“Uma das estratégias possíveis para assegurar um quadro de viabilidade económica das explorações agrícolas de sequeiro poderá passar pelo reforço do seu carácter extensivo, focando-as no aproveitamento dos recursos endógenos e assegurando um ambiente produtivo que assegure a salvaguarda dos recursos naturais em cima dos quais se exercem as suas actividades”.
As declarações são do engenheiro agrónomo e agricultor João Madeira, também criador, no concelho de Mértola, de ovelhas campaniças, uma raça autóctone, adaptada à escassez de recursos, escritas no seu artigo, publicado na edição nº 31 da publicação Cultivar – Cadernos de Análise e Prospectiva, dedicada ao sequeiro, intitulado “O sequeiro do Sul, viabilidade económica, perspectivas e políticas”.
Segundo João Madeira, “no quadro das explorações agropecuárias de sequeiro, a laborar num quadro climático marcado por temperaturas elevadas e níveis de precipitação baixos e degressivos, parece-nos lícito afirmar que a artificialização significativa dos sistemas de produção, aumentando, por um lado, a dependência do exterior e esbarrando, por outro, na fraca capacidade de controlo das variáveis mais relevantes para a produção vegetal, aumentará inevitavelmente o risco associado à produção e porá em causa a viabilidade económica dessas mesmas explorações”.
“Assim, será razoável concluir que a redução do risco para níveis compatíveis com a manutenção de um quadro de viabilidade económica, num contexto de mudança climática, a que se junta uma elevada volatilidade dos mercados dos factores de produção, nomeadamente o dos alimentos para animais, poderá estar associada, por um lado, à optimização do aproveitamento dos recursos endógenos das explorações e, por outro, à redução da dependência do exterior ou, dito de outra forma, da manutenção de um nível elevado de autonomia face ao exterior”, acrescenta.
Traduzindo estas linhas estratégicas para o quadro das explorações agropecuárias, adianta João Madeira, “acabamos por ter uma analogia com o conceito de pecuária extensiva, tal como definido no âmbito da actividade do Centro de Competências do Pastoreio Extensivo, como um sistema de produção animal baseado no uso de pastagens permanentes e co-produtos agrícolas pastoreáveis, com baixa utilização de factores de produção externos, que fomenta os serviços dos ecossistemas, combate a desertificação e cria condições económicas para a fixação de população no território”.
Mas, realça que “esta analogia entre viabilidade e extensividade, particularmente ao nível da produção animal, pode colidir com alguns estereótipos consolidados ao longo das últimas décadas, fruto, em larga medida, da importação de termos utilizados na regulamentação agrícola comunitária, para a linguagem comum. Um desses equívocos é precisamente a dissociação do carácter extensivo da autonomia alimentar, quase como se bastasse deter animais ao ar livre”.
“Outro, igualmente perverso, é o da aceitação, relativamente acrítica, da impossibilidade de as explorações extensivas poderem ser viáveis”, escreve aquele agricultor.
Pode consultar a edição nº 31 da publicação Cultivar – Cadernos de Análise e Prospectiva aqui.
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