A Plataforma Transgénicos Fora (PTF) acusa Portugal e a Comissão Europeia de fazerem “lóbi pela indústria agroquímica”, “pressão para aprovar novos OGM [Organismos Geneticamente Modificados] e glifosato”. A acusação é feita em comunicado de imprensa a duas horas do arranque da conferência “A importância da biotecnologia para a sustentabilidade da agricultura”, promovida pela IACA – Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais, em conjunto com o InnovPlantProtect (InPP) e o CiB – Centro de Informação de Biotecnologia.
Um encontro — no Centro Cultural de Belém (CCB), 17 de Outubro em Lisboa —, que conta com a presença da DGAV — Direcção Geral da Alimentação e Veterinária e do secretário de Estado da Agricultura, Gonçalo Rodrigues.
“Hoje, no Centro Cultural de Belém, a indústria agroquímica, juntamente com membros do Estado e Governo português, irão, mais uma vez, defender a ligação infundada da sustentabilidade dos sistemas agroalimentares com os Organismos Geneticamente Modificados (OGM) e o herbicida glifosato”, refere o comunicado da Plataforma.
E realça que “este evento acontece dias depois de a renovação da autorização do herbicida glifosato proposta pela Comissão Europeia e apoiada por Portugal, ter ido a votos no Conselho Europeu, sem reunir a maioria qualificada necessária para ser aprovada. Ao mesmo tempo, a discussão da proposta de lei para a desregulamentação de OGM produzidos pelas chamadas novas técnicas genómicas (Novos OGM), alguns dos quais serão desenvolvidos para resistir ao glifosato, também está a revelar o fosso crescente entre uma minoria entusiasta e uma ala crítica nos Estados-membros”.
“Porém, mesmo que o glifosato não reúna votos suficientes na segunda votação, prevista para Novembro, a legislação prevê que a Comissão Europeia tenha a última palavra, pelo que antecipamos a sua reautorização, pese embora por menos anos”, acrescenta o mesmo comunicado.
Para a Plataforma Transgénicos Fora, “a verificar-se, comprovará a priorização dos altos interesses comerciais pela Comissão Europeia sobre os agricultores e o clima, ignorando por completo as provas científicas actuais, relegando para segundo plano a saúde pública e a preservação dos ecossistemas, fundamentais à vida. A primazia dada à indústria da agroquímica e biotecnologia está bem patente no evento de hoje no CCB”.
Renovação do glifosato
Jorge Ferreira da PTF explica que “esta intenção de renovar a licença do herbicida glifosato acompanha em paralelo a actual tentativa da Comissão Europeia de desregulamentar os OGM derivados de novas técnicas genómicas na Europa, cuja proposta está em cima da mesa desde 5 de Julho. Os grandes interesses económicos da indústria agroquímica, ciente da crescente consciência dos consumidores europeus acerca dos perigos dos OGM nos campos e nos pratos, procuram simplificar a regulamentação para chegarem mais facilmente aos mercados”.
“Tentam agora retratar estes novos OGM como algo equiparado à criação natural e por isso isento de rotulagem, rastreabilidade e avaliação de risco. Trata-se de mais uma acção de usurpação de direitos e manipulação de informação de uma ciência submetida a altos interesses económicos a qualquer custo, que numa campanha de desinformação manipuladora visa permitir a circulação dos seus produtos sem controlo na Europa”, acrescenta Jorge Ferreira.
Ainda segundo o comunicado da PTF, “os resultados do estudo realizado pelo Instituto Público Francês de Pesquisa Médica (INSERM), bem como um outro deste ano do Instituto Nacional para o Cancro dos EUA (NIH), colocam em causa a afirmação da inocuidade do glifosato”.
E garante a Plataforma que “há alternativas viáveis para a gestão de ervas descontroladas na agricultura que não envolvem a aplicação de glifosato ou de qualquer outro herbicida. Práticas agrícolas sustentáveis, como a rotação de culturas, culturas de cobertura do solo, palhada vegetal e métodos modernos de monda mecânica ou térmica, já permitem a adopção de uma agricultura mais ecológica. Estes modos de fazer agricultura têm a capacidade de produzir os alimentos que o país precisa, se apoiados com medidas de política agrícola ajustadas”.
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