Uma equipa internacional de investigadores acaba de desvendar os códigos de barras de ADN das abelhas ibéricas, essenciais à monitorização correcta destas espécies. Fazem parte desta equipa 9 portugueses.
Em tempos de crise de biodiversidade é urgente conhecer as espécies existentes e disponibilizar ferramentas que permitam a monitorização das suas populações, assim como perceber as relações entre espécies e identificar os factores de ameaça à sua conservação. Os códigos de barras de ADN são sequências curtas de material genético (os nucleótidos do ADN) que permitem distinguir as espécies, tal como os códigos de barras permitem distinguir os produtos nos supermercados, refere a equipa de investigadores, em nota de imprensa.
Fazem parte dest equipa os portugueses: Hugo Gaspar, do Centre for Functional Ecology, Associate Laboratory TERRA; Andreia Penado, da Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica; Teresa Luísa Silva, do Biopolis Program in Genomics, Biodiversity and Land Planning, do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto (CIBIO-InBIO); Vanessa A. Mata, do CIBIO; Joana Veríssimo, também do CIBIO; Sílvia Castro, do TERRA; João Loureiro, também do TERRA; Pedro Beja, do Biopolis; e de Sónia Ferreira (Biopolis).
O conjunto de dados agora publicado contém 514 espécies e 1.059 exemplares. As espécies incluídas representam cerca de 47% da diversidade de espécies de abelhas ibéricas e 21% da diversidade de espécies endémicas, complementando os dados pré-existentes, adianta a mesma nota.
Se considerarmos as abelhas presentes em Portugal, passam-se agora a conhecer os códigos de barras de ADN de 91% das espécies. Denis Michez, entomólogo da Universidade de Mons refere que “dados de taxonomia, distribuição e identificação de espécies são os elementos fundamentais a desenvolver para monitorar correctamente as espécies”.
Polinizadores
As abelhas estão entre os insectos mais familiares e o seu papel como polinizadores é amplamente reconhecido. Ao visitar flores para colectar pólen e néctar, as abelhas possibilitam a reprodução de centenas de milhares de espécies de plantas com flores, incluindo muitas espécies agrícolas que são importantes para a dieta humana.
Os espécimes, avança a mesma nota, foram colectados entre 2014 e 2022 e estão depositados em 4 colecções, uma nos Países Baixos, no Centro de Biodiversidade Naturalis, e em três colecções em Portugal: a colecção do FLOWer Lab da Universidade de Coimbra, a colecção do Museu de História Natural e Ciência da Universidade do Porto (MHNC-UP) e na colecção de referência InBIO Barcoding Initiative (IBI) da Associação Biopolis (Vairão, Portugal).
“É fulcral a existência de colecções entomológicas de referência acessíveis às quais os investigadores possam recorrer para estudo e comparação de resultados” refere Sónia Ferreira, investigadora do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Biopolis-CIBIO) da Universidade do Porto.
Com o lançamento da iniciativa da Comissão Europeia para proteger os polinizadores europeus, tiveram início vários projectos europeus focados em polinizadores, incluindo as abelhas. Os trabalhos desenvolvidos decorrem no contexto do projecto “Genómica da Biodiversidade da Europa” (Biodiversity Genomics Europe, em inglês), o maior projecto europeu ligado à genómica para estudar a biodiversidade e está interligado a outros projectos nacionais como o CULTIVAR, e a projectos europeus em curso sobre taxonomia (Orbit, Arcade), lista vermelha (Pulse) e tendências populacionais (Safeguard), realça a mesma nota.
Hotspot global para diversidade de abelhas
A Península Ibérica é reconhecida como um hotspot global para a diversidade de abelhas na bacia do Mediterrâneo. Mais de 1.100 espécies de abelhas são encontradas neste território, o que corresponde aproximadamente a 5% das 20.000 espécies conhecidas globalmente. Cerca de 100 destas espécies são endémicas, o que significa que não podem ser encontradas em nenhum outro lugar do Mundo.
Pela sua elevada diversidade, as espécies de abelhas são difíceis de identificar na Península Ibérica e existem (ainda) poucos recursos de identificação publicados. “A dificuldade na sua identificação tem impedido a compreensão das suas comunidades e dos desafios que enfrentam” afirma Thomas Wood, investigador do Centro de Biodiversidade Naturalis e que estuda as abelhas ibéricas desde 2014.
Apesar deste importante contributo, há ainda mais de meia centena de espécies de abelhas não representadas nas colecções de referência de códigos de barras de DNA. O trabalho iniciado em 2023, e liderado pelo investigador Hugo Gaspar do FLOWer Lab da Universidade de Coimbra, foca no conhecimento sobre a distribuição e a identificação das abelhas portuguesas. O projecto ARCADE incluirá a análise de milhares de espécimes em colecções nacionais históricas e contemporâneas, e a amostragem em habitats favoráveis um pouco por todo o País.
Estes códigos foram publicados num artigo na revista Biodiversity Data Journal e estão agora acessíveis publicamente através da plataforma digital Barcode of Life Data System (BOLD).
Consulte o artigo científico na integra aqui.
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