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Arlindo Cunha: Estratégia do Prado ao Prato tem “ideias feitas a mais e ciência e ponderação a menos”

O ex-ministro da Agricultura, e actual presidente da Comissão Vitivinícola Regional do Dão, Arlindo Cunha, considera que “a Estratégia do Prado ao Prato tem voluntarismo e ideias feitas a mais e ciência e ponderação a menos”, realçando que “alguém nas instituições europeias anda a confundir estratégia com programas de execução a curto e médio prazo”.

As declarações foram feitas em entrevista à 4ª Edição da Revista Porbatata – Associação da Batata de Portugal, a principal publicação anual dedicada à fileira da batata em Portugal, já disponível online (ver no fim do artigo).

“Trata-se de uma estratégia decorrente do Pacto Ecológico Europeu, que é mediaticamente muito apelativa e na linha do que tem sido o principal fio condutor das alterações à PAC [Política Agrícola Comum] nos últimos anos. Sobre esta evolução no sentido de melhor assegurar a sustentabilidade do sector agroalimentar, estamos todos de acordo. O problema é que alguém nas instituições europeias anda a confundir estratégia com programas de execução a curto e médio prazo”.

Para o ex-ministro da Agricultura de Cavaco Silva (1990-1994), “uma estratégia é um plano de longo prazo, que aponta um rumo para o qual deveremos tendencialmente caminhar. Coisa diferente é estabelecer metas muito concretas e a prazo de menos de 10 anos, sem que tenha havido uma justificação técnico-científica de tais quantificações e dos seus impactos na produção, nos preços a pagar pelos consumidores, na segurança dos abastecimentos ou nos rendimentos dos agricultores”.

E alerta ser “sobejamente reconhecido que a União Europeia tem o sistema alimentar mais avançado do Mundo, com regras ambientais e de segurança alimentar muito acima das outras grandes potências agroalimentares com as quais concorre nos mercados mundiais. Pretender agora ir ainda mais longe dá legitimidade à interrogação de saber se os custos adicionais do ajustamento às novas regras não colocam a agricultura europeia numa situação de ainda maior dificuldade competitiva face aos seus concorrentes internacionais. Obviamente que sim, que coloca”.

UE “terá de reavaliar as metas”

Por isso, considera que a União Europeia (UE) “terá de reavaliar as metas e os respectivos prazos, até porque muita coisa mudou nos mercados agroalimentares mundiais (produção, transformação e distribuição) com a crise da Covid e com a guerra na Ucrânia”, salientando que a Estratégia do Prado ao Prato reflecte uma agenda muito marcada pelas metas de descarbonização da economia “merece algumas reservas, especialmente na forma como o sector agrícola e, em especial, a actividade pecuária, são encarados”.

“Na verdade, não se entende como é que um sector que apenas representa 10,3% das emissões de gases com efeito de estufa a nível mundial, merece tanta ênfase, face às actividades reconhecidamente mais poluentes, como sejam os sectores da produção de energia, dos transportes ou da indústria”, frisa Arlindo Cunha em entrevista à 4ª Edição da Revista Porbatata.

E acrescenta ser “ainda mais difícil de entender se considerarmos que a UE representa apenas 7,3% das emissões mundiais dos gases com efeito de estufa, contra os 33% da China ou os 13% dos Estados Unidos. Ou seja, se considerarmos que a actividade agropecuária europeia não representa sequer 1% dessas emissões ao nível mundial”.

Pode ler a 4ª Edição da Revista Porbatata aqui.

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