As alterações climáticas estão a provocar eventos meteorológicos extremos e a provocar prejuízos avultados aos agricultores. Muitos produtores queixam-se de que as apólices de seguro são caras e preferem arriscar e esperar pelos repetidos subsídios pagos pelo Estado, através dos fundos comunitários.
Foi sobre esta temática que o agriculturaemar.com falou com o CEO da F. Rego — Corretores de Seguros, Pedro Rego, que considera que as autoridades “deveriam focar os seus esforços e atenções na dinamização do mercado segurador, subsidiando a sua compra e não a sua venda como ocorre no actual modelo, e condicionando os apoios à existência de seguros, como ocorre noutros países”.
E para colmatar a falta de apólices agrícolas, a F. Rego está a apostar no segmento dos seguros paramétricos. “Para um agricultor este tipo de produto além de permitir uma maior adequação do risco às condições específicas da sua actividade, localização e produto, agiliza e facilita o pagamento da indemnização, a mesma igualmente definida no momento da subscrição da apólice”, garante Pedro Rego.
O CEO da F. Rego exemplifica: “Uma das soluções de seguros paramétricos que desenvolvemos, e que mereceu destaque mediático face ao carácter pioneiro, destinou-se a uma produção de abacate, no Algarve. Este seguro indexa o pagamento da indemnização ao atingimento de determinada temperatura, registado numa estação meteorológica local, que está ligada, em permanência, à seguradora”.
“As rentabilidades consideradas pela apólice, as franquias exigidas, bem como os valores máximos indemnizáveis, são um forte desincentivo à compra, levando a que não exista uma necessária mutualização do mesmo pela reduzida escala das vendas”
Entrevista a Pedro Rego, CEO da F. Rego
Os agricultores portugueses estão a ser cada vez mais assolados pelo mau tempo. Os prejuízos vão-se acumulando ao longo do ano, com muitas culturas perdidas. Mas, a verdade é que a maioria não tem seguro de colheitas. A que se deve este facto? A falta de informação? Ao preço dos prémios de seguro?
Penso que existe um conjunto de factores que contribuem para esta situação, destacando aqui os preços e as limitações das apólices disponibilizadas. Existe, contudo, um outro factor que em nosso entender contribui de forma determinante para o modo de funcionamento do mercado, que se deve à postura das autoridades que, em muitas situações, e com a melhor das intenções, atribuem subsídios aos lesados que não têm seguro quando deveriam focar os seus esforços e atenções na dinamização do mercado segurador, subsidiando a sua compra e não a sua venda como ocorre no actual modelo, e condicionando os apoios à existência de seguros, como ocorre noutros países.
A generalidade das companhias de seguros não tem seguros agrícolas que se adaptem às necessidades dos agricultores. Como pode uma corretora ajudar a corrigir essa lacuna?
O papel de um corretor passa, também, pelo desenho e desenvolvimento de novas soluções, suportadas pelo mercado segurador nacional ou internacional. Esta dinâmica tem ganho especial relevância nos últimos anos com a recentragem das seguradoras nacionais nas linhas de seguros mais tradicionais e com maior volume, dedicando, por vezes, menor atenção aos nichos ou franjas de mercado onde, frequentemente, e numa lógica transnacional, os corretores podem aportar soluções. Essa tem sido a nossa aposta através da nossa agência de subscrição.
Como funciona o sistema de seguros paramétricos e que vantagens pode ter para o agricultor?
Os seguros paramétricos, seja para o sector agrícola, seja para outras áreas de actividade (como produção de energia, comércio, indústria, etc.) têm como ponto chave o pagamento de uma indemnização (tipicamente uma perda de rendimento ou um dano material) pela verificação da ultrapassagem de um determinado limite, devidamente previsto na subscrição da apólice, para um factor de risco, como seja a humidade, a precipitação, a chuva persistente, entre outros. Em suma, para um agricultor este tipo de produto além de permitir uma maior adequação do risco às condições específicas da sua actividade, localização e produto, agiliza e facilita o pagamento da indemnização, a mesma igualmente definida no momento da subscrição da apólice.
O preço é compensador para o agricultor (que se queixa de que as apólices são caras)?
Preferimos sempre falar em proposta de valor do que apenas em preço, que é apenas uma das suas componentes. O mercado segurador, em termos gerais, e não apenas no sector agrícola ou nos seguros de colheitas, tem sofrido um ajustamento de preço decorrente do aumento do risco que implica um alinhamento do mercado nacional com os mercados internacionais, em particular o europeu. Por outro lado, não se deve falar de preço compensador em termos de seguros, porquanto a base do contrato de seguro é a mutualização do risco, onde um número grande de clientes contribui para que um número reduzido (os que sofrem sinistros) seja compensado.
Como concretiza a F. Rego esses seguros paramétricos? Trabalha com que seguradoras? Portuguesas, estrangeiras?
A F. Rego, através da sua agência de subscrição ou directamente junto de seguradoras especializadas internacionais e parceiros, trabalha com a generalidade dos “providers” de soluções do mercado.
Pode dar exemplos de algumas das soluções que já elaborou?
Uma das soluções de seguros paramétricos que desenvolvemos, e que mereceu destaque mediático face ao carácter pioneiro, destinou-se a uma produção de abacate, no Algarve. Este seguro indexa o pagamento da indemnização ao atingimento de determinada temperatura, registado numa estação meteorológica local, que está ligada, em permanência, à seguradora. Este é um excelente exemplo da importância e eficácia destes seguros. A produção de abacate, tipicamente cultivado em zonas tropicais, é extremamente susceptível a temperaturas baixas. Esta solução assegura aos produtores uma clara diminuição do risco, permitindo-lhes um planeamento mais sustentado e ambicioso.
Por exemplo, como funcionaria o seguro paramétrico no caso das tempestades que destruíram este ano culturas de cereja?
Tal como referido anteriormente, a ocorrência de uma tempestade, por si, não é factor para accionamento de uma apólice de risco paramétrico, sendo relevante para o pagamento da indemnização que o parâmetro – “gatilho” seja, por exemplo, a velocidade de vento ou o nível de pluviosidade, que nesta situação seriam suficientes para indemnizar o segurado, se os mesmos fossem ultrapassados.
Que pensa da forma como está a contratualização do sistema de seguro agrícola público? Tem falhas? Quais?
As principais falhas, já referidas anteriormente, prendem-se com a base da solução que se encontra datada no tempo e sobretudo completamente desfasada da realidade actual do agricultor e da evolução do sector. As rentabilidades consideradas pela apólice, as franquias exigidas, bem como os valores máximos indemnizáveis, são um forte desincentivo à compra, levando a que não exista uma necessária mutualização do mesmo pela reduzida escala das vendas. Reitero a necessidade de o Governo dever alterar o racional subjacente ao sistema, incentivando e apoiando a compra, em condições de mercado, em detrimento do apoio à venda que actualmente existe.
Agricultura e Mar Actual