Entrevista a Pedro Pimenta, membro da direcção da Anpromis — Associação dos Produtores de Milho e Sorgo de Portugal
O 10.º Colóquio Nacional do Milho decorre a 19 de Fevereiro em Coimbra, uma região onde a cultura do milho é um factor fundamental de desenvolvimento sócio-económico e ordenamento do território.
Em entrevista ao agriculturaemar.com, Pedro Pimenta, membro da direcção da Anpromis e presidente da Cooperativa Agrícola de Coimbra, relembra o quanto a região do Vale do Mondego foi afectada, nos últimos anos, pelo mau tempo e até os incêndios.
E Pedro Pimenta diz que não sente “por parte das autoridades competentes uma vontade de fazer os investimentos necessários para reparar os estragos ocorridos”.
As ferramentas de agricultura de precisão são muito importantes, mas nesta região mais difíceis de implementar, devido não só à idade avançada dos nossos associados, como também à reduzida dimensão média das parcelas.
Que importância atribui ao facto de o 10.º Colóquio Nacional do Milho se realizar este ano em Coimbra?
A escolha da cidade de Coimbra para a realização do 10.º Colóquio Nacional do Milho constitui para nós agricultores do Vale do Mondego um motivo de regozijo, numa região onde esta cultura é um factor fundamental de desenvolvimento sócio-económico e ordenamento do território.
A este propósito não podemos deixar de lembrar o quanto esta região foi afectada nos últimos anos, com as cheias de 2017, os incêndios desse mesmo ano, o Leslie em 2018 e agora por novas cheias que tantos prejuízos causaram nos canais principais do Vale do Mondego.
Esta situação afigurasse-nos aliás extremamente preocupante, pois não sentimos por parte das autoridades competentes uma vontade de fazer os investimentos necessários para reparar os estragos ocorridos.
A época de sementeira está ai à porta e vemos uma resposta muito ténue, que está a colocar muito seriamente em causa a produção de milho e arroz da próxima campanha agrícola. É pois fundamental que o Estado actue com maior celeridade.
Quais os grandes desafios dos produtores de milho desta região para os próximos anos?
A estrutura da propriedade nesta região é sobretudo de minifúndio, existindo no entanto alguns agricultores que têm parcelas de dimensão média. De realçar que a Cooperativa Agrícola de Coimbra tem cerca de 400 associados produtores de milho, com uma dimensão média de exploração a rondar os 4 hectares.
A preocupação da direcção da Cooperativa tem sido apoiar os nossos associados de forma a aumentar a produtividade média da cultura do milho e reduzir os custos de produção, para tornar esta cultura mais competitiva. Para tal é necessário usar os recursos (sementes, água, solo, adubos, fitofármacos) de forma mais eficiente, minimizando também os impactos ambientais.
Apoiam a agricultura e precisão?
As ferramentas de agricultura de precisão são muito importantes, mas nesta região mais difíceis de implementar, devido não só à idade avançada dos nossos associados, como também à reduzida dimensão média das parcelas.
Por outro lado, a Cooperativa Agrícola de Coimbra tem efectuado alguns investimentos relevantes nos últimos anos, como seja um novo centro de secagem e armazenagem do milho, mais próximos das zonas de produção, o que permitiu aos nossos associados reduzirem os custos de transporte.
A recente situação vivida no Algarve, em que a água para o abastecimento da população foi retirada de uma barragem que tinha sido criada para regar área agrícolas, é bem o espelho dos perigos que conceitos puramente ideológicos podem ter na vida dos portugueses.
E do lado da comercialização?
Ao nível da comercialização da produção também houve a preocupação de aumentar a valorização, optando por clientes que pagam o preço justo pela qualidade do milho dos nossos associados, que reconhecidamente têm feito um esforço assinalável para produzir um produto com maior qualidade.
As negociações para a nova PAC estão ainda em curso. Receia uma perda de apoios para a fileira do milho e para esta região?
Há ainda muitas incertezas para se perceber o impacto da futura PAC no sector do milho em Portugal. Sabemos que será uma política mais voltada para as questões da sustentabilidade ambiental – protecção da água, do solo e da biodiversidade – e para a descarbonização. Está no entanto tudo ainda muito vago, mas estaremos cá para responder aos desafios que nos sejam colocados.
De que forma as alterações climáticas e o Roteiro para a Neutralidade Carbónica têm impacto na cultura do milho?
As alterações climáticas têm influência no ciclo da cultura do milho e nas necessidades hídricas das plantas, veja-se o que ocorreu nesta região nos últimos três anos. A importância de criarmos reservas de água que nos permitam armazenar este bem essencial à vida, afigurasse-nos pois fundamental não só para a competitividade da nossa agricultura, como também para a coesão do nosso território.
Acreditamos que o uso eficiente da água tem de ser uma aposta dos agricultores portugueses, mas é imperioso o Governo fazer também a parte que lhe compete. A recente situação vivida no Algarve, em que a água para o abastecimento da população foi retirada de uma barragem que tinha sido criada para regar área agrícolas, é bem o espelho dos perigos que conceitos puramente ideológicos podem ter na vida dos portugueses.
Agricultura e Mar Actual