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Presidente da Anpromis: “acho extraordinário que Portugal não tenha uma reserva mínima que seja de cereais”

“Em períodos de muita instabilidade, como o que estamos a viver e em alguma crise de preços, acho extraordinário que Portugal não tenha uma reserva mínima que seja de cereais para fazer face a qualquer disrupção que possa existir na cadeia de fornecimento”. Quem o diz é Jorge Neves, presidente da Anpromis — Associação dos Produtores de Milho e Sorgo de Portugal.

Em entrevista à organização da AgroGlobal, a maior feira agrícola ibérica dedicada aos profissionais, que se realiza nos dias 7, 8 e 9 de Setembro, em Valada do Ribatejo, Jorge Neves refere que esta é uma “situação que deveria fazer reflectir os decisores políticos”.

Numa altura em que os analistas internacionais estimam que a China importará um total de 28 milhões de toneladas de milho até Setembro de 2021, ao mesmo tempo que se registam baixos stocks mundiais de cereais e a seca na América do Sul, levando a preços elevados do milho, Jorge Neves diz que os produtores estão a viver o momento “com muita espectativa”, realçando que a Política Agrícola Comum (PAC), durante os últimos sete anos de crise de preços muito acentuada, “não favoreceu especialmente e até prejudicou os produtores de milho”.

“A conjuntura tem sido francamente má para os produtores de milho desde 2014. Vemos com muita espectativa esta oportunidade que o mercado concedeu [de alta de preços] e que obviamente temos que compreender, mas temos de ter resposta por parte daqueles que são os nossos clientes. É verdade que as cotações mundiais estão altas, mas precisamos que da parte das industrias, a quem os produtores através das suas organizações vendem o milho, também haja receptividade para a realidade que esta a ocorrer”, diz o presidente da Anpromis.

Auto-suficiência de 25%

Quanto ao facto de Portugal produzir apenas 25% do milho que necessita, Jorge Neves afirma: “eu faço a leitura de outra forma, durante três meses por ano somos 100% auto-suficientes e os outros nove meses somos 100% dependentes do exterior”.

Para aquele agricultor, este momento pós-pandemia “está a provocar disrupções muito graves nas cadeias de abastecimento, a todos os níveis, em diferentes tipos de matérias-primas, acessórios, etc.. E Portugal, neste momento, não tem 10 ou 15 mil toneladas guardadas em lado nenhum, seja de trigo, seja de milho. O que tem está nos portos e o que está nos portos tem de circular todos os dias. Portanto, para fazer face a uma crise, nem que seja uma reserva estratégica de um mês de abastecimento às indústrias, em Portugal não temos nada. E isso deveria ser uma situação que deveria fazer reflectir os decisores políticos”.

“Numa instabilidade total nos transportes marítimos, com custos que neste momento são perfeitamente astronómicos, em que pode ocorrer a falta de algum produto físico no Mundo, nessa altura quem pagar mais é que leva o produto”, acrescenta Jorge Neves, frisando que “hipoteticamente podemos correr o risco de um navio que estaria destinado para Portugal agora, em Agosto ou em Setembro, por alguma razão, possa ser desviado para outro país que paga mais caro” pelo seu conteúdo.

Nova PAC

Quanto à nova Política Agrícola Comum, cujo acordo foi alcançado na Presidência Portuguesa da UE, Jorge Neves diz ser “positivo que não tenham ficado consignadas as metas do Green Deal”. “Os objectivos existem mas as metas quantificadas não. E essa quantificação era muito perigosa da forma como estava colocada, quer pela via da redução da utilização de fitofármacos e de fertilizantes, quer por via do crescimento obrigatório da área da agricultura biológica (…) quantificar essas metas sem um estudo prévio é demasiado perigoso”.

Agricultura e Mar Actual

 
       
   
 

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