A Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável defende que a União Europeia (UE) deve “acabar com os subsídios à energia produzida a partir de biomassa lenhosa primária” assim como “excluir florestas primárias e de crescimento antigo, e zonas húmidas, como áreas de abastecimento de biomassa para energia”.
Segundo a Associação, a UE “está a destruir as florestas sem qualquer ganho”. “Os dados da UE mostram que a queima de árvores e outras biomassas para energia mais do que duplicou desde 1990. Desde 2002, quando a UE promoveu pela primeira vez a queima de madeira para produção de electricidade “renovável”, perdeu 25% da sua capacidade de sumidouro de carbono”.
Assim, a Zero defende ainda que a UE, no âmbito das negociações no Trílogo com vista à redacção da revisão da Directivas das Energias Renováveis, deve “adoptar uma definição de biomassa lenhosa primária que seja baseada na ciência e implementável” e “limitar e eliminar progressivamente (até 2027-2030) a contabilização da biomassa lenhosa primária para as metas de energias renováveis”, frisando que “o Governo português tem uma palavra a dizer durante os Trílogos para proteger as nossas florestas”.
Explica a associação em comunicado que a queima de árvores para energia “prejudica o clima, a biodiversidade e a qualidade do ar, custando milhares de milhões de euros, e ameaça a indústria da madeira que é responsável por produtos de valor acrescentado que permitem o sequestro de carbono a longo prazo. Os líderes da UE devem investir em fontes de energia que sejam verdadeiras renováveis como a solar e a eólica”.
E acrescenta que a política da UE “procura reduzir as emissões de CO2 através da Directiva das Energias Renováveis (RED), e aumentar o sequestro de CO2 pelas florestas e outros ecossistemas através do Regulamento LULUCF. O corte e queima de biomassa florestal (“biomassa lenhosa primária”), isto é, troncos retirados directamente da floresta com o objectivo de produzir pellets para aquecimento ou para queima para produção de electricidade, fornece uma parte significativa da energia renovável consumida na UE, mas contribui para o aumento das emissões e para a redução da capacidade de sumidouro de carbono da floresta europeia”.
Pinheiro-bravo afectado em Portugal
Quanto a Portugal, diz a Zero que a floresta de pinheiro-bravo “está em declínio acentuado, sobretudo associado aos incêndios, pelo que a quantidade de madeira de pinho retirada das florestas será superior à que pode ser extraída de forma sustentável, exigindo à indústria a importação de grandes quantidades, sobretudo de Espanha, para suprir a escassez de matéria-prima para as indústrias ligadas ao pinheiro-bravo”.
“Apesar da indústria de produção de pellets e centrais de biomassa alegarem que apenas os resíduos florestais e industriais são usados como matéria-prima, existem evidências de que estão claramente dependentes de grandes volumes de rolaria ou seções do tronco de árvores, resultando numa pressão acrescida sobre a floresta”, acrescenta o mesmo comunicado.
E estima que em Portugal, em 2021, “foram produzidas cerca de 815.000 toneladas de pellets de madeira, para as quais foram necessárias mais de 1,5 milhões de toneladas de madeira. Cerca de 510.000 toneladas foram exportadas, na sua maioria, para queimar nas centrais a carvão que foram, entretanto, convertidas e outras centrais de queima de biomassa para produção de electricidade no Reino Unido, na Dinamarca e na Holanda”.
Acresce que, “existem em Portugal cerca de 21 centrais de biomassa dedicadas ou em regime de cogeração licenciadas, correspondendo a um total de 283 MW, que necessitam anualmente de cerca de 4 milhões de toneladas de alegada biomassa residual”, diz ainda a Zero.
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