Editorial
O líder partidário que destruiu o Ministério da Agricultura, por quem o ex-ministro Capoulas Santos tanto trabalhou e lutou, abre agora portas a uma coligação com o PAN – Pessoas-Animais-Natureza — que se assume como “o único partido animalista, não especista e ambientalista português”.
O PAN pede um Ministério; talvez o Ministério do Ambiente, Biodiversidade e Protecção Animal; ou o Ministério da Economia e das Alterações Climáticas. Ou mesmo o Ministério da “Economia de Bem-Estar e de Felicidade”.
A ser aceite, esta proposta poderia levar à aprovação de Orçamentos do Estado mas também à incoerência da existência de um Ministério da Agricultura.
Caro António Costa relembre: o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, de Capoulas Santos era isso mesmo: Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural. O Mundo Rural estava concentrado num só Ministério, e não disperso como agora
Capoulas Santos saiu de cena, possivelmente, por não concordar com a saída das Florestas para o Ambiente, que acabou por “ganhar” também a tutela dos animais de estimação. Com a “ambição” do PAN será que Portugal vai deixar de ter um Ministério ou, até, uma Secretaria de Estado da Agricultura?
Isso os resultados das eleições legislativas de 30 de Janeiro vão decidir.
E é sobre os possíveis resultados, de 30 de Janeiro, que os agricultores já se estão a manifestar e a tentar alterar a contagem dos votos. Estão contra um governo aliado do PAN.
A CAP — Confederação dos Agricultores de Portugal já apelou ao Mundo Rural que não vote no Partido Socialista por se mostrar disponível a coligação com o PAN. E garante: “da mesma forma procederá a CAP em caso de ser assumido, por qualquer outra força política, que o PAN possa ser parte de qualquer solução de governo para Portugal”.
O mesmo se passa com a Fencaça – Federação Portuguesa de Caça, com o seu presidente a dizer que o “perigo é eminente” e a aconselhar a leitura dos programas eleitorais, “contra o Mundo Rural, do PAN, BE e Livre”.
Mas os agricultores temem o PAN porquê?
Talvez porque nos governos de António Costa, apenas com deputados na Assembleia da República e sem lugares no Governo, tenha conseguido alcançar algumas das suas bandeiras e que a partir de 30 de Janeiro consiga levar avante muitas outras como:
- Eliminar apoios financeiros à pecuária e subsidiar produção de “carne cultivada”
- Fim das exportações de animais vivos
- Agricultura nas margens dos rios e ribeiros só pode ser biológica
- Identificar culturas agrícolas compatíveis com disponibilidade hídrica para os próximos 50 anos
- Suspensão transitória da instalação de novas explorações agrícolas no Sudoeste Alentejano;
- Tornar obrigatória a elaboração de Avaliação de Impacte Ambiental para explorações agrícolas intensivas ou superintensivas
- Eliminar a aplicação de fitofarmacêuticos na proximidade de zonas habitacionais
- Obrigatória a permanência dos vitelos junto das progenitoras durante os primeiros dois meses de vida
- Antecipar para 2023 a Directiva europeia relativa à utilização de gaiolas na actividade pecuária
- Implementar auditorias a todas as explorações pecuárias existentes no País, avaliando o cumprimento das normas ambientais e de bem-estar animal
- Proibir a mutilação de leitões, como o corte de cauda, a castração
- Abolir as touradas
- Abolir a caça
- Sector da caça a pagar “compensação pelos danos irreversíveis que causa à biodiversidade”
- Limitar a actividade cinegética na época de reprodução e desenvolvimento das crias do lobo e do lince ibérico
O contar de votos para garantir uma maioria absoluta que garanta a aprovação de Orçamentos do Estado não pode desvirtuar as ideias e ideais do Partido Socialista, um partido tão enraizado no Mundo Rural, que conta nas suas fileiras com Homens como Rui Nabeiro (da distrital de Portalegre), não pode esquecer o modo de vida dos não citadinos, dos agricultores e produtores pecuários .
Caro António Costa relembre: o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, de Capoulas Santos era isso mesmo: Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural. O Mundo Rural estava concentrado num só Ministério, e não disperso como agora.
Enfim, temos aqui um problema: as vacas não voam.
Senhor Agricultor, o voto, como o Simplex, está “na sua mão”.
Carlos Caldeira