrânica, base da nossa boa alimentação e matéria-prima das nossas memórias dos bons sabores, depende quase exclusivamente da função polinizadora das abelhas, estendendo-se esta polinização natural às flores silvestres, aos arbustos e árvores, contribuído para a saúde e resiliência dos ecossistemas.

Sendo um produto base da gastronomia e dos hábitos alimentares da Península Ibérica, a sua produção desdobra-se num papel de atividade económica por si própria, mas também de garante da existência de fruticultura e de agricultura.

A espécie autóctone da Península Ibérica, a Apis Mellifera Iberiensis, tem uma presença milenar, com uma adaptação própria ao território, que em muito dita também as características do modo de produção e do produto obtido, estando a sua localização muitas vezes ligada também à limpeza e manutenção de terrenos, que na ausência desta atividade estariam abandonados, cumprindo um papel social de complemento lucrativo ou de criação de atividades por conta própria.

Tenho a convicção de que o Projeto de Resolução n.º 941/XV/2.ª, do qual sou a primeira subscritora num conjunto de mais de trinta deputados do Partido Socialista, eleitos por todas as regiões do País, terá o acolhimento devido no âmbito de um Governo que faz da transição verde, do combate às alterações climáticas e da coesão territorial algumas das suas mais destacadas bandeiras

Se queres mel, suporta as abelhas, escreveu, no século XVI, Erasmo de Roterdão. Simbolicamente falando, e aplicando esta máxima aos nossos dias, diria que a apicultura é um setor basilar, quer estejamos a falar de agricultura, quer falemos da sobrevivência dos ecossistemas no geral.

Manter saudável e saborosa a dieta humana, refazer a paisagem sem contar com os polinizadores naturais está longe de ser uma realidade possível.

Torna-se fulcral que esta atividade, da qual dependem tantas outras, tenha um sistema de incentivos supletivos, pagos diretamente aos produtores, tendo por base as colmeias existentes e não a área abrangida, procurando garantir a continuidade desta atividade, tornando-a atrativa para a iniciativa privada, com a adoção de medidas de compensação à apicultura.

Por isso, tendo em conta este cenário, tenho a convicção de que o Projeto de Resolução n.º 941/XV/2.ª, do qual sou a primeira subscritora num conjunto de mais de trinta deputados do Partido Socialista, eleitos por todas as regiões do País, terá o acolhimento devido no âmbito de um Governo que faz da transição verde, do combate às alterações climáticas e da coesão territorial algumas das suas mais destacadas bandeiras.

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