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Mesa redonda no Parlamento Europeu arrasa credibilidade do Nutri-score

“O Nutri-score é o passado. Um esquema de formato único que é o antigo modelo hegeliano onde um grupo de elite de cientistas aprova um algoritmo que afirma ser perfeito e aplicável a todos. No entanto, quando política ou interesses comerciais assim o decidem, o algoritmo pode ser alterado e as notas para produtos selectivos podem passar do vermelho ‘E’ para amarelo ‘C’”, disse Pietro Paganini, fundador do Competere.eu, no passado dia 12 de Outubro, no Parlamento Europeu, durante uma mesa redonda dedicada à futura rotulagem nutricional frontal (FoP) obrigatória.

O Nutri-Score, rótulo que classifica os produtos alimentares mais e menos saudáveis, conferindo-lhes uma letra com um código, do verde escuro (A) ao vermelho escuro (E), tem gerado polémica entre os agricultores europeus. Depois dos produtores italianos de azeite protestarem esta classificação, foi a vez dos produtores espanhóis dizerem não. Uma polémica que, segundo o que se ouvi nesta mesa redonda, não estará prestes a chegar ao fim.

No mesmo debate, o Professor Ramon Estruch, da Universidade de Barcelona, considerou que “estamos à procura de recomendações dietéticas individualizadas para cada cidadão, com a ajuda de programas de IA [Inteligência Artificial]. (…) O Nutri-Score foca-se no que há de ruim num alimento. O algoritmo calcula a sua nota, dando 40% de peso para os efeitos negativos de um alimento e apenas 15% para os efeitos positivos”.

E o próprio relator para a estratégia Do Prado ao Prato, o eurodeputado Herbert Dorfmann, declarou que “o Nutri-Score é simples e simples demais. Comete erros óbvios”, passando a recomendar que o Nutri-Score seja avaliado pelo seu resultado sobre os efeitos na saúde do consumidor nos países que introduziram o sistema – França, Bélgica, Alemanha – antes de ser implementado na Europa.

Por outro lado, Herbert Dorfmann frisou que “a opacidade do algoritmo e a realidade de que o Nutri-Score é um sistema de propriedade privada carente de transparência, é problemático”, porque “dá às cadeias de supermercados um poder que pode ser abusado para influenciar a escolha do consumidor sobre as suas decisões. (…) É um sistema no interesse das cadeias de distribuição e isso é um problema”.

Rotulagem europeia em 2023

A Comissão Europeia está a rever o Regulamento 1169/11 para adoptar uma rotulagem nutricional frontal (FoP) obrigatória nas embalagens até o final de 2022, como parte da estratégia do Prado ao Prato, sendo o sistema preferido, até agora, o Nutri-score, rótulo que classifica os produtos alimentares mais e menos saudáveis, conferindo-lhes uma letra com um código, do verde escuro (A) ao vermelho escuro (E). Espera-se que a Comissão apresente a sua proposta final para uma rotulagem comum no início de 2023, quando a Suécia assumir a presidência da União Europeia (UE).

Por isso, o eurodeputado espanhol Jordi Canas (Ciudadanos – Espanha) e o think-tank Competere.eu lançaram um debate no Parlamento Europeu, no passado dia 12 de Outubro, que juntou mais de 200 pessoas num painel de alto nível de cientistas, pequenas e médias empresas e associações de consumidores. O tema em debate foi: “Empoderar os consumidores: Reforma dos rótulos da FoP: saúde, conhecimento, liberdades”.

Segundo um comunicado da Competere.eu, a mesa redonda “apresentou argumentos baseados na ciência para ajudar os formuladores de políticas a produzir políticas públicas que melhorem as liberdades individuais e a liberdade de escolha, avancem no conhecimento e no pensamento crítico individual, fortaleçam o livre comércio, protejam as dietas e tradições locais e promovam uma dieta saudável e sustentável”.

 

E realça que os rótulos FoP “são ferramentas importantes porque podem determinar ou condicionar o comportamento e a liberdade de escolha dos consumidores. Eles podem direccionar ou capacitar os consumidores. Por trás da FoP há uma interpretação filosófica dos papéis que o Estado e os cidadãos desempenham. Esta mesa redonda ajudou os participantes a entender a ciência (nutrição, economia, filosofia) por de trás da reforma da FoP”.

Alimentos saudáveis no vermelho?

Mas as críticas ao sistema Nutri-score na mesa redonda “Empoderar os consumidores: Reforma dos rótulos da FoP: saúde, conhecimento, liberdades”, não se ficaram por aqui.

Veronique Willems, da SME Europe, em representação das pequenas e médias empresas na europeias, destacou que “as PME estão a enfrentar graves aumentos de custos na actual crise financeira e muitas vezes enfrentam discriminação e exclusão das linhas de produtos dos supermercados”. E como se isso não bastasse, “o Nutri-Score faz com que muitos produtos tradicionais e potencialmente mais saudáveis, como os produtos artesanais, pareçam menos saudáveis ​​do que os produtos comerciais processados”. E adiantou que a Comissão Europeia “precisa sempre de verificar com as PME se o sistema [de rotulagem] que escolhe é viável, porque as PME estão a fornecer alimentos a nível regional”.

O Competere é um think tank onde são desenvolvidas ideias e estratégias que permitem aos seus parceiros alcançar o máximo de resultados na concepção e comunicação de campanhas políticas dirigidas a instituições, empresas, associações comerciais e ao público.

Conta com uma equipa de especialistas, académicos, analistas, consultores e  “profissionais que garantem soluções credíveis e vencedoras”. Produz análises, pesquisas e estudos para promover a competitividade, a inovação económica e social, a simplificação de organizações complexas, o desenvolvimento sustentável dos processos produtivos.

Refrigerante e ketchup mais saudáveis que o azeite?

Em Agosto foi anunciada uma actualização significativa do algoritmo do Nutri-score algoritmo que irá melhorar a classificação de alguns graus de azeite, incluindo azeite virgem extra. Mas os novos dados ainda não são conhecidos.

Em Fevereiro de 2021, a Revista Agricultura e Mar, perante tantas vozes contra este sistema de rotulagem, consultou o Open Food Facts, que reúne dados e informação sobre produtos alimentares de todo o Mundo, classificados pelo Nutri-score.

Resultado: há um azeite português classificado com a letra “D”, a menos saudável da escala, apesar de todos os outros estarem classificados com “C”, ainda assim, uma classificação inferior à de refrigerantes com zero açúcar que merece a letra “B”, ou à de uma embalagem de pudim de caramelo, com a letra “A”, a classificação mais saudável. Também a manteiga de amendoim é classificada com a letra “A”. Até a Fanta de uva está melhor colocada que o azeite, com a letra “B”.

O sistema Nutri-score considera o azeite (letra “C”) tão saudável quanto um pacote de batatas fritas light, uma embalagem de lasanha congelada, uma pizza congelada, uma embalagem de ketchup com menos 50% de açúcar e sal, uma lata de refrigerante com gás de laranja, ou uma embalagem de sopa em pó. Saiba mais aqui.

Agricultura e Mar

 
       
   
 

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