A Magos Irrigation Systems (Magos IS) e os seus parceiros do consórcio do ensaio de produção de arroz com rega gota-a-gota — Rivulis, BASF, ADP Fertilizantes e TerraPro —, apresentaram no dia 12 de Janeiro, em Salvaterra de Magos, os resultados obtidos no campo demonstrativo da AgroGlobal.
A produtividade média da parcela de arroz, cultivado em terreno com pendente, não nivelado e sem canteiros, foi de 5.723,4 kg/hectare, idêntica à média nacional da cultura do arroz (5.707 kg/hectare, em 2022, segundo dados do INE). O arroz foi colhido com 18,1% de humidade e obteve 67% de rendimento industrial, revela uma nota de imprensa conjunta dos responsáveis pelo ensaio.
E adianta que o consumo de água pela cultura foi de 9.409 m³/hectare, representando uma poupança de 6% a 37% face ao sistema de rega convencional por alagamento, cujo consumo oscila entre 10.000 m³/ha e 15.000 m³/ha. Concluiu-se também que a regulação térmica das plantas de arroz através da água é possível com a rega gota-a-gota, através de uma adequada gestão da dotação e duração das regas.
Já a densidade de sementeira (cruzada) foi de 140 kg/hectare. A rega da cultura foi realizada com fita T-Tape 508 20.500, do fabricante Rivulis, com espaçamento de 20 cm entre gotejadores, débito de 1L/hora, e 75 cm de distância entre linhas de rega.
O sistema de rega foi dimensionado e instalado pela Magos IS. A TerraPro realizou o mapeamento da condutividade eléctrica do solo antes da instalação da cultura, e ao longo do ciclo cultural monitorizou o teor de humidade e a temperatura do solo, com uma sonda de 6 sensores até 60 cms de profundidade, e controlou as dotações de rega, através de um contador volumétrico.
“A fertilização da cultura através da água de rega permite maior precisão na distribuição dos nutrientes às plantas e melhor repartição da fertilização ao longo do ciclo cultural, reduzindo as perdas de nutrientes, diminuindo a contaminação do solo e dos lençóis freáticos, e melhorando a pegada de carbono da cultura, pela redução de passagens com máquinas. O programa de fertilização da ADP no ensaio incluiu o adubo sólido Plusmaster, o adubo líquido Nutrifluid Impulse e o biofertilizante Neoforce”, acrescenta a mesma nota.
Controlo das infestantes
Os resultados do ensaio demonstram que há um bom controlo das infestantes com o tipo de semente e os herbicidas utilizados. Tratou-se da variedade PVL136IT, arroz do tipo agulha, com tecnologia Provisia da BASF, que torna as plantas resistentes à acção do herbicida Verresta. Este foi um dos herbicidas aplicados, porque actua de forma eficaz no controlo das infestantes sem necessitar do auxílio da lâmina de água.
O consórcio do ensaio considera que as tecnologias testadas abrem a possibilidade de expandir a cultura do arroz a novas áreas de produção em Portugal, integrando o arroz numa rotação de culturas, aconselhável para o uso sustentável do solo. O ensaio “demonstrou que é possível produzir arroz com boa produtividade em terrenos que nunca produziram arroz e que não são nivelados”.
A organização de produtores Orivárzea, que desde 2022 participa nos ensaios de produção de arroz com rega gota-a-gota numa parcela em Pancas, Samora Correia, considera que esta é mais uma ferramenta que os agricultores têm ao dispor e afirma é preciso continuar a monitorizar os resultados nos próximos anos de ensaio. “Este sistema requer a adaptação do agricultor à tecnologia da gota-a-gota, que é amigável e ecológica, porque permite poupar água”, afirma Joaquim Bravo, director de produção da Orivárzea.
Poupança de 45% de água na Orivárzea
No primeiro ano de ensaio em Pancas, o sistema gota-a-gota permitiu poupar 45% de água face à modalidade testemunha (rega por alagamento), embora com uma redução de 48% na produção de arroz, e em 2023, a poupança de água atingiu os 47%, com uma redução de 16% na produção face a testemunha.
Apesar de a rega gota-a-gota representar um aumento do custo da conta de cultura, que pode oscilar entre mais 500 e 700 euros por hectare, os benefícios desta tecnologia são evidentes numa situação de aumento do preço da água por escassez deste recurso, como a que já se vive no Sul Espanha, que está em situação de seca há sete anos consecutivos, e foi obrigada a reduzir as áreas cultivadas. Na Andaluzia, a área cultivada com arroz reduziu-se em cerca de 10.000 hectares num só ano, de 12.695 hectares, em 2022, passou para 1.817 hectares, em 2023, realça a mesma nota.
O ensaio de rega gota-a-gota na cultura do arroz vai prosseguir nos próximos anos nos campos demonstrativos da AgroGlobal e será alargado a outras regiões produtoras de arroz, nomeadamente, às bacias do Sado e do Mondego, no intuito continuar a testar a tecnologia e optimizar as suas variáveis para que a cultura do arroz seja viável em novas áreas agrícolas e nas actuais, num cenário futuro de maior escassez de água.
Agricultura e Mar