Artigo de opinião de Rosa Moreira, Eng.ª Agrónoma, promotora do site A Cientista Agrícola
Desde há muito anos que as algas são utilizadas na alimentação e suplementação humana e animal e também na produção de biocombustível. Na agricultura, as algas são um recurso renovável com uma ampla gama de aplicações.
Numa era em que é cada vez mais importante a criação de soluções sustentáveis que mantenham e aumentem a produtividade agrícola, as algas surgiram como uma opção bastante promissora para responder a este desafio agrícola cada vez mais urgente.
No entanto, a algacultura ainda não obteve uma posição muito explorada dentro da agricultura, principalmente em Portugal, apesar dos benefícios a elas associados. Neste artigo vou falar-te sobre como tirar proveito das algas na agricultura. Sabia que as algas são usadas desde há muito tempo na agricultura como fertilizantes? Neste artigo conhece mais sobre as algas e o seu potencial em na agricultura!
O que são as algas?
As algas são um grande e diverso grupo de seres vivos fotossintéticos, uma vez que capturam a energia solar para produzir o oxigénio que usamos para respirar, carregando consigo a importância de serem responsáveis por 50 % da produtividade fotossintética da Terra. Geralmente, associamos as algas a seres vivos que crescem em meio aquático e, de facto, a maioria habita em ambientes de água doce e salgada, mas podem ocorrer em quase todos os ecossistemas habitáveis da Terra: solo, fontes termais, desertos e até mesmo em ambientes glaciares.
As algas são divididas em dois grupos: macroalgas e microalgas.
As macroalgas são algas grandes, tradicionalmente conhecidas como algas marinhas castanhas (Phaeophyta), vermelhas (Rhodophyta) e verdes (Chlorophyta), existindo, no entanto, outras espécies marinhas e de água doce.
Já as microalgas são seres microscópicos e que podem ser encontrados como parte constituinte do fitoplâncton, em vários tipos de solo, em simbiose com fungos (os tão conhecidos líquenes) e em várias outras superfícies terrestes e aquáticas. Neste grupo também se incluem as tão famosas cianobactérias, grupo em que se insere a spirulina, sendo as únicas algas capazes de fixar azoto atmosférico.
Conheça os benefícios do uso das algas na agricultura
Muitos estudos indicam que as algas têm um conteúdo elevado de macro e microelementos necessários para o desenvolvimento das plantas.
Devido às suas propriedades benéficas quando aplicadas no solo, o uso das algas na agricultura é uma prática ancestral, principalmente no cultivo de arrozais.
As algas marinhas mais utilizadas na agricultura são as algas vermelhas: Corralina mediterrânea, Jania rubens, Pterocladia pinnata; algas verdes: Cladophora dalmática, Enteromorpha intestinalis, Ulva lactuca e algas castanhas: Ascophyllum nodosum, Ecklonia maxima, Saragassum spp.
Tal como os fertilizantes químicos, as algas fornecem carbono orgânico aos solos, uma vez que o incorporam na sua biomassa, através da fotossíntese, melhorando a agregação e estabilidade do solo. Esta é uma propriedade bastante relevante, pois a falta de carbono orgânico no solo é uma das maiores causas de perda de qualidade e fertilidade do solo. No caso particular das cianobactérias, a sua capacidade singular em fixar azoto e solubilizar o fósforo, aumentando a disponibilidade destes nutrientes no solo, torna-as de particular interesse para a agricultura, já que o azoto é um dos nutrientes mais limitantes no solo.
Além disso, as algas promovem o crescimento de microrganismos que transformam os nutrientes do solo indisponíveis para as plantas em formas disponíveis. As algas produzem polissacarídeos que quando incorporados no solo induzem o crescimento de outros microrganismos e aumentam a actividade de enzimas do solo que participam da liberação de nutrientes requeridos pelas plantas.
Para além de melhorarem a fertilidade do solo, as algas são capazes de contribuir para o crescimento e protecção das plantas oferecendo uma independência no uso de fertilizantes e pesticidas químicos. As algas, produzem substâncias bioactivas que influenciam positivamente o crescimento das plantas e também libertam fitoquímicos que ajudam no controlo de pestes e patogénicos. Por exemplo, as algas marinhas castanhas (Ascophyllum nodosum) produzem um polissacarídeo chamado laminarina que é conhecido por activar a defesa natural das plantas contra contaminação fúngica, bacteriana e vírica (DOI: 10.1007/978-981-16-7080-0_2). Outros estudos realizados com as algas marinhas em macieiras (Malus domestica) demonstraram que estas foram capazes de estimular a germinação e defender as plantas de fungos.
Outro facto interessante associado especialmente às cianobactérias é a sua capacidade de produzir de lodo e mucilagem. Como algumas cianobactérias vivem em junção com as raízes das plantas este lodo ou mucilagem dispersa-se e dissolve-se parcialmente no solo fornecendo nutrientes e despoletando a defesa das plantas contra ataques excretam. É também conhecida a capacidade deste grupo de microrganismos em remover metais pesados durante seu crescimento em ambiente/águas poluídas.
Outra das vantagens do uso das algas na agricultura é a melhoria das propriedades físicas do solo onde são aplicadas. As algas são capazes de segregar substâncias poliméricas extracelulares que ajudam a agregação do solo melhorando a sua estrutura, evitando erosão e permitindo uma melhor retenção de água no solo.
O uso das algas também é muito importante para a recuperação de nutrientes de efluentes, gerando biomassa de algas em efluentes ricos em nutrientes, principalmente azoto e fósforo, e reciclando esses nutrientes de volta ao solo quando usadas para a produção agrícola.
Como aplicar as algas na agricultura
As algas são um recurso de bastante conveniente aplicação. Mais concretamente, a biomassa das algas pode ser aplicada de diferentes formas como indicado na imagem abaixo.
Em França, era muito comum o espalhamento de algas inteiras (sargaço) nos campos para preparar a plantação de couve-flor, alcachofra, batata ou árvores de fruto, pois a biomassa das algas é decomposta e convertida em nutrientes específicos para o solo, nomeadamente carbono, azoto e fósforo.
No entanto, a aplicação de algas marinhas na agricultura é maioritariamente feita sob a forma líquida. O efeito positivo dos fertilizantes líquidos é, principalmente pela maior concentração e biodisponibilidade dos compostos de interesse. Estes produtos podem ser aplicados nos campos através de pulverização foliar ou diretamente no solo e também por imersão das sementes no extrato líquido.
Na agricultura, há uma preocupação crescente de que a poluição ambiental causada pelo desequilíbrio de nutrientes e uso excessivo de fertilizantes químicos e pesticidas esteja direta ou indiretamente relacionada a problemas de saúde humana. Desta forma os diversos efeitos positivos que a biomassa de algas (ou compostos por elas produzidos) têm em solos e plantas torna-as um potencial bastante sustentável e promissor. Evidências crescentes sustentam que as algas são fontes adequadas para o desenvolvimento de vários bioprodutos para a agricultura:
- Biofertilizantes (Biomassa de algas que serve de alimento aos microrganismos que melhoram a disponibilidade dos minerais no solo);
- Fertilizantes orgânicos (Biomassa de algas como fonte de nutrientes);
- Bioestimulantes;
- Agentes de biocontrolo contra pragas e patogénicos;
Artigo adaptado do
https://doi.org/10.1016/j.algal.2021.102200
Agricultura e Mar