Editorial
O turismo, sempre o turismo, na boca de todos os políticos. “É a nossa principal fonte de rendimentos”, dizem. Pois, essa economia do “empregado de mesa” não deveria ser a aposta de Portugal, um País onde, apesar dos efeitos das alterações climáticas, da seca, os agricultores — os Homens que nos colocam comida na mesa — produzem aquilo que realmente se exporta: produtos agroalimentares.
Autoeuropa? Sim, exporta, depois de importar aquilo que precisa para montar os automóveis Volkswagen. Qual o valor líquido das exportações? Porque não podemos produzir as peças e materiais que a Autoeuropa precisa? Relembre-se que a empresa suspendeu a produção, em Agosto de 2023, devido a falta de peças de um fornecedor esloveno. Portugal é líder na indústria dos moldes (região de Leiria), não poderia fazer essas peças?
A TAP — esse buraco financeiro de mais de 3,2 mil milhões de euros — exporta o quê? Nunca percebi como pode o turismo ser considerado “exportação” (tirando os produtos consumidos a bordo dos aviões da TAP). Diga-se que a TAP só pode ser “exportadora” se os turistas tiverem alimentos portugueses para cá comerem (os empregados de mesa, já sabemos, são quase todos estrangeiros).
Portugal perdeu toda a capacidade de produção industrial desde 25 de Abril de 1974, que agora comemora os seus 50 anos. Perdemos a indústria naval, perdemos a frota pesqueira, perdemos o têxtil, e até perdemos parte do agronegócio artesanal, por exemplo nos doces de Portalegre, ou nos queijos de Nisa.
A economia do “empregado de mesa” não pode ser mais importante que o agronegócio. É a agricultura e o agronegócio que produz e exporta. Que tem valor acrescentado.
A Agricultura não “consome água”. Transforma a água em alimentos, para os portugueses e para o Mundo.
Não se compreende assim que o Governo, nas suas medidas para enfrentar seca no Algarve e Alentejo, decida uma redução de consumos agrícolas de água em 25%, quando esse corte no turismo é de apenas 15%, onde a actividade do golfe tem grande peso. E ao mesmo tempo anuncia medidas que só terão efeitos em futuras campanhas agrícolas (os alimentos não podem esperar na terra, sem água e mesmo com a mão-de-obra estrangeira maltratada).
Sim, é uma escolha política, entre a economia do empregado de mesa e a aposta no agronegócio de valor acrescentado, dinamizador das exportações, reais, líquidas.
Carlos Caldeira