“Apesar de ter o seu lugar no mercado, a agricultura biológica não deve ser promovida ao ponto de implicar negativamente a agricultura convencional europeia”, considera o director executivo da Anipla – Associação Nacional da Indústria para a Protecção das Plantas, João Cardoso.
Em artigo publicado na edição n.º 26 da publicação Cultivar – Cadernos de Análise e Prospectiva, do GPP — Gabinete de Planeamento Políticas e Administração Geral, do Ministério da Agricultura, João Cardoso salienta ainda que “os limites máximos de resíduos (LMR) [de pesticidas] são estabelecidos tendo em conta um princípio precaucionário, dando uma margem de 100 vezes para o valor cientificamente recomendado e muitas vezes com factores adicionais, se necessário”.
Realça o director executivo da Anipla que “Com a FAO [Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura] a estimar que necessitamos de aumentar em 60% a produção de alimentos para garantir a segurança alimentar global em 2050, deve-se destacar que, por exemplo, (…) em 2017 a SAU [Superfície Agrícola Utilizada] da agricultura biológica na UE [União Europeia] era de 7%, dos quais 44,5% eram dedicados a culturas aráveis e 11% a culturas permanentes. Os restantes 44,5% eram pastagens permanentes. Tal faz com que a agricultura biológica seja incapaz de responder à necessidade estimada pela FAO“.
“A evidência de que os produtos de agricultura biológica são mais seguros, nutritivos e saudáveis não tem uma base científica convincente. Porém, estes factores são influenciados por outros parâmetros, como sejam as condições climáticas, a fertilização da cultura ou o património genético da planta”
Por outro lado, João Cardoso refere que o modo de produção biológico (MPB) “é caracterizado por um baixo rendimento face à agricultura convencional, que poderá ir até 34% de quebra. Como já foi referido, a indústria apoia os agricultores biológicos com soluções, de modo a aumentarem a produtividade e responderem aos desafios que enfrentam. Contudo, aumentar a fracção da agricultura biológica pode levar a diversos problemas estruturais”.
Dependência de importações
“Por um lado, coloca a UE numa situação em que os Estados-membros ficam mais dependentes de importações para suprirem a procura alimentar. Por outro lado, isto significa um aumento do uso da terra fora da UE, o que poderá ter um efeito negativo ao nível da desflorestação, exportando, desta forma, o problema da conservação da biodiversidade, uma vez que um aumento da agricultura biológica levará, potencialmente, a aumentar também a área agrícola de modo a produzir a mesma quantidade de alimentos”.
Segundo o director executivo da Anipla “importa referir que os limites máximos de resíduos (LMR) são estabelecidos tendo em conta um princípio precaucionário, dando uma margem de 100 vezes para o valor cientificamente recomendado e muitas vezes com factores adicionais, se necessário”.
“Fazendo uma analogia com a segurança rodoviária, quando circulamos a 120 km/h, devemos guardar uma distância do veículo da frente de, pelo menos, 60 metros. Se fosse aplicado o mesmo princípio que rege os LMR, teríamos de guardar uma distância para o veículo da frente de pelo menos seis quilómetros”, frisa aquele responsável.
E adianta que “esta introdução ajuda a explicar por que razão os alimentos produzidos em MPB ganham a preferência dos consumidores, numa tentativa de responder a estes receios relatados. No entanto, na realidade, tais receios são infundados, sendo os produtos alimentares provenientes tanto da agricultura convencional como da agricultura biológica perfeitamente seguros”.
Biológicos mais nutricionais?
João Cardoso escreve também que “outro argumento prende-se com os valores nutritivos dos alimentos cultivados em MPB face ao modo convencional. Este aspecto também não encontra correspondência na literatura, tendo sido realizados estudos com esse objectivo em 2009 que não encontraram evidência de diferenças entre os dois tipos de produtos agrícolas ao nível da segurança para a saúde e ao nível nutricional”.
E “em 2022, foi publicada uma nova revisão científica, que corrobora que os alimentos produzidos em modo biológico não estão menos contaminados por metais pesados, micotoxinas e bactérias que os produtos convencionais, destacando que o MPB tem menos soluções para controlar a presença de micotoxinas e de bactérias nos seus produtos, podendo este ser um motivo de preocupação para os consumidores”.
“O mesmo estudo conclui que a evidência de que os produtos de agricultura biológica são mais seguros, nutritivos e saudáveis não tem uma base científica convincente. Porém, estes factores são influenciados por outros parâmetros, como sejam as condições climáticas, a fertilização da cultura ou o património genético da planta”, acrescenta o director executivo da Anipla.
Pode ler este artigo na íntegra e toda a edição n.º 26 da publicação Cultivar aqui.
Agricultura e Mar
E que tal se, em vez de gastarmos recursos para aumentarmos em 60 por cento a produção de alimentos, canalizamos esses recursos para diminuirmos os gigantescos desperdícios dos alimentos que já produzimos?