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Espanha: 60% da área cultivada tem de ser biológica até 2050. “Um sonho cheio de boas intenções” mas “longe da realidade do mundo rural”, dizem os agricultores espanhóis

O chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez, apresentou na passada semana o seu Plano Espanha 2050, no qual define que 60% da área cultivada em 2050 terá de ser biológica e fixa a meta de uma redução de 15% no consumo de água na agricultura, em consonância com a Estratégia do Prado ao Prato, da União Europeia.

Refira-se que actualmente apenas 10% da área cultivada em território espanhol é biológica. O documento avança como meta de 25% em 2030 e 43% em 2040.

A direcção da Unión de Uniones de Agricultores y Ganaderos diz que o Plano Espanha 2050, no que diz respeito ao sector agrícola e ao meio rural, é “um sonho cheio de boas intenções e pouco mais”, que está “longe da realidade do mundo rural”.

Aqueles agricultores espanhóis dizem que se trata de um trabalho “muito bem estruturado academicamente, mas que, como estratégia de planeamento, é inútil, pois não descreve os meios, nem as medidas, nem os instrumentos nos quais se baseia, para atingir os objectivos traçados”. E mostram a sua surpresa com a meta de 60% da área cultivada em 2050 ser biológica.

“Reconhecemos a componente ambiental da agricultura biológica” mas “a percentagem proposta não é um objectivo credível”. Para a organização, o indicador é “muito ideológico” e o que faz é “questionar o papel dos agricultores e produtores pecuários convencionais que hoje fazem um excelente trabalho, alimentando a sociedade como um todo de forma cada vez mais sustentável e eficiente”.

Gestão hídrica

Por outro lado, a Unión de Uniones também duvida de que forma possa ser alcançada a meta fixada de uma redução de 15% no consumo de água, e questiona os seus efeitos na agricultura e na pecuária, que “gere uma parte importante destes recursos num país árido ou semi-árido em boa parte de sua geografia e com episódios frequentes de seca”.

“Somos responsáveis ​​no uso da água, por convicção porque é um factor cada vez mais caro”, referem aqueles agricultores, garantindo que “nos últimos 20 anos reduzimos o seu uso em 22% com sistemas cada vez mais eficientes, mas a margem de melhoria está a ficar cada vez menor”. A Unión de Uniones está “preocupada com a redução da área irrigada, que é a agricultura mais competitiva”, e lembra que apenas 22,5% da área de regadio gera 65,5% da produção agrícola do país.

A Unión de Uniones mostra ainda a sua insatisfação com o propósito do Governo incentivar um menor consumo de carne, “alimento fundamental na dieta mediterrânica e que, além disso, é fonte de riqueza e dinamização das zonas que o o próprio governo quer promover”.

Aponta ainda incongruências causadas pelo “desconhecimento da realidade do sector”. “Falam em generalizar sistemas extensivos e pastoris, quando estão presentes em todo o território e os que vão desaparecendo é por falta de rentabilidade”.

Aqueles agricultores espanhóis realçam que a complexidade da realidade do mundo rural não é considerada no documento. “Hoje, a pecuária extensiva precisa de uma fase intensiva e a agricultura biológica que se pretende promover não é viável sem o estrume produzido nas explorações pecuárias, mas este Plano parece considerá-los como peças separadas”.

“O que os académicos deveriam nos responder é se até 2050 vamos continuar a receber por uva, cevada ou leite como agora, ou seja, ao mesmo preço de há 20 anos atrás”, concluem.

Plano Espanha 2050

Entre os objectivos do Plano Espanha 2050 encontram-se:

  • Reduzir emissões de gases de efeito de estufa em 90% até 2050, cumprindo com o compromisso de alcançar a neutralidade climática em meados do século (os 10% restantes resultarão da absorção dos sumidouros de carbono).
  • Impulsionar a transição hídrica como via essencial de adaptação às alterações climáticas, levando a uma redução de procura total de água de 5% em 2030 e de 15% em 2050.
  • Conseguir que a totalidade da energia eléctrica seja gerada mediante fontes renováveis em 2050, situando-se esta percentagem nos 74% em 2030.
  • Aumentar as superfícies florestais, com o fim de proteger a biodiversidade, melhorar a resiliência dos  ecossistemas e incrementar a capacidade de los sumideiros de carbono, essencial para alcançar a neutralidade climática em 2050. Espanha deverá adoptar uma taxa de reflorestação média de 20.000 hectares por ano durante o período 2021-2050.

Agricultura e Mar Actual

 
       
   
 

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