O preço médio por quilo do açúcar na Europa situa-se, actualmente, nos 1,61€, mais de 130% acima dos valores praticados em 2021, quando o preço médio estava situado nos 0,69€. “Caso a tendência actual se mantenha, este valor poderá ultrapassar até os dois euros, nomeadamente caso a produção internacional venha a sofrer uma queda significativa devido a fenómenos climatéricos adversos ou caso os custos da energia continuem a aumentar”, dizem os analistas da XTB Portugal.
“Actualmente, observamos que o preço médio na Europa em Outubro aumentou para 850 euros por tonelada, embora em muitos países ultrapasse frequentemente os 1.000 euros por tonelada. Trata-se de um aumento de mais de 130% em comparação com o início de 2020 e, definitivamente, mais elevado do que noutros países concorrentes, como os Estados Unidos ou a Índia, que limitaram minimamente o aumento de preços em 3 anos”, realçam aqueles analistas.
E explicam que, para entender a actual subida dos preços, é preciso recuar até 2020, quando a pandemia de Covid-19 provocou um forte corte na produção mundial de açúcar. Desde então, a produção de açúcar na Europa tem enfrentado dificuldades para recuperar e os níveis actuais são inferiores aos registados antes da pandemia.
Em causa estão “os aumentos dos custos do gás natural, uma vez que a produção de açúcar é um dos processos que mais energia consome na indústria alimentar. Com o aumento do gás proveniente da Rússia na sequência da invasão à Ucrânia, várias empresas europeias reduziram a produção e, consequentemente, as colheitas, devido ao elevado custo associado. Para além disso, o esforço europeu para reduzir a utilização de produtos químicos na agricultura também tem contribuído para essa diminuição. Tudo isto tem causado aumentos significativos nos custos de produção”.
Por outro lado, acrescentam os analistas da XTB Portugal, “a produção do Brasil e da Índia tem vindo a recuperar desde a pandemia. Contudo, a produção do Brasil ainda terá que passar pela prova de fogo que é o fenómeno natural El Niño, que está a causar grandes secas em vários locais por todo o Mundo e que poderá ter um impacto significativo na produção brasileira de açúcar”.
Já na Índia, a aproximação das eleições marcadas para o final de Abril tem levado o governo indiano a procurar reduzir o preço de vários produtos. Este esforço inclui a aplicação de limitações ao comércio da cana-de-açúcar e à sua utilização para a produção de etanol, um biocombustível cada vez mais utilizado a nível mundial. Embora se espere que esta última medida seja levantada ainda no primeiro trimestre do ano, o governo de Narendra Modi deverá manter as restrições à exportação das canas-de-açúcar, acrescentam.
No entanto, aqueles analistas garantem que “nem tudo são más notícias”. Depois de o preço do açúcar nos Estados Unidos ter atingido os 28 cêntimos por libra em 2023, o valor mais elevado desde 2011, este valor caiu quase 30%, para os 20 cêntimos por libra, como resposta às acções do governo indiano e a uma recuperação da produção no Brasil.
Ainda assim, “caso a Índia continue a limitar a quantidade de açúcar que é introduzida no mercado internacional e caso a produção na Europa e no Brasil sofra novos cortes, espera-se que a actual descida dos preços a nível mundial não seja sustentada a longo prazo, a menos que ocorra uma crise de maiores proporções que conduza a um colapso do consumo, como aconteceu durante a pandemia de Covid-19”.
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