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O Despacho e a Pedagogia. Opinião Portugal Nuts

Opinião de de António Saraiva, Director Executivo da Portugal Nuts – Associação de Promoção de Frutos Secos

É difícil não concordar com a recente declaração do Presidente da EDIA: “Não podemos deixar que se diga que a agricultura tem de gastar menos água”.

António Saraiva

Paralelamente, também sou da mesma opinião quando refere que a agricultura “…faz transformar a água em alimentos”. Utilizar a água para regar e com isso criar valor alimentar e económico não é tarefa simples nem pode ser confundido com a terminologia “gastar”.

Mas é perfeitamente aceitável que se diga que a agricultura deve utilizar mais eficientemente a água. Porque além de ser uma verdade que não carece de muitas explicações, a dura realidade está aqui à nossa frente, e não podemos ignorar o que experienciamos e que reiteradamente ouvimos da ciência, na forma de alerta urgente.

Muito temos ouvido e lido sobre o contributo que se espera da agricultura para a mitigação e adaptação às alterações climáticas e para os objetivos nacionais e globais de redução das emissões de gases com efeito de estufa.

No mês passado, conhecemos as restrições que o Despacho 2/2023 de 22 de maio da Ministra da Agricultura e Alimentação, veio impor à instalação de culturas permanentes e à reconversão de culturas permanentes existentes por outras com maiores exigências hídricas que as existentes, em áreas precárias. E muito se escreveu sobre o que foi dito (e não dito). A apreensão instalou-se nos beneficiários dos aproveitamentos agrícolas com culturas permanentes, pela chegada de mais uma proibição, suavizada no considerando inicial do referido Despacho que justifica a sua publicação como medida de mitigação e de adaptação, que visa contribuir para a resiliência dos sistemas agrícolas.

Reforço também uma preocupação assente na “ajuda” que é conferida aos empresários agrícolas com culturas permanentes, dizendo que as dotações anuais de rega por cultura (muitas vezes mencionadas como “tetos de uso de água”), comunicadas pela EDIA, são uma medida pedagógica e não preventiva. Não posso concordar.

A pedagogia do uso eficiente da água tem sido feita pelos empresários agrícolas ao longo de muitos anos, através de experiências por sua conta e risco, por iniciativa própria ou estimulados pelas inovações que lhes têm sido apresentadas por empresas privadas, mas também por observação e comparação ao que, nesta matéria, se faz noutras partes do globo. Esta pedagogia tem tido êxito. Os níveis de adoção são crescentes e a eficiência no uso da água é indispensável a quem instalou, investiu e trabalha em modernos pomares de frutos secos. A Portugal Nuts reúne um conjunto de associados que transformam eficientemente a água de rega de que dispõem em valor económico e valor nutricional equilibrado.

As dotações de cariz “pedagógico” parecem apenas visar os que apostaram no amendoal, uma vez que é a única das culturas no perímetro de Alqueva à qual se pretende atribuir menos água do que a que os amendoais eficientemente conseguem transformar em valor.

Na Portugal Nuts estamos cientes dos desafios que o uso racional e eficiente da água de rega representa para todos. Fazemos parte do grupo da frente dos que querem usar a melhor tecnologia e o mais apurado conhecimento ao serviço da resiliência dos nossos pomares. Por isso mesmo, só entendemos o diálogo, a discussão participada e a busca das melhores soluções de compromisso, para o bem comum.

O conceito de pedagogia tem por base o ensino e a aprendizagem, ao qual se opõe a proibição e a imposição.

Ouçam-nos, não nos despachem…

Agricultura e Mar

 
       
   
 

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