A energia representa dois terços do custo total do regadio em Portugal e, com a actual escalada dos preços dos combustíveis e uma das facturas de electricidade mais caras da Europa, muitas explorações agrícolas correm o risco de encerrar o ano com resultados nulos ou negativos.
A situação foi denunciada numa conferência organizada a 7 de Setembro, na feira AgroGlobal, em Valada do Ribatejo, pela Fenareg — Federação Nacional de Regantes e Portugal e pelo COTR- Centro de Competências para o Regadio Nacional.
“Devido à subida dos preços do gasóleo — de mais de 50% entre Janeiro e Setembro de 2021 — e da electricidade, há sectores agrícolas que vão ter um resultado financeiro nulo ou negativo este ano”, reconheceu Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da CAP — Confederação dos Agricultores de Portugal.
Por outro lado, o regadio colectivo, que representa quase metade da área de regadio nacional, “suporta custos elevadíssimos com a energia, que chegam a 75% do valor do serviço de fornecimento de água aos agricultores”, refere uma nota de imprensa da Fenareg e do COTR.
Apoios públicos para instalação de equipamentos de produção de energia solar
Para aliviar tais custos, a Federação defende que “as associações de regantes sejam contempladas com apoios públicos para a instalação de equipamentos de produção de energia solar e que sejam implementadas comunidades de energia renovável na agricultura para gerir os excedentes, atingir melhores condições de venda, reduzir custos e emissões de carbono”.
A Federação sublinhou ainda durante a conferência a necessidade da criação de contratos sazonais de electricidade para a agricultura, situação que já existiu no passado em Portugal e que é uma realidade na vizinha Espanha.
Já Luís Mira Amaral, professor no Instituto Superior Técnico e ex-Ministro da Indústria e Energia, orador principal da conferência, exortou os agricultores a tornarem-se especialistas de energia: “os agricultores têm de ser agentes activos, investindo em produção própria de energia renovável, tornando-se energeticamente independentes da rede, através da produção em painéis fotovoltaicos ou associando-se entre si e constituindo comunidades locais de energia, em que uns produzem e outros consomem”.
Luís Mira Amaral lamentou que o Governo não tenha aliviado o imposto sobre os produtos petrolíferos num cenário de alta dos preços dos combustíveis e sugeriu que o Executivo invista as receitas das licenças de emissão de carbono, uma das principais fontes de financiamento do Fundo Ambiental, no abaixamento dos custos com a energia eléctrica. “A receita de CO2 aumentou muito e, por isso, deve ser injectada para baixar os custos da energia”, defendeu o ex-ministro.
Por sua vez, Rogério Ferreira, director-geral de Agricultura, afirmou que ao abrigo do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum, a vigorar a partir de 2023, “importa apoiar os investimentos para a produção de energia renovável e menos onerosa, avaliar e considerar elegível as medidas associadas ao regadio público na construção de centrais fotovoltaicas para novos regadios e regadios existentes e criar as condições para se atingir o regadio sustentável”.
O Bastonário da Ordem dos Engenheiros, Carlos Mineiro Aires, comentador na conferência, alertou que é fundamental “acautelar a soberania do País” no que respeita ao armazenamento de água para a agricultura, indústria e consumo urbano. “Estamos numa encruzilhada em que temos todos que pensar em conjunto e encontrar as melhores soluções para resolver os nossos problemas em casa, porque se formos contar com os outros se calhar as coisas correm-nos mal”, disse o engenheiro numa alusão à Convenção de Albufeira, acordo luso-espanhol sobre os rios internacionais.
Agricultura e Mar Actual