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Cientistas portugueses reagem a Cimeira do Clima

A Cimeira do Clima, realizada em Paris há duas semanas, resultou num acordo que fica aquém do necessário para mitigar o impacto dos gases de efeito de estufa, dizem os cientistas portugueses ouvidos pelo projecto Clima@EduMedia.

Este acordo marca o “final de 20 anos de impasse nas negociações climáticas”, diz Filipe Duarte Santos, director do laboratório de Sistemas, Instrumentalização e Modelação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e coordenador do CCIAM (Centre for Climate Change Impacts Adaptation and Modelling). “Os compromissos estabelecidos são voluntários e não obrigatórios, ou seja, não há qualquer sanção se os países não os cumprirem e o acordo é bastante omisso em relação ao mecanismo de verificação”, alerta.

O especialista enumera um conjunto de medidas que “poderiam ter estado no acordo e não estão”. Alguns exemplos são o “estabelecimento de um preço da tonelada de dióxido de carbono emitida, que não foi possível devido à oposição de alguns dos grandes produtores de petróleo como a Arábia Saudita e a Venezuela”; a “definição de uma meta quantificável para a redução das emissões globais até 2050, que estava nas primeiras versões do acordo com valores de 40 a 70% em relação a 1990, mas acabou por não constar do texto aprovado”; e ainda a clarificação das responsabilidades de financiamento dos países mais desenvolvidos em relação aos países menos desenvolvidos. Além disso, “ficou acordado um financiamento de cerca de 100 mil milhões de dólares por ano, mas não é claro quem disponibilizará essa verba”, refere.

Júlia Seixas,professora e investigadora na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, entende que “é mais sério os países aderirem a estes mecanismos e comprometerem-se a desenvolver o seu trabalho de casa, que será reavaliado de cinco em cinco anos, do que colocar objetivos ou números vinculativos a longo prazo”.

Porém, como explica António Guerner, director do departamento de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e investigador do projecto Clima@EduMedia, “os compromissos assinados pelos quase 200 países presentes deixam-nos, senão esperançados no futuro, pelo menos na expectativa do que poderá vir a acontecer. Infelizmente, ‘compromisso’ nem sempre é sinónimo de ‘medida concreta’ e, dada a diversidade de interesses em jogo, muitos dos países acabam por contornar o seu comprometimento tentando adiar a implementação das medidas acordadas entre todos”,

“Se dissessem que os subsídios que os Estados dão para a exploração de petróleo iriam parar, já seria algo concreto que veríamos acontecer. Estamos por um lado a querer atingir as metas, mas por outro estamos a financiar tudo o que é exploração e utilização de produtos de energias fósseis. Há muita incoerência que tem de ser esclarecida”, acrescenta Gil Penha-Lopes, pós-doutorando em Soluções Integradas de Adaptação face às Alterações Climáticas, da Universidade Nova de Lisboa.

Lembre-se que a 21ª Conferência das Partes terminou com a aprovação de um pacote de medidas destinado a reduzir as emissões de gases de efeito de estufa, pretendendo manter a subida de a temperatura do planeta “bem abaixo” dos 2º Celsius.

O site Clima@EduMedia integra um projecto desenvolvido pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto ao abrigo do Programa “AdaPT – Adaptando Portugal às Alterações Climáticas”, com a missão de apoiar a educação nacional em matéria de mudanças climáticas, através do uso dos média.

O objectivo do projecto consiste em promover abordagens inovadoras para o ensino e aprendizagem dos conteúdos ligados às alterações climáticas em diferentes escolas nacionais, dando particular destaque às áreas da adaptação e da mitigação.

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