A greve dos trabalhadores das administrações portuárias deixa, pelo menos, oito navios de matérias-primas para a alimentação animal com atrasos na descarga ou por descarregar, em Dezembro e Janeiro. Os custos adicionais das empresas importadoras com a sobreestadia dos barcos podem atingir, até final do mês de Dezembro, mais de 1 milhão de euros, valor que pode duplicar em Janeiro.
A IACA – Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais está preocupada com a repercussão desses custos no preço das matérias-primas para a produção de rações de animais que dão origem a carne, peixe, leite e ovos. E, sem serviços mínimos para a alimentação animal, apela ao Governo que adopte medidas para desconvocar a greve.
Em comunicado, a IACA refere que em Portugal as empresas produtoras de alimentos compostos para animais têm uma dependência de matérias-primas importadas de 80% e uma capacidade de armazenamento de cerca de 5 dias. Face aos mais de 10 dias de greve anunciados, a IACA estima que as empresas ficarão sem acesso a matérias-primas que garantam a continuidade da produção, situação que pode culminar na ruptura de stocks a disponibilizar aos produtores pecuários e na degradação dos cereais e oleaginosas por adiamento dos seus descarregamentos.
Prevê a Associação que um dos portos mais afectados seja o da Trafaria, porto por onde passam as principais matérias-primas usadas na produção de rações para animais. Cerca de 60% do milho e cerca de 50% da soja usada na produção rações para de animais que dão origem a géneros alimentícios entram em Portugal via porto da Trafaria.
“Lamentavelmente, e apesar das preocupações que fizemos chegar à tutela, não foram previstos pelo Ministério das Infra-estruturas e Habitação serviços mínimos para a descarga de granéis alimentares, ou seja, matérias-primas para a alimentação animal, pelo que a IACA apela ao Governo para que considere estas descargas nos serviços mínimos acautelados e desenvolva todas as iniciativas possíveis para desconvocar a greve”, diz Jaime Piçarra, secretário-geral da IACA.
A Associação antevê que a inacção do Estado, para além de criar maiores problemas à indústria da alimentação animal, coloque em causa a disponibilidade de carne, leite e ovos de origem nacional à mesa dos consumidores, sobretudo durante o início do novo ano.
“As empresas já estão tão sobrecarregadas de custos inflacionados que, naturalmente, vão repercutir este novo custo na cadeia de valor, situação que, inevitavelmente, vai chegar ao consumidor. Isto no caso de termos produtos para disponibilizar, o que não é garantido perante uma greve de tão longa duração”, afirma Jaime Piçarra.
E acrescenta que “a greve dos trabalhadores das Administrações Portuárias vem agravar as preocupações e os constrangimentos que a fileira já estava a sentir devido à greve dos inspectores sanitários, acontecendo tudo isto num contexto marcado pelos elevados preços da energia e das matérias-primas. Não prevemos o melhor para o início do novo ano. Assim vai ser difícil travar a inflação”.
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