Artigo de opinião de Rosa Moreira, Eng.ª Agrónoma, promotora do site A Cientista Agrícola
Alguma vez ficou curioso em saber mais sobre permacultura e poder aplicar este conceito na sua produção agrícola? Neste novo artigo, vou falar um pouco sobre o que é a permacultura, principais éticas e princípios pelos quais se rege. Se esta temática lhe interessa então este artigo pode ser uma boa oportunidade de saber mais sobre o assunto.
O que é a permacultura?
Criada por Bill Mollison e David Holmgren,a expressão permacultura teve origem do inglês “Permanent Agriculture” e foi criada no século XX por volta da década de 70. Com o passar do tempo, o termo permacultura começou a ser compreendido como “Cultura Permanente” uma vez que começou a agregar uma gama alargada de saberes provenientes de diversas áreas científicas, para planeamento e criação de ambientes humanos que garantam sustentabilidade e produção equilibrada e harmoniosa com a mãe Natureza. Actualmente, a permacultura é considerada uma ciência de âmbito social e ambiental que alia o conhecimento científico com o conhecimento tradicional e popular assegurando dessa forma a permanência do ser humano como espécie no planeta Terra.
Por outras palavras, podemos falar da permacultura como “o design sustentável para ambientes humanos” que ajuda a suprimir as nossas necessidades enquanto seres humanos tais como a água, comida, abrigo e energia.
Éticas da permacultura: saiba quais são
Cada vez mais se fala sobre a ética na produção agrícola e nesse sentido, é importante também abordar quais as três éticas pela qual a permacultura se rege. Estas são baseadas na observação da ecologia e da sua maneira sustentável de interacção e produção bem como do comportamento e vida das populações tradicionais com a mãe Natureza, sempre trabalhando a favor da mesma. Todo o permacultor tem como principal função a criação de solo e armazenamento de água, que são o pilar da vida tal e qual como conhecemos.
1-Cuidar da terra
A Terra é uma entidade viva que respira. Sem os cuidados adequados e sustentáveis da nossa parte, haverá consequências muito grandes para serem ignoradas. Por isso, devemos usar o solo de forma sustentável e não de forma abusiva e desmedida. Se quisermos cuidar bem da Terra devemos começar por cuidar bem do solo vivo. . Na permacultura, é importante reconstruir capital natural dado que se o solo se encontra em bom estado é também garantia plena de uma sociedade sã.
Felizmente, existem várias formas para cuidar do solo correctamente sendo que, uma das melhores é avaliar o quanto de vida que lá existe. “Um solo vivo” e enriquecido é um sinal claro de vida e saúde. Basta pensarmos nas nossas florestas e rios que são considerados por muitos os pulmões do nosso planeta Terra e verificar que estes são uma ajuda fundamental para que o nosso planeta continue vivo e a ” respirar bem”.
O respeito por todas as formas de vida e pelas funções que executam e também a redução do nosso impacto sobre o meio ambiente são medidas fundamentais para garantir a sanidade do solo.
2-Cuidar das pessoas
As necessidades das pessoas devem ser satisfeitas de maneira compassiva e simples para que dessa forma o sector ambiental que está envolvido em torno delas prospere e tenha continuidade para as gerações futuras. É importante cuidar de si mesmo, parentes e comunidade.
3-Partilhar os excedentes
Quando uma árvore frutifica ou efectuamos a colheita de alguma cultura, normalmente produz muito mais do que aquilo que podemos comer. Por essa razão, faz sentido dividir o que não podemos usar de forma a que todos possam beneficiar daquilo que a terra e o planeta nos dão.
Os 12 princípios da Permacultura
Abaixo estão apresentados os doze princípios da permacultura(segundo Holmgren) que devem sempre estar de acordo com as éticas acima descritas, pois são através destas que se regem.
1- Observar e interagir
2-Capturar e armazenar energia
3- Obter rendimento
4- Aplicar auto-regulação e aceitar retroacção
5-Usar e valorizar serviços e recursos renováveis
6-Não produzir resíduos
7-Desenhar os padrões aos detalhes
8-Integrar mais que segregar
9-Usar soluções pequenas e lentas
10-Usar e valorizar a diversidade
11-Usar limites e valorizar o marginal
12-Usar e responder à mudança com criatividade
Como aplicar a permacultura na prática
Agora que já sabe os valores pelos quais se rege a permacultura, chegou a hora de traduzir os seus princípios por miúdos e saber como aplicar as suas ideias-chave na prática.
1- Utilize adubos orgânicos e aproveite resíduos
Como sabem, a utilização de adubos químicos de síntese tem várias implicações para o ecossistema agrícola se não forem bem aplicados. Embora estes produtos de síntese sejam utilizados para nutrir e controlar pragas e doenças com um rápido retorno no crescimento e desenvolvimento das plantas, podem acarretar outras consequências mais negativas associadas. Na permacultura, têm vindo a ser seguidas práticas agrícolas mais acentrais utilizadas desde o inicio da humanidade. Nesse sentido, têm vindo a ser testadas desde essa altura vários tipos de produtos/ resíduos orgânicos que podem beneficiar o crescimento das culturas agrícolas e assim promover o seu reaproveitamento.
Em permacultura são usados fertilizantes de origem orgânica que contribuem para fornecer os elementos naturais oriundos dos resíduos orgânicos que as culturas agrícolas mais precisam, não agredindo o meu ambiente.
Alguns exemplos de adubos orgânicos utilizados em permacultura: estrumes, folhas, cascas de fruta e hortícolas, composto, etc.
Pode também usar plantas para ajudar a controlar pragas de insectos e o aparecimento de doenças. O chorume de urtigas é um bom exemplo.
Conheça também neste artigo alguns exemplos de plantas que ajudam a afastar pragas de insetos.
2- Aplique cobertura morta ou mulching
O mulching é uma das técnicas usadas em permacultura para proteger o solo.
Assim, deve manter todos os seus canteiros, áreas de cultivo e jardim coberto com material orgânico como por exemplo a palha. Para tal, deve aplicar a cobertura morta com cuidado sobre todo o solo ao redor das suas culturas/plantas, sendo nunca as abafar. Pode também utilizar restos de relva cortada, folhas ( evite folhas de grandes dimensões para facilitar o maneio agrícola), serrim, etc.
Garanta também que os caminhos de acesso às suas plantações estejam também bem protegidos para evitar que acabem por dispersar para cima das suas culturas. Pode usar serrim para cobrir os caminhos de acesso às suas plantações.
Não é só com o solo dos canteiros que você tem que se preocupar, os caminhos entre eles devem também ser protegidos pois depois de algum tempo podem ser removidos para dentro dos canteiros. A melhor cobertura para caminhos é a serragem.
Os materiais orgânicos tais como a palha, a casca de arroz e o composto alimentam-se dos microorganismos benéficos que os decompõem, melhorando a estrutura do solo e ajudando na sua saúde.
Pode usar um material “ácido” como as agulhas de pilheiro, folhas secas ou fragmentos de cascas de árvore caso a cultura instalada necessite de um aumento de acidez (ex: mirtilos).
O mulching é uma técnica que lhe poupa tempo e problemas futuros como por exemplo o aparecimento de infestantes.
Saiba mais sobre esta técnica aqui
3- Optimize a rega- regue de forma adequada
Se tivermos em conta que a maioria das culturas produzidas em permacultura são hortícolas e que estas necessitam de um solo minimamente húmido(sem estar encharcado), devemos projectar o nosso sistema cultural de forma a acumular o máximo de água possível. Pode optar por colocar recipientes ao ar livre para colectar a água da chuva, adoptar o sistema de rega gota a gota, rega por sulcos, etc. Poderá também ser vantajoso escolher grupos de plantas com as mesmas necessidades hídricas (xerojardinagem). Escolha também variedades de plantas que exijam baixo consumo de água e evite ou minimize o uso de plantas mais exigentes em água.
Se usar plantas rasteiras, estas vão acabar por revestir o solo reduzindo dessa forma a perda de água por evaporação e vão manter a humidade do solo por mais tempo.
A falta de humidade no solo é bastante prejudicial e pode provocar a diminuição do crescimento dos plantas acabando por entrar em maturação mais rapidamente. Isto como é natural prejudica a qualidade do produto. ex: alfaces ficam mais amargas.
4-Evite mobilizar o solo, faça sementeira directa!
É claro que este passo vai depender do estado da sua horta. Caso o solo esteja bastante compacto deve revirar a terra antes de semear/plantar. Antes de proceder à sementeira, coloque estrume no solo e posteriormente , com a ajuda de um sacho, envolva a terra com o adubo.
A sementeira directa implica que não haja mobilização prévia do solo, sendo a colocação da semente feita directamente no solo.
A natureza já nos mostrou que é possível que as plantas crescem sem necessidade de mobilizar o solo, uma vez que se verifica que em solos virgens existe o desenvolvimento de vegetação.
A sementeira directa é uma técnica dentro da agricultura de conservação, na qual não existe mobilização prévia do solo, sendo todo o trabalho realizado por um semeador especial (semeador de sementeira directa).
Caso opte por plantar, utilize uma enxada para “emparelhar” a terra, coloque as mudas de plantas e aconchegue-as com palha seca em seu redor de forma a manter a sua humidade.
5- Adopte a policultura: quanto mais diversidade melhor
Uma horta onde se apliquem princípios de permacultura assemelha-se mais a uma floresta dada a biodiversidade de plantas, insectos e outros seres vivos. Para garantir esta condição, uma boa prática agrícola que pode adoptar é a consociação de culturas.
A consociação de culturas principalmente em ambiente de horta biológica é a prática cultural que consiste no cultivo de duas ou mais culturas próximas umas das outras de forma a obter benefício entre elas.
A consociação de culturas além de favorecer a conservação das características do solo permite um maior aproveitamento dos nutrientes deste ao longo do tempo, beneficiando todas as plantas inseridas nesta técnica agrícola.
Tal facto acontece porque as culturas/plantas escolhidas fornecem entre si vantagens simultâneas quando o seu crescimento e desenvolvimento se verifica na mesma área agrícola. É importante salientar que as culturas que estão em consociação não necessitam de serem semeadas ou plantadas ao mesmo tempo na sua horta, mas é necessário garantir que durante grande parte da duração dos seus períodos vegetativos ocorra em simultâneo estimulando dessa forma uma interacção entre elas.
Conheça quais as principais consociações de culturas utilizadas aqui.
Pode também intercalar flores e ervas aromáticas nos canteiros para de forma a afastar as pragas de insectos, para além de deixar a sua horta bem mais bonita.
Espero que tenha gostado deste artigo
Agricultura e Mar Actual