Início / Agenda / Rui Garrido, presidente da Comissão Organizadora: “Vamos ter em formato digital uma Ovibeja que recria o ambiente da nossa feira de sempre”

Rui Garrido, presidente da Comissão Organizadora: “Vamos ter em formato digital uma Ovibeja que recria o ambiente da nossa feira de sempre”

A 37ª Ovibeja, exposição agrícola, pecuária, institucional, comercial e alimentar, organizada pela ACOS – Associação de Agricultores do Sul, realiza-se a 22 e 23 de Abril, este ano em formato digital.

É nesse âmbito que o agriculturaemar.com aqui transcreve a entrevista, da autoria do Gabinete de Imprensa da 37ª Ovibeja, a Rui Garrido, presidente da Comissão Organizadora da Feira:

“Percebemos que podemos recorrer às potencialidades das novas tecnologias para fazermos uma Ovibeja com características muito semelhantes à nossa feira de sempre. Não podíamos deixar passar mais um ano sem fazer a Ovibeja. Porque a nossa feira sempre soube inovar, superando os obstáculos”. As afirmações são de Rui Garrido, presidente da ACOS e da Comissão Organizadora da Feira.

Por isso, este ano, a Ovibeja vai ter uma versão em formato digital, com pavilhões que podem ser visitados por todos, ao ritmo de cada um, com produtos em exposição e para venda e com espaços onde se realizam espectáculos e conferências. Tudo durante dois dias, 22 e 23 de Abril, uma quinta e sexta-feira.

Para a sessão da abertura está prevista a participação do Presidente da República. A escassos dias desta 37ª Ovibeja, subordinada ao tema da “Agricultura ConsCiência”, que procura debater a actividade agrícola enquanto um sector sustentável e apoiado em dados científicos, a adesão dos expositores superou as expectativas em torno de uma Ovibeja que, para além de continuar a afirmar-se como “todo o Alentejo deste mundo”, procura também este ano vencer as barreiras do espaço físico e estar à distância de apenas um clique de todos os visitantes, estejam estes em que parte do mundo estiverem.

No ano passado devido às restrições causadas pela Covid-19 a Ovibeja 2020 foi cancelada pela organização. Este ano, ainda com as restrições impostas pela pandemia a impedirem a realização física da Ovibeja, a ACOS optou por realizá-la de forma digital. Porque é que optaram por esta alternativa?

Rui Garrido – É exactamente essa a questão. Há um ano fomos forçados a cancelar a Ovibeja devido à pandemia, por razões de saúde pública. Não se sabia muita coisa acerca do vírus, as pessoas tinham medo. Entretanto percebemos que podemos recorrer às potencialidades das novas tecnologias para fazermos uma Ovibeja com características muito semelhantes à nossa feira de sempre. Não podíamos deixar passar mais um ano sem realizar a Ovibeja. Porque a nossa feira sempre soube inovar, superando os obstáculos. A verdade é que a vida no campo não parou e os agricultores continuam a produzir alimentos que chegam todos os dias às nossas mesas. Mesmo as empresas, as marcas e as pessoas se reinventaram neste mundo em mudança. A Ovibeja, que é feita pela comunidade, acompanha e reflete esta procura de novos caminhos.

Mas como acertaram neste formato?

Começámos a pensar como poderíamos fazer para relembrar que a Ovibeja existe e tem uma voz ativa. Pensámos inicialmente fazer uns webinars, umas conferências dedicadas a alguns dos temas que mais nos preocupam, mas concluímos que não podia ser só isso se queríamos a adesão das pessoas e que elas visitassem o site. E queríamos que os nossos habituais expositores pudessem também participar.

Procuravam uma maior interacção com os expositores e com o público em geral. Era isso?

Sim. Queríamos uma coisa mais dinâmica. Existem plataformas na internet que possibilitam essa interacção e decidimos reproduzir digitalmente o nosso espaço habitual de exposições, pavilhão por pavilhão, desde a entrada da feira, até ao Pavilhão Institucional, Pavilhão do Gado, dos Sabores, do Artesanato, etc. , abarcando todas as áreas. Nestes pavilhões vamos ter, como habitualmente, os expositores. Esta plataforma a 3 dimensões permite-nos vender espaços e, para isso, criámos diferentes stands tipo, uns com mais aplicações e outros com menos, que também custarão quantias diferentes conforme as possibilidades que apresentam. Cada empresa escolheu o tipo de stand preferido e o visitante pode percorrer virtualmente esses pavilhões, como o faria de forma física, ver os stands, entrar neles, sair, mover-se conforme achar melhor. A plataforma permite isso tudo e, também, fazer negócios com os expositores a mostrarem e a venderem os seus produtos, através de links próprios.

Tudo isso se vai processar, no entanto, apenas durante dois dias, 22 e 23 de Abril, uma quinta e sexta-feira.

Sim. São dois dias com muitas dinâmicas e muita animação. Teremos também um desafio dirigidos aos jovens agricultores a nível internacional, para o qual já temos 14 equipas inscritas. Durante estes dias teremos também no site da Ovibeja muitos outros eventos, desde reportagens em directo, conteúdos em vídeo, de modo a que esta feira virtual mantenha as características de uma feira agrícola que leva o campo e a agricultura até às pessoas.
Temos também agendado um momento musical promissor, chama-se Ovicante – o Cante alentejano em concerto unplugged. São novas vozes do cante, jovens talentos da região que também cantam outras sonoridades, desde o jazz, ao fado e onde o improviso os levar. Num só concerto participam vários artistas; Buba e Eduardo Espinho, Trigacheiro, João Maria Baião e Miguel Costa, Ana Sofia Varela, Jorge Benvinda e Jorge Serafim.

O Concurso de Azeites está de volta

E este ano volta o Concurso de Azeites.

O Concurso Internacional de Azeites Virgem Extra, que continua a ser apoiado pela Caixa de Crédito Agrícola, está, mais uma vez este ano, classificado como um dos melhores concursos de azeite do mundo. A edição do ano passado foi cancelada, mas decidimos retomá-lo este ano sendo esta a décima edição. Ainda por efeitos da pandemia, soubemos agora que temos de adiar as provas para classificação dos azeites a concurso, previstas para o período de 16 a 18 de Abril . A prova dos azeites, ficou, por isso, adiada para depois do desconfinamento geral, a partir do dia 3 de Maio. A data e o formato da cerimónia de entrega dos prémios, que estava previsto acontecer no decorrer da Ovibeja, serão anunciados em breve.

Mesmo com a pandemia estiveram a concurso muitas amostras de azeite?

Recebemos 138 amostras, o que é muito bom nestas circunstâncias. Curiosamente, este ano recebemos amostras de países de onde nunca tinham vindo, nomeadamente do Brasil e de outros dois ou três países que nunca tinham concorrido e que concorrem agora pela primeira vez.

Agricultura ConsCiência

Quanto às conferências que temas vão ser abordados?

É tradição, durante a Ovibeja, a abordagem de temas que preocupam não só a agricultura regional, mas também nacional. E assim será também nesta edição virtual. A necessidade urgente de debater questões inadiáveis e apresentá-las às instituições decisoras, foi uma das razões que nos fez organizar esta edição da Ovibeja. Seja à distância, seja no terreno, é indiscutível que é na Ovibeja que se tomam as decisões políticas mais importantes da agricultura do Alentejo.

Quanto às conferências há uma grande aposta nos temas que se revelam mais importantes no âmbito da agricultura nacional e do Alentejo, e que estão alinhados com o tema desta edição da feira “Agricultura ConsCiência”. Vamos falar da sustentabilidade dos sistemas agro-silvo-pastoris, da sustentabilidade do sector do vinho e da sustentabilidade do olival e do azeite, com dinâmicas cada vez maiores na nossa região. No caso do olival, vamos olhar sobretudo para o olival de sequeiro, o olival tradicional que neste momento tem grandes problemas para sobreviver. Para isso convidámos um consultor espanhol, Juan Vilar, que conhece muito bem a nossa realidade.

Estão agendados também webinars dedicados às culturas de sequeiro e à floresta, assim como o tema da PAC no pós 2022. E regadio. Vamos recolher contributos de experiências europeias e vamos falar do enquadramento e de diferentes visões sobre o regadio a partir de Alqueva.

O lema desta 37ª Ovibeja – “Agricultura ConsCiência” – continua a ser o mesmo proposto para a Ovibeja de 2020 que não se chegou a realizar.

Sim. Vamos abordar o tema da “Agricultura ConsCiência” em várias vertentes. Uma agricultura Consciência é uma agricultura sustentável, que hoje em dia deve ser uma prioridade, não só no sector agrícola, mas em todos os sectores da sociedade. Vamos reflectir sobre as práticas mais adequadas a uma agricultura sustentável com recurso aos ensinamentos da ciência, às novas tecnologias e ao desempenho dos agricultores na defesa e protecção do seu posto de trabalho. Isto aplica-se tanto à agricultura de regadio, como à de sequeiro que, do ponto de vista da sustentabilidade está muito ameaçada pelos fenómenos das alterações climáticas, que vai ser abordado numa exposição temática: Terra – agricultura e alterações climáticas.

Qual tem sido a adesão dos expositores e dos patrocinadores a esta Ovibeja virtual?

Os nossos patrocinadores aderiram muito bem e tivemos uma adesão maior do que estávamos à espera por parte dos expositores. É certo que os custos são incomparavelmente mais baixos, e a possibilidade de terem uma plataforma para dinamizar as marcas no meio digital numa altura em que têm menos oportunidades comerciais fê-los aderir a este desafio.

E, este ano, a Ovibeja não vai ter entradas pagas…

Este ano não haverá entradas pagas… Pelo contrário, procurámos criar uma plataforma virtual em que o acesso fosse o mais simples possível. Não há inscrições, nem links de acesso para os visitantes. As pessoas vão ao site da Ovibeja, entram, fazem a visita virtual e movem-se à sua vontade.

A única porta de entrada é o site da Ovibeja.

É isso mesmo. De uma forma simples em www.ovibeja.pt podem visitar os diferentes espaços, que são muitos, assistir a eventos em directo, desde as conferências ou webinars, até muitas outras iniciativas que vão desde a gastronomia, à música, pequenos apontamentos de reportagem que vão ser disponibilizados na TV Ovibeja.

Tradicionalmente a Ovibeja tem sido importante por trazer à região um conjunto de políticos e personalidades com poder decisório nas mais variadas áreas da sociedade e a quem os agricultores e a população da região colocam, de forma directa, os seus problemas. Este formato digital vai dificultar esse contacto. Está prevista a participação, por exemplo, nalgum momento desta 37ª Ovibeja, de figuras de topo da hierarquia política?

Sim. Esta Ovibeja, embora neste formato, vai ter uma sessão de abertura onde contamos já com a participação do senhor Presidente da República, a quem vai caber o discurso de abertura. O senhor Secretário de Estado da Agricultura fará a abertura do colóquio sobre o olival e o azeite, enquanto que a senhora Ministra da Agricultura, procederá ao encerramento da sessão sobre o regadio.

Para os nossos webinars, que vão decorrer em directo da feira, temos confirmada a presença de responsáveis de organismos públicos e da tutela que vão apresentar os seus pontos de vista mas, principalmente, ouvir o que os representantes dos agricultores têm para dizer.

Esta Ovibeja será, toda ela, apenas digital ou haverá sessões presenciais?

Vamos tentar, e antevendo-se já alguma abertura, realizar algumas sessões presenciais, convidando umas tantas pessoas para participarem directamente nalgumas actividades. As sessões que vão ser emitidas em directo, terão lugar no auditório do NERBE e poderemos convidar algumas pessoas. Não muita gente. Talvez 30 ou 40 pessoas e não mais do que isso. Mas, tudo isto, dependerá do estado do confinamento, no concelho de Beja.

Alguns sectores têm resistido à crise

Há um pouco mais de um ano que o mundo vive esta situação de pandemia. Todos os sectores económicos e sociais foram atingidos. Como é que a agricultura, nomeadamente a alentejana, tem vivido mais esta crise? No meio da crise generalizada é um sector que se tem mantido a produzir.

A agricultura tem sido afectada, como todos os outros sectores, mas curiosamente, a crise está agora a sentir-se um pouco menos do que há um ano.

Notam-se diferenças entre há um ano atrás e agora?

Há diferenças nalguns sectores da nossa actividade. Por exemplo, o negócio do borrego é um exemplo do que estava a dizer. Há um ano os agricultores da nossa região viam não só o preço do borrego a cair, mas sobretudo não havia saída e não apareciam compradores. Estava tudo fechado, turismo, restaurantes, etc.. Neste momento, e contrariamente àquilo que nós pensávamos, o preço do borrego aumentou para valores muito interessantes. A explicação é simples: mesmo neste período as exportações de borregos vivos para Israel têm aumentado muito, o que tem feito com que a procura não desça e o preço tenha estado a subir. Em outros sectores, sobretudo os mais influenciados pelo canal Horeca, aí sim tem havido quebras, como no vinho, ainda que isso se reflita mais nas gamas de vinho médias/altas, porque as pessoas em casa também consomem, mas vinhos mais baratos. Por isso, os produtores de vinho de maior qualidade estão a sentir dificuldades. Outro sector que atravessa uma crise é a das frutas e legumes, que está com problemas.

E o azeite?

O azeite, devido a outras circunstâncias, teve no ano passado um preço muito baixo, que já vinha baixando devido à existência de grandes stocks, mas tem vindo a aumentar um pouco e conseguido resistir à crise. Ou seja há alguns sectores que se equilibraram um pouco, outros ainda não.

Mas em termos gerais qual é a situação?

Em termos gerais, apesar de tudo e tendo em conta aquilo que são aqui as produções da nossa zona, a agricultura é um sector onde a pandemia tem tido menos influência, digamos assim. No entanto, os agricultores e nós na ACOS, enquanto associação, temos tomado todas as precauções que nos são exigidas, nomeadamente nas produções que envolvem muita mão de obra, com regras mais apertadas, não contacto entre grupos, etc., mas as coisas têm corrido e a agricultura, que é a base da alimentação das pessoas, haja ou não pandemia, não pode parar.

No último ano, uma das questões recorrentes foi também a falta de reservas de água, depois de anos de fraca pluviosidade. No entanto, este Inverno foi chuvoso. Conseguiram-se recuperar as reservas de água no solo e nas barragens?

Choveu bastante nos últimos meses, o que veio dar outra imagem ao nosso Alentejo e não só. Já se falava muito de seca, as barragens estavam quase vazias, não só para o regadio, mas também ameaçando o abastecimento das populações. Agora, o Alqueva está quase cheio, o que significa que tem água para quatro anos de seca. As barragens da nossa região, estão, de um modo geral, acima dos 50%, sendo que, os maiores problemas estão na bacia do Sado.
Os regadios pré-existentes, ao contrário dos últimos 3 ou 4 anos, têm neste momento água suficiente para a campanha, o que quer dizer, que não vão necessitar de solicitar água à EDIA, que é mais cara.

Mais uma vez se confirma que chovendo em quantidades razoáveis, mesmo sem ser em excesso, o Alqueva enche com alguma facilidade. E mais reservas de água houvesse, mais água teríamos disponível, não só para a agricultura, mas também para abastecimento das populações. Agora que choveu, tendemos a esquecer-nos que, nos últimos anos, algumas populações foram abastecidas de água por autotanques.

Agricultura e Mar Actual

 
       
   
 

Verifique também

Projecto TrunkBioCode apresenta ferramentas de diagnóstico das doenças do lenho da videira

Partilhar              O projecto TrunkBioCode, liderado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), é tema do …

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.