Artigo de opinião do site A Cientista Agrícola
Autora do artigo: Mafalda Reis Pereira, Engenheira Agrónoma
A agricultura como ferramenta social, terapêutica e enquadramento em meio urbano
A agricultura é uma actividade do homem inserido numa sociedade para a qual produz bens e serviços através de sistemas complexos resultantes da artificialização de ecossistemas. Todavia, o conceito que uma sociedade tem da agricultura modifica-se quando se alteram as condições ecológicas e sócio-económicas pelo que apenas de uma forma incompleta pode ser explicada por uma definição. Esta dificuldade acentua-se particularmente numa altura em que a actividade agrícola se insere cada vez com actividades não agrícolas.
Fonte da imagem:Revista Soberanía Alimentaria
A agricultura social é um conceito que surgiu recentemente e que pode ser “entendida como a utilização de empresas agrícolas – animais, plantas, jardins, floresta e paisagem – como base de promoção de saúde mental e física, assim como de qualidade de vida, de diversos grupos de clientes” (Hassink e Van Dijk, 2006; Di lacovo, 2009; Dessein e Bock, 2010).
Terá sido desenvolvida a partir dos finais do século XIX, na Europa, como uma nova prática economicamente sustentável, que tem vindo a crescer (Elings, 2006; Hassink, 2009; Willems, 2012).
Engloba a agricultura multi-funcional, a saúde pública e a inclusão social, que apresentam diferentes formas de organização, de contributos e de metas a alcançar (Dessein e Bock, 2010). Responde à evolução, às alterações e a problemas específicos da agricultura, dos cuidados de saúde e da sociedade atual. Promove ainda a solidariedade e a entreajuda, assim como o bem-estar.
Devido às suas actividades terapêuticas de inclusão no trabalho, de inclusão social e pedagógicas, este tipo de agricultura fornece serviços públicos de grande valor, contribuindo para um desenvolvimento sustentável.
Fonte da imagem: El País
Na Europa, como em Portugal (Firmino, 2011), o número de explorações direccionadas para a agricultura social tem vindo a aumentar e situam-se, na maior parte dos casos, em zonas rurais onde contribuem significativamente para o desenvolvimento rural.
A agricultura social integra a economia social e engloba quer empresas ou cooperativas sociais (sem fins lucrativos, que exercem uma actividade de produção e troca de bens e de serviços de utilidade social e interesse geral) quer empresas privadas, onde constitui uma forma de diversificar as fontes de rendimento prestando um serviço social à comunidade e continuando sujeitas às leis de mercado (Di lacovo e O’Connor, 2009).
Fonte da imagem: Medio Ambiente y Cooperación
A agricultura social pode estar relacionada com a realização de actividades em explorações agrícolas e poderá também incluir o conceito de agricultura urbana (Mendes-Moreira e Miguéns, 2011; Wiskerke, 2012), visto que partilham princípios, metas e objectivos comuns.
Assim, o conceito pode ser definido como a prática de agricultura no interior (agricultura intra-urbana) ou na periferia (agricultura peri-urbana) de uma localidade ou cidade com o objectivo de cultivar (produzir, criar e processar) e distribuir uma diversidade de produtos alimentares e não alimentares, (re) utilizando largamente os recursos humanos e materiais e os produtos e serviços encontrados dentro e em torno da área urbana, e, por sua vez, oferece recursos humanos e materiais, produtos e serviços para essa mesma área urbana (Mougeot, 2000).
Fonte da imagem: Olival Social
Geralmente é desenvolvida em pequenas áreas como quintais, terraços ou pátios, ou ainda em hortas urbanas – espaços comunitários ou espaços públicos não urbanizados –, estando associada ao sistema económico e ecológico da cidade.
A produção deste tipo de agricultura geralmente é utilizada para o auto-consumo da população e/ou na comercialização em pequena escala, muitas vezes feita em mercados de proximidade.
Para tal este modo de agricultura está geralmente associado a um grande número de espécies cultivadas para poder satisfazer este propósito do auto-consumo.
Destaca-se que neste tipo de agricultura existe uma reduzida disponibilidade de área destinada ao cultivo (como referido anteriormente), que muitas vezes se encontra associada à falta de conhecimento técnico e de tecnologia utilizada na produção.