O preço dos cereais importados registou uma queda de 9,7% entre 19 de Junho e 17 de Julho. A descida mais acentuada verificou-se no milho forrageiro (menos 13,1%), seguindo-se o trigo mole panificável (menos 11,1%), e a cevada forrageira (menos 8,6%). A cotação do trigo mole forrageiro desceu 5,7%.
Mas esta evolução nada tem a ver com o acordo assinado ontem, 22 de Julho, entre a Rússia e a Ucrânia e a Turquia e as Nações Unidas para desbloquear a exportação de cereais bloqueados nos portos ucranianos. O acordo prevê a reabertura de rotas de entrega bloqueadas no Mar Negro e deverá vigorar durante quatro meses, sendo, no entanto, no renovável.
Depois de dois meses de duras negociações, o acordo visa criar um centro de controlo em Istambul, dirigido por representantes das partes envolvidas: um ucraniano, um russo, um turco e um representante da ONU, que deverão estabelecer o cronograma de rotação de navios no Mar Negro.
Preços no consumidor não vão descer
São boas notícias. Mas, para o presidente da CAP — Confederação dos Agricultores de Portugal, Eduardo de Oliveira e Sousa, explicou em declarações à Rádio Renascença que o acordo entre Rússia e a Ucrânia para a exportação de cereais “não deve fazer diferença nos preços finais dos produtos”, pois o custo da matéria-prima é uma fatia pequena e que a maior “é o preço da energia”.
“Se não houver acompanhamento em baixa dos custos relacionados com a energia e outros factores de produção e uma vez que as empresas têm trabalhado em prejuízo, não creio que isso se reflicta na redução do preço dos produtos”, disse Eduardo de Oliveira e Sousa à Renascença.
Por sua vez, o presidente da Anpoc – Associação Nacional de Produtores de Cereais, José Palha, salientou, em declarações à Antena 1, que “com mais cereais no mercado era de esperar que o preço baixasse, mas à guerra é preciso somar outos custos como a energia e os fertilizantes”.
E, acrescentou José Palha que “esta operação de retirar os cereais da Ucrânia vai demorar e os efeitos no mercado não vão ser imediatos”.
Cadeia de abastecimento nacional não está em perigo
Segundo a análise do SIMA – Sistema de Informação de Mercados Agrícolas, do GPP — Gabinete de Planeamento Políticas e Administração Geral, do Ministério da Agricultura, “devido à conjuntura actual, a suspensão das importações directas de trigo da Ucrânia e da Rússia não afectará a cadeia de abastecimento nacional”.
No sector dos cereais, Portugal apresenta uma grande dependência externa, as exportações registam valores inferiores aos das importações, quer em valor quer em quantidade, realça a mesma análise do SIMA, referente à semana 28, de 11 a 17 de Julho.
Os principais portos de entrada de cereais no País são Lisboa, Aveiro e Leixões. A França, a Espanha e o Brasil são os países origem das maiores importações de Portugal, quer em quantidade, quer em valor monetário.
Mercados internacionais
Acrescenta o Sistema de Informação de Mercados Agrícolas que “a importância da Rússia e da Ucrânia na produção de cereais aliada à recente instabilidade política reflectiu-se nos mercados mundiais de bens agrícolas principalmente a partir da semana 8”.
Na semana em análise, a cotação do trigo panificável no porto de Rouen – França, um dos principais portos europeus em transacções de cereais, continua a decrescer desde a semana 21 quando atingiu o máximo histórico de 438 €/t.
A cotação de milho forrageiro no porto de Roterdão, reverteu a tendência que tem vindo a ser observada nas últimas duas semanas e aumentou ligeiramente.
Agricultura e Mar