O extracto de camarinha, uma espécie endémica da Península Ibérica, poderá ter propriedades anti-cancerígenas, revelam os primeiros resultados de um estudo liderado por uma equipa da Unidade de Investigação e Desenvolvimento (I&D) Química-Física Molecular, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).
O estudo foi realizado no âmbito das actividades previstas no projecto IDEAS4life, com financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), cuja equipa conta com a participação de investigadores da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, através da REQUIMTE (Rede de Química e Tecnologia), e do Instituto Superior de Agronomia (ISA) da Universidade de Lisboa (UL).
Apesar de ser abundante na orla marítima portuguesa, a camarinha está ainda por explorar e a literatura científica sobre a espécie é relativamente reduzida
Nas várias experiências realizadas em linhas celulares de cancro do cólon (HT29), observou-se que “extractos de Corema album [nome científico da camarinha] conseguem inibir a proliferação deste tipo de células cancerígenas”, indicam Aida Moreira da Silva e Maria João Barroca, coordenadoras do estudo.
As investigadoras da Unidade de Química-Física Molecular da FCTUC e docentes da Escola Superior Agrária de Coimbra sublinham o facto do extracto obtido a partir das folhas da planta (camarinheira) se ter mostrado “mais eficaz do que propriamente o extracto das bagas de camarinha, o que é que muito interessante, atendendo a que as folhas existem durante todo o ano, enquanto as bagas são sazonais”. De modo a obter o máximo de informação sobre o comportamento dos extractos, foram aplicadas várias técnicas físico-químicas, entre as quais espectroscopia vibracional: espectroscopia de Raman e de Infravermelho.
Equipa alarga testes in vitro
Perante estes resultados promissores, a equipa tenciona agora alargar os testes in vitro, aplicando os extractos em células de outros tipos de cancro. Além disso, “estamos a explorar as várias partes da camarinha e da camarinheira. Mesmo dentro do fruto estamos a explorar evidências e comportamentos que nos possam fornecer informação para eventuais futuros fármacos”, avançam Aida Moreira Silva e Maria João Barroca.
“Pretendemos recuperar estas bagas ancestrais, que eram usadas como anti-pirético e vermicida”, afirmam as investigadoras, adiantando que também vão explorar a vertente gastronómica, tendo já recuperado várias receitas antigas, para que, “por um lado, não se perca este património e, por outro, possa contribuir para a subsistência de alguns agricultores da orla marítima portuguesa”.
Apesar de ser abundante na orla marítima portuguesa, a camarinha está ainda por explorar e a literatura científica sobre a espécie é relativamente reduzida. Este estudo está a ser desenvolvido no âmbito de um projecto mais vasto (IDEAS4life) que pretende valorizar recursos marinhos endógenos, obtidos a partir de plantas marítimas, incluindo as plantas halófitas. Recentemente, um dos artigos científicos produzidos pela equipa foi tema de capa da revista científica Journal of Raman Spectroscopy.
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