As previsões agrícolas do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 28 de Fevereiro de 2023, apontam para um decréscimo de 5% na área semeada de cereais de Inverno. Apesar das elevadas cotações das commodities alimentares nos mercados mundiais, o aumento do preço dos meios de produção terá desincentivado os produtores a investirem nestas culturas, correspondendo os 100 mil hectares instalados à menor área de sempre.
Segundo o Boletim Mensal da Agricultura e Pescas – Março de 2023, do INE, as searas tiveram germinações regulares mas as condições meteorológicas de Fevereiro, nomeadamente a escassa precipitação, as baixas temperaturas e a formação de geadas, condicionaram o seu desenvolvimento, prevendo-se, ainda assim, um aumento de produtividade face à campanha anterior, fortemente marcada pela seca severa.
Referem ainda os técnicos do INE que as elevadas precipitações ocorridas de Outubro a Dezembro encharcaram os solos e impediram a entrada das máquinas nos terrenos, condicionando assim a realização das sementeiras dos cereais praganosos, o que contribuiu para decréscimos das áreas instaladas na ordem dos 15% no trigo mole, 20% no trigo duro, 10% no triticale e 5% na cevada.
E acrescentam que a germinação dos cereais de Inverno decorreu com relativa normalidade e, posteriormente, o frio de Janeiro e Fevereiro promoveu um bom enraizamento e afilhamento destas culturas. No entanto, a ausência de precipitação, bem como as geadas, conduziram a um abrandamento, ou estagnação, do desenvolvimento vegetativo das searas.
Por outro lado, as adubações de cobertura foram condicionadas pela falta de humidade, observando-se algumas searas com manchas amarelas devido à carência de azoto. Assim, e apesar do desenvolvimento vegetativo dos cereais praganosos ficar aquém do normal, prevê-se um aumento na produtividade da aveia de 25%, face à campanha anterior fortemente marcada pela seca.
Guerra na Ucrânia
Salienta ainda o o Boletim Mensal da Agricultura e Pescas – Março de 2023 que a comercialização dos cereais de Inverno, e do trigo em particular, foi, tal como outras commodities com produção significativa na Ucrânia e na Rússia, bastante afectada pelo conflito entre estes dois países, com reflexos directos nas cotações destes bens.
Segundo os técnicos do INE, a indefinição quanto à possibilidade de escoamento da produção ucraniana para o mercado internacional, que se prolongou por cerca de 3 meses, conduziu a picos de cotação do trigo, que, no final de Maio, atingiu valores próximos dos 440 euros por tonelada, correspondente a um aumento de 167 euros por tonelada (+61%), face ao início da guerra (24/02/2022).
A partir daí, e com o acordo para exportação estabelecido, a tendência inverteu-se e as cotações começaram a descer, o que, em conjugação com o aumento dos preços dos meios de produção, terá desincentivado os produtores nacionais a aumentar a área destas culturas (em Setembro/Outubro de 2022, período em que grande parte dos produtores terá tomado a decisão final relativamente às opções culturais da campanha, as cotações do trigo já rondavam os 330 euros por tonelada).
Agricultura e Mar