O Colóquio Nacional do Leite, organizado pela Aprolep — Associação dos Produtores de Leite de Portugal, juntou, hoje, 29 de Novembro, cerca de 400 pessoas em Esposende.
Este evento, em colaboração com a AJADP — Associação dos Jovens Agricultores do Distrito do Porto, deixou a mensagem: “Leite carbono zero” é o objectivo dos produtores nacionais.
Na sessão de abertura, a Directora Regional de Agricultura e Pescas do Norte, Carla Alves, sublinhou “a enorme resiliência e capacidade de adaptação das explorações leiteiras” e o esforço que têm feito na melhoria da gestão dos efluentes pecuários e na instalação de sistemas de rega mais eficientes.
Disse ainda que é importante consumir leite e produtos lácteos de proximidade, devido à sua menor pegada de carbono, sublinhado que “o leite nacional é um produto bom, seguro e saudável”.
Na mesa redonda “Como valorizar a erva na produção de leite?” foram apontadas estratégias para melhorar a produção, colheita e conservação da erva, uma fonte protéica para alimentação das vacas na qual os produtores de leite devem investir para diminuir a dependência de rações importadas, contribuindo para a maior rentabilidade das suas explorações e a diminuição da pegada de carbono associada ao transporte transcontinental das matérias-primas (soja, entre outras) usadas nas rações.
Sementeira de leguminosas
Foi aconselhada a sementeira de leguminosas, espécie que fixa o azoto e melhora a fertilidade do solo de forma natural. Devido à sua elevada digestibilidade, as forragens com leguminosas podem também ajudar à redução dos níveis de metano emitido pelas vacas.
Os produtores de leite ficaram a saber mais sobre como “Criar vacas e produzir leite num ambiente sustentável”. Henrique Trindade, investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, disse que existem ou estão em desenvolvimento novas soluções para reduzir as emissões de metano dos ruminantes, como aditivos alimentares ou uma vacina que reduz a população microbiana dos intestinos das vacas e com isso os gases emitidos.
Deu exemplos de estratégias a adoptar para mitigar os impactos ambientais da actividade e realçou as oportunidades de aproveitamento dos sub-produtos das vacarias (chorumes) na fertilização de culturas hortícolas, numa lógica de Economia Circular.
Por sua vez, David Fangueiro, investigador da Universidade de Lisboa, exortou os produtores de leite a fazer o diagnóstico dos impactos ambientais dos campos e vacarias através do “balanço de nutrientes”, o que ajuda na sua minimização.
Bem-estar animal
No painel sobre “Bem-estar Animal e a imagem da produção de leite”, os especialistas deram exemplos das boas práticas (uso de escovas para auto-massagem das vacas, camas confortáveis, etc ) que são adoptadas nas vacarias em Portugal, cumprindo a legislação europeia sobre bem-estar animal e respondendo a exigentes referenciais de certificação como o Welfare Quality Assessement.
Explorações leiteiras com portas abertas
Concluíram que é imprescindível comunicar com o consumidor, abrindo as portas das explorações leiteiras a quem as queira visitar, algo que já está a ser feito no âmbito do projecto “Leite é vida”, que só em 2019 levou 1.200 crianças a conhecer vacarias e a realidade da produção de leite.
“É preciso mostrar o que se faz bem na produção intensiva de leite, único modo de produção viável para suprir as necessidades do mercado e compatível com o preço que o consumidor português pode pagar pelo leite. No sistema intensivo, em estábulo, as vacas podem ser tão felizes como na pastagem, desde que sejam adoptadas as melhores práticas de bem-estar animal”, diz um comunicado da Aprolep.
Comunicar a agricultura
No último tema do colóquio ficou patente que é necessária uma estratégia concertada, alargada e de longo prazo para comunicar a agricultura junto da opinião pública.
João Villalobos, especialista em comunicação, aconselhou o sector a unir-se, adoptar uma estratégia comum e usar os bons argumentos da ciência a favor da agricultura.
Na sessão de encerramento, Isabel Carvalhais, eurodeputada socialista da Comissão de Agricultura no Parlamento Europeu, realçou a necessidade de os agricultores comunicarem com a opinião pública o quanto já evoluíram nas boas práticas, manifestando-se disponíveis em fazer mais e melhor para adaptar a agricultura às exigências actuais de sustentabilidade ambiental da sociedade.
O Colóquio Nacional do Leite teve o apoio da Caixa de Crédito Agrícola de Póvoa do Varzim, Vila do Conde e Esposende e das empresas que patrocinam o colóquio: Syngenta, Solvenag, Sojagado, Coren, Agrovete, Genética 21, Nanta, Fertinagro, Torre Marco, Harker, Dekalb, Socidias, Fertiprado, De Heus, Pioneer, Gondimil e Consulai, sendo parceira de comunicação a Vaca Pinta.
Agricultura e Mar Actual