Artigo de opinião de Rosa Moreira, Eng.ª Agrónoma, promotora do site A Cientista Agrícola
Em tempos já escrevi sobre as consociações de culturas e dicas a ter em conta (ver aqui). De facto, é inegável que existem boas relações entre plantas que devemos ter em conta para termos sucesso na horta. A interacção entre culturas na horta pode condicionar de forma positiva ou negativa o seu crescimento e desenvolvimento das culturas. Neste artigo, vou falar sobre a importância da consociação de culturas na horta e algumas das principais dicas a ter em conta para escolher culturas para estabelecer boas consociações.
Mas afinal em que consiste a consociação de culturas?
Tal como já abordado em outros artigos, a consociação de culturas consiste no cultivo em simultâneo de duas ou mais culturas no mesmo espaço. Para que o estabelecimento destas consociações tenha sucesso, devemos considerar factores como a família botânica à qual estas culturas pertencem, características essenciais do seu ciclo de cultivo, as épocas de cultivo, as necessidades de luz, rega, temperatura, necessidades nutricionais, altura das plantas, profundidade que as raízes atingem, entre outros factores.
No entanto é importante ter em conta que nem todas as culturas conseguem ter benefício destas consociações podendo algumas delas serem prejudicadas ao longo do seu ciclo cultural devendo por isso ser evitadas.
Exemplo de algumas consociações desfavoráveis:
-abóbora x batata
-acelga x alho-francês
-nabo x abóbora
-acelga x rabanete
-beterraba x feijão-verde
Mas quais serão as culturas que podemos consociar?
Existem várias consociações favoráveis que devemos considerar e que falarei mais à frente neste artigo.
No entanto, antes de sabermos quais são as consociações favoráveis que devemos considerar temos de ter em conta quais os objectivos pelos quais as fazemos na nossa horta.
Um dos principais objectivos pelos quais estabelecemos consociações de culturas na horta é diminuir a competição de nutrientes entre as diferentes culturas cultivadas no mesmo espaço. Isto porque se colocarmos no mesmo espaço culturas com a mesmas necessidades nutricionais poderá levar a um esgotamento de nutrientes. Um forma de minimizarmos este esgotamento de nutrientes é escolher culturas com profundidades radiculares distintas de forma a que esta competição por nutrientes no solo ocorra a diferentes profundidades.
Por outro lado, as consociações de culturas são muitas vezes realizadas para evitar a competição por luz. Para garantir este factor escolhe-se culturas com compassos de sementeira/plantação distintos para evitar o ensombramento das culturas que estão cultivadas no mesmo espaço.
Um outro objectivo da consociação de culturas é minimizar o aparecimento de pragas e doenças nas plantas. De facto, quando consociamos culturas de famílias botânicas diferentes estas apresentam menor probabilidade de serem atacadas por pragas e doenças. Torna-se portanto uma estratégia mais sustentável para tornar as culturas mais resistentes a problemas fitossanitários.
Um outro benefício pelo qual se faz consociação de culturas é a captação de azoto atmosférico utilizando leguminosas. Um exemplo deste tipo de consociações é o cultivo de feijão+milho. Dado que o milho é uma cultura esgotante/com necessidades muito grandes deste nutriente e o feijão é uma cultura fixadora natural de azoto, a consociação de ambas as culturas torna-se muito benéfica.
Quais os parâmetros de análise a ter em conta numa consociação de culturas?
1-Necessidades nutricionais de azoto das culturas
No caso de as culturas que vai produzir serem pouco exigentes neste macronutriente/pouco esgotantes, não será necessário consociar com uma leguminosa e poderá levar a consociação adiante (ex: cebola x pepino). No entanto, se as culturas a consociar tiverem diferentes exigências nutricionais, deve garantir que pelo menos uma das culturas a consociar necessita de fertilizações adequadas (ex.: adubação verde) ou então seja consociada com uma leguminosa. No caso de as duas culturas a consociar serem ambas exigentes em nutrientes não deve avançar com a consociação uma vez que vai exigir que aplique fertilizações muito intensas o que não promove uma agricultura sustentável.
2-Produtos finais obtidos em cada cultura
Neste parâmetro deve analisar-se se as culturas a consociar produzem produtos diferentes no momento da colheita. Exemplo: flores, folhas, frutos, tubérculos, etc. Se as culturas consociadas garantirem esta premissa pode avançar com a consociação em questão uma vez que muito provavelmente não competem pelos mesmos nutrientes. (ex: pepino x cebola)
3-Necessidades de luz
No caso das culturas necessitarem de luz em diferentes quantidades e se estas são inconciliáveis, a consociação não é aconselhável. No entanto, se uma das culturas a conciliar for mais alta e provocar o ensombramento da outra (desde que essa outra seja pouco exigente em luz solar) pode avançar com a consociação de culturas.
4-Melhoramento do solo em azoto
Se o seu objectivo é melhorar o solo em termos de azoto será interessante que uma das culturas a consociar seja uma leguminosa (cultura melhoradora). Ex: feijão-verde x cebola
5- Competição pela luz solar (em altura)
Se caso de as culturas a consociar possuírem alturas diferentes mas estas não entrem em competição entre si é uma consociação favorável. Caso as culturas a consociar estejam suficientemente afastadas entre si que não provoquem o ensombramento ou então possuam alturas semelhantes também representam igualmente uma consociação favorável.
No caso de as culturas a consociar apresentarem alturas diferentes e acabarem por competir por luz, deve descartar a hipótese dessa consociação.
6-Exigências em termos de temperatura
No caso de as culturas a consociar apresentarem as mesmas exigências de temperaturas a consociação é favorável. Este facto mantêm-se mesmo que estas exigências sejam diferentes desde que a temperatura máxima e mínima caibam no mesmo intervalo. No caso de as exigências de temperatura das culturas a consociar sejam muito diferentes esta consociação não é favorável. (ex: couves x alface)
7-Controlo de pragas, doenças e infestantes
Neste tipo de consociação deve-se considerar as plantas auxiliares que quando consociadas com outras culturas ajudem a repelir pragas ou atrair insectos auxiliares.
Exemplo:
aipo x couve: ajuda a repelir a traça-da-couve
alho francês x cenoura: repele a mosca da cenoura
8-Época de sementeira/plantação
Neste parâmetro deve-se considerar se as culturas a consociar apresentam épocas de sementeira/plantação coincidentes. Em caso positivo é uma consociação favorável. No caso de as épocas de sementeira/plantação não serem coincidentes a consociação é desfavorável uma vez que não pode ser feita ao mesmo tempo.
Exemplos de consociações favoráveis:
batata + facélia- repele o escaravelho da batata
couve + tomilho– repele a mosca-da-couve
melão+cebola– evita o fusário
Que culturas costuma consociar?
Agricultura e Mar