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A produção vitivinícola pode ser mais sustentável?

Artigo de opinião de Tiago Luís, Coordenador de Alimentação da ANP|WWF

Acreditamos que a colaboração entre o setor agrícola e ONGs de ambiente não só é possível como pode trazer resultados benéficos para as pessoas e o planeta. Por isso, quando a Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) desafiou a ANPlWWF a contribuir para a revisão do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), não pensámos duas vezes e agarrámos de imediato essa oportunidade. Se por um lado tivemos a oportunidade para aumentar a ambição de muitos critérios de sustentabilidade já a serem implementados e para criarmos alguns novos critérios, por outro lado, criaram-se então as condições necessárias para (finalmente) trabalharmos lado a lado com o setor agrícola – provando mais uma vez que as parcerias entre organizações não-governamentais de ambiente e o setor agrícola são mais do que importantes, são incontornáveis num momento em que as alterações climáticas estão já a condicionar em larga escala a produção de alimentos.

A mais recente versão do Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo, criado em 2015 e que conta hoje com 639 membros, pretende manter a região vitivinícola na vanguarda das práticas sustentáveis. O objetivo é que os produtores que aderem ao PSVA, representando atualmente 58% da área total de vinhas no Alentejo, possam, através do uso mais responsável dos recursos necessários para a cultura das vinhas, tornar a produção mais resiliente e adaptada às condições naturais. Estas condições permitem preservar a região do Alentejo como o conhecemos e simultaneamente, garantir a qualidade da produção e responder à enorme pressão que as alterações climáticas já colocam neste território.

Esta revisão do PSVA, dando especial atenção a critérios como biodiversidade, pesticidas, clima e água, incluiu dois novos capítulos, totalizando 20. Foi acrescentada uma secção dedicada à “Resiliência e Adaptação às Alterações Climáticas”, abordando variáveis como medidas de adaptação e mitigação às mudanças climáticas, avaliação da necessidade de água e pegada de carbono. No que respeita à biodiversidade, por exemplo, foram introduzidos alguns novos critérios relacionados com práticas dedicadas à promoção de polinizadores, promoção do restauro ecológico e conectividade de habitats, e a valorização dos serviços de ecossistema.

Incluídos 29 novos critérios

Embora os 171 critérios de avaliação tenham sido mantidos, 74% foram melhorados, e foram incluídos 29 novos critérios, com destaque para variáveis como o uso de castas mais resilientes e diversidade genética, eficiência dos fatores de produção (como água e eletricidade), promoção do consumo responsável de vinhos, equidade salarial entre géneros e contribuição para a inclusão social de pessoas com deficiência. Este trabalho de revisão do PSVA reforça o compromisso dos produtores em melhorar as suas práticas ambientais, beneficiando a região, a comunidade e o país como um todo, destacando-se de outras iniciativas e alcançando um diferencial crucial para o reconhecimento internacional dos Vinhos do Alentejo.

Este projeto vai ao encontro do que temos advogado nos últimos anos: a construção e defesa de um sistema alimentar que respeite os limites do nosso planeta e defende que esta deve ser a prioridade nos próximos anos, considerando que a alimentação é a atividade humana com a maior pegada ambiental. Precisamos de assegurar que os alimentos produzidos são de qualidade, saudáveis, e positivos para a natureza, ou seja, que promovem a biodiversidade e combatem as alterações climáticas. O planeta, a nossa saúde e cada vez mais consumidores assim o exigem.

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