“As decisões políticas têm uma base muitíssimo urbana e esse é um dos nossos grandes desafios. A Europa não pode continuar a querer ser uma bolha no planeta, um lugar onde não fazemos nada porque compramos tudo feito. Temos que olhar para o que aconteceu com a Rússia e perceber que também na alimentação não podemos tornar-nos dependentes de outro país ou países”.
Quem o disse foi António Lopes Dias, director executivo da Anipla — Associação Nacional da Indústria para a Protecção das Plantas, no encerramento das V Jornadas de Homologação da Anipla, que se realizaram no passado dia 5 de Abril, no Auditório da Biblioteca da FCT — Faculdade de Ciências e Tecnologias.
Sobre a proposta do novo Regulamento sobre o Uso Sustentável de Produtos Fitofarmacêuticos, que será previsivelmente divulgado pela Comissão Europeia em Junho, António Lopes Dias deixou o alerta “este regulamento não foi adiado por acaso: com a fuga de informação, 12 países manifestaram-se radicalmente contra uma proposta que ainda nem foi apresentada, por isso, o que aí vem será duro e temos que estar preparados”.
Já Jaime Piçarra, secretário-geral da IACA — Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais, explica que para o sector “os tempos são incertos e importar tudo aquilo de que precisamos para alimentar os animais, seja soja, milho ou outros cereais, será um cenário insustentável. Nos próximos 2 a 3 anos vamos assistir a um cenário de tensão nos mercados, uma inflação que muitos jovens vão conhecer pela primeira vez, e por isso um cenário de dependência é tudo aquilo que deveríamos evitar para a nossa agricultura”.
O exemplo do olival
Razões pelas quais devemos olhar cada vez mais para exemplos de boas práticas em Portugal. Mariana Matos, secretária-geral da Casa do Azeite juntou-se ao debate para partilhar o seu testemunho e deixa uma recomendação: “é preciso aprender a multiplicar, com cada vez menos recursos. Ainda que vítima de uma enorme fustigação, o olival tem sido um caso paradigmático em Portugal, com uma extraordinária evolução, e exemplo de como com a incorporação de tecnologia, assente em regimes de produção integrada, se consegue com cada vez menos, recolher mais frutos. É sem dúvida um exemplo para onde outros sectores podem e devem olhar”.
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