O último Verão deixou a floresta portuguesa colorida de negro. E porque arde tanta árvore em Portugal? Pela “ausência de uma estrutura profissional e especializada que se dedique à prevenção e ao combate”, de incêndios rurais.
Esta é uma das conclusões do relatório “Incêndios Rurais em Portugal: até quando deixaremos a paisagem arder?” apresentado ontem, 6 de Dezembro, pela WWF — World Wide Fund for Nature e o Centro Ecologia Aplicada, do Instituto Superior de Agronomia (CEABN/ISA).
O relatório faz um retrato da problemática dos incêndios em Portugal e apresenta um conjunto de recomendações para governantes, gestores e proprietários florestais a implementar a curto e médio prazo.
Porque arde o País? No relatório, foram apontadas várias razões e efectuados diagnósticos por diversos especialistas, quer nacionais quer internacionais, e nalguns casos apontadas soluções a que tem faltado implementação efectiva. Existem desafios a jusante, ao nível da fase de combate aos incêndios, sendo unânime a visão de especialistas sobre a necessidade de articular prevenção e combate. “Só assim, quem combate um incêndio saberá, por conhecer onde e como foram feitas acções de prevenção (por exemplo, limpeza da vegetação combustível) quais os locais onde se deverá privilegiar o combate, por ser aí que a intensidade dos incêndios diminui permitindo um combate efectivo”, pode ler-se no relatório.
Gestão diferente no resto do Mediterrâneo
Aquele documento acrescenta que “é aliás esta uma das grandes diferenças para outros países e regiões de clima Mediterrânico e que também enfrentam o problema dos incêndios rurais: a ausência de uma estrutura profissional e especializada que se dedique à prevenção e ao combate”.
Realça ainda o relatório que em “alguns destes países, para além de estruturas profissionais de prevenção e combate, cuja existência é defendida por diversas entidades internacionais como a FAO (2006), existem programas contínuos de prevenção que incluem formação e educação das populações quer ao nível de comportamentos negligentes (a maior causa de ignições em Portugal é o comportamento negligente) quer de regras de auto-defesa em caso de incêndios”.
Naqueles países são ainda comuns programas intensivos de informação, protecção de aglomerados populacionais e, normalmente, programas de patrulhamento e vigia.
Despovoamento do mundo rural
Para aqueles especialistas, os incêndios florestais “são um sintoma, cada vez mais agudo, de uma doença que se propaga há décadas no mundo rural: o despovoamento e o abandono rural e a consequente ausência de gestão e acumulação de biomassa combustível em muitas áreas do País”.
A este problema estrutural acrescenta-se o das alterações climáticas. Períodos de chuva mais intensos e Verões cada vez mais longos, quentes e secos, irão exacerbar o problema por tornarem mais fácil a ignição de uma vegetação que também mais facilmente se desenvolveu.
O desafio é de grande complexidade e exige abordagens e perspectivas múltiplas, dizem os autores do relatório. E avançam que são necessárias políticas efectivas de desenvolvimento rural que tornem a paisagem menos combustível, que atraiam pessoas para o interior e incentivem a utilização sustentável do território.
“São essenciais as acções locais e directas de passagem de informação e apoio a quem habita o mundo rural. São ainda necessárias medidas de formação e de educação que mitiguem os efeitos de incêndios, cada vez mais graves e destrutivos e de maiores riscos para as pessoas”, salienta o relatório.
Desde o início do século XXI que os incêndios deixaram de ser um simples problema ambiental e estão a tornar-se numa emergência civil; como prova estão os trágicos acontecimentos de Pedrógão Grande (Junho de 2017) e de 15 de Outubro passado, nos quais mais de 100 pessoas perderam a vida, afirma fonte da WWF Portugal.
Pode ler o relatório completo aqui.
Agricultura e Mar Actual