Artigo de opinião do site A Cientista Agrícola
Autor do artigo: José Pena,Estudante de Agronomia e Técnico Superior de Mecanização e Automação Agrícola
Contextualização
As práticas agrícolas ocuparam sempre um lugar importante na história do homem tratando-se de um passo decisivo para o desenvolvimento humano e para o melhoramento do padrão de vida. Inicialmente a agricultura praticada era de subsistência, praticada ao nível familiar e de acordo com as necessidades destes, enquanto que futuramente a agricultura intensificou-se, de forma a dar resposta aos mercados de procura e oferta de produtos animais e vegetais para qual muito contribui a mecanização agrícola, a utilização de produtos químicos para a fertilização e tecnologia associada a problemas.
Se por um lado se atingiram altos índices de produtividade pelo outro levantaram-se problemas do valor da fertilidade do solo ou do tempo de produção. Um dos problemas mais importantes que é transversal à agricultura está associada à alterações climáticas e o futuro passa como continuar a produzir mitigando os seus efeitos, sobretudo negativos, para o agricultor.
Fonte da imagem: Marketing Agrícola
O efeito das alterações climáticas no sector agrícola
As condições meteorológicas numa determinada região são determinadas por múltiplos factores e processos que interagem entre si, e as alterações climáticas não são mais que perturbações desses sistemas climáticos, complexos e dinâmicos, sendo “normais” e fazendo parte da evolução do clima.
As alterações climáticas apresentam na sua generalidade elevados custos, económicos, ambientais e sociais mas os sectores mais influenciados e prejudicados são a agricultura e as florestas, por se desenvolverem maioritariamente ao ar livre e com isso dependerem das condições meteorológicas, para o qual começou a ser mesmo uma necessidade implementar medidas correctivas e de resposta a situações de emergência.
Fonte da imagem: ONU Brasil
Impacto das alterações climáticas no sector agrícola
As alterações climáticas têm um forte impacto na actividade agrícola e apresentam como principais efeitos:
- Os impactos do aquecimento global na fenologia, reduzindo a duração do ciclo das culturas e, portanto, a produtividade.
- O aumento de CO2 na eficiência fotossintética das culturas, que por sua vez aumenta a taxa fotossintética e, portanto, a produtividade. O aumento de CO2 teve origem sobretudo nos combustíveis fósseis e na desflorestação, que liberta CO2 e reduz a sua assimilação pelas plantas. Algumas culturas respondem positivamente à elevação, verificando-se aumentos de produtividade, mas varia de espécie para espécie, estado fenológico e gestão da cultura, em particular em relação à água e ao azoto, contudo alterações na temperatura e precipitação vão limitar o efeito positivo.
Fonte da imagem: Agrotec
Medidas de mitigação dos efeitos das alterações climáticas no sector agrícola
Existem cada vez mais argumentos e provas físicas o clima está a mudar: os fenómenos climáticos extremos são clari-evidentes, inevitáveis e irão manter-se durante décadas. Têm-se falado da mitigação dos seus efeitos, mas não é possível evitar todos os impactos biofísicos e socioeconómicos das alterações do clima. Podemos lançar medidas de mitigação das alterações climáticas como:
- A redução de emissões de GEE;
- Gestão das culturas;
- Gestão das pastagens/melhoramento das pastagens;
- Gestão de solos orgânicos;
- Restauro de solos degradados;
- Gestão da produção animal;
- Gestão de efluentes em explorações animais;
- Melhoria da gestão e armazenamento, digestão anaeróbia, utilização como fertilizante – os efluentes podem libertar para a atmosfera quantidades significativas de CH4 e N2O
- Mobilização do solo e gestão dos resíduos – Os sistemas de mobilização reduzida ou nula promovem o sequestro do carbono.
Alterações climáticas: é necessário uma resposta urgente!
A espectar o futuro a palavra de ordem será adaptação e a resposta necessária e urgente, para em cenários de médio-prazo, envolver o conhecimento e recursos necessários para as estratégias de adaptação. Assim as medidas de adaptação às alterações climáticas passam por:
- Alterar variedades ou culturas para outras com necessidades térmicas e de vernalização mais apropriadas e/ou com melhor resistência ao stress térmico e hídrico
- Utilizar pastagens que privilegiem a consociação de diversas espécies
- Alterar ou adaptar o sistema de produção
Contudo os processos naturais como a fotossíntese, a respiração, e as trocas de CO2 à superfície dos oceanos a resultam em fluxos de enormes proporções de CO2 entre os continentes e a atmosfera e entre os oceanos e a atmosfera. Uma grande ameaça futura são as emissões de gases de efeito de estufa que no futuro serão o resultado de complexos sistemas dinâmicos, determinados pelo desenvolvimento demográfico, o desenvolvimento sócio-económico e a inovação tecnológica.
Fonte da imagem: | Confederação dos Agricultores de Portugal
Portugal e as medidas para mitigar os efeitos das alterações climáticas
Portugal desde cedo adoptou medidas para mitigar os efeitos que a poluição causava, e continua a causar, lançando mesmo o Programa Nacional para as Alterações Climáticas para o período 2013-2020 (PNAC 2020) que visa estabelecer políticas, medidas e instrumentos com o objectivo de dar resposta à limitação de emissões de gases com efeito de estufa. Apesar de este e outros programas de âmbito nacional e ou europeu revelem alguma eficácia e cumpram os objectivos a que se propõem, as alterações climáticas são inevitáveis sendo necessário traçar estratégias e medidas de adaptação ao seu impacto.
Assim ao longo das últimas décadas intensificou-se o estudo sobre o contributo da agricultura para as alterações climáticas, pois esta apresenta aspectos positivos e negativos nesta temática. É mesmo possível afirmar que as alterações climáticas são uma das muitas pressões a que a agricultura está sujeita, perante o crescimento da procura e da competição pelos recursos, a produção e o consumo de alimentos interliga agricultura com muitos outros sectores.
Fonte da imagem: Food And Nutrition Awards
É evidente que o mundo necessitará de produzir mais alimentos e que os principais recursos são limitados, mas questionar “Quem pode produzir, o que pode produzir e onde pode” é uma questão controversa. A abordagem política coerente e integrada em matéria de alterações climáticas irá certamente provar a necessidade de aumentar a produtividade, reduzindo a nossa dependência dos produtos agroquímicos, e diminuir o desperdício alimentar. O papel fundamental é dos agricultores que desempenham a manutenção e a gestão da biodiversidade e são um elemento indispensável da economia rural.
Para finalizar a promoção do conhecimento sobre as alterações deve elucidar acerca dos seus potenciais riscos e o impacto e consequências para as pessoas e bens incluindo. Não esquecendo os eventos meteorológicos extremos, cada vez mais frequentes, devemos esperar a implementação de medidas de adaptação para moderarmos os seus efeitos directos. A capacitação e monitorização associadas às alterações climáticas deve também ligar políticas de ordenamento do território, sobretudo urbano, e tornar a expansão sustentável.