Uma equipa da Escola Superior Agrária do Politécnico de Coimbra (ESAC-IPC) desenvolveu um trabalho de pesquisa que propõe a substituição do sal no pão por pó da planta halófita Sarcocornia perennis.
A equipa é constituída pelas professoras daquela instituição de ensino superior e membros da Unidade de Investigação e Desenvolvimento de Química-Física Molecular da Universidade de Coimbra (QFM-UC), Aida Moreira da Silva e Maria João Barroca, pela técnica superior Sandrine Ressurreição e pela estudante de Gastronomia Catarina Flores, em conjunto com Raquel Guiné, investigadora do CERNAS — Centro de Recursos Naturais, Ambiente e Sociedade do Politécnico de Viseu, e Nádia Osório, professora na Escola Superior de Tecnologia da Saúde do IPC e também membro da QFM-UC.
O estudo realizado por esta equipa, no âmbito to projecto PEARLs – PotEncial das plAntas maRítimas na aLimentação Saudável: contributos para o desenvolvimento sustentável do litoral português (Projeto INOVC+) e em colaboração com a empresa “Tertúlia de Sabores”, sita em Coimbra, teve como objectivo avaliar o potencial do pó de S. perennis como substituto nutricionalmente relevante do sal (sódio) no pão de trigo branco, tendo sido igualmente avaliadas e comparadas com o pão convencional as propriedades físicas, nutricionais, minerais, sensoriais e actividade microbiológica de duas amostras de pão no qual foi incorporado o halófito em causa.
Numa das amostras foi adicionada à base da farinha do pão uma quantidade de pó de S. perennis equivalente à dose normal de sal (0,47%). Na outra amostra, a equipa de investigação juntou o correspondente a metade da concentração de sódio (0,235%), explica a Agrária de Coimbra em nota de imprensa.
Este trabalho de investigação aplicada permitiu concluir que a adição de pó de S. perennis promoveu um aumento significativo de todos os nutrientes e minerais do pão, como cálcio, fósforo, ferro e manganês. Para além da melhoria na qualidade do produto, as amostras concebidas foram ambas sensorialmente bem aceites, sendo que na amostra onde o sal foi reduzido para metade, a aceitabilidade dos provadores não foi afectada, realça a mesma nota.
Adicionalmente, esta última amostra, dado que se apresenta como uma solução que possibilita a redução da ingestão diária de sódio, traduz-se em benefícios ao nível económico e de saúde pública e é igualmente mais promissora no que diz respeito a uma maior estabilidade ao longo do tempo em questão de deterioração microbiana, causada principalmente por fungos e leveduras.
Segundo Aida Moreira da Silva, promotora principal do projecto PEARLs, a relevância deste estudo prende-se com o facto de o pão ser “um bem alimentar consumido diariamente pela generalidade das pessoas e de ser uma importante fonte de sódio na dieta humana, cuja ingestão acima do necessário fisiologicamente tem sido associada a algumas doenças não transmissíveis, como hipertensão, doenças cardiovasculares e acidente vascular cerebral”.
Nesta medida, “entre as intervenções para reduzir o teor de sal no pão, a incorporação de pó de halófitas de sabor salgado pode ser uma estratégia a considerar seriamente”, realça.
Do trabalho resultou o artigo com o título “Re-Thinking Table Salt Reduction in Bread with Halophyte Plant Solutions”, recentemente publicado na revista indexada “Applied Sciences” da editora MDPI e disponível aqui.
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