A CEPM – Confederação Europeia dos Produtores de Milho, da qual o presidente da Anpromis — Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo, Jorge Neves, é vice-presidente, diz que na derrogação das obrigações de pousios e rotação” há “uma exclusão inadmissível do milho”.
Explica a Confederação em nota de imprensa que, no contexto da guerra na Ucrânia, que está a desestabilizar profundamente os mercados agrícolas e o sistema alimentar mundial, alguns Estados-membros solicitaram uma derrogação das BCAE 7 e 8 [Boas práticas agrícolas e ambientais] para o ano 2023”. A proposta da Comissão Europeia, apresentada a 22 de Julho, responde a este pedido, mas a CEPM condena o facto de “o milho e a soja não serem tidos em conta sob o pretexto de que estas culturas se destinam à alimentação animal”.
A CEPM salienta que os mercados mundiais e europeus de milho foram seriamente desestabilizados pela invasão da Ucrânia. A Ucrânia é o 4º maior exportador mundial de milho (16% das exportações mundiais) e o 1º fornecedor da União Europeia (55% das suas importações).
“É também um dos principais importadores de milho a nível mundial nos últimos anos. Embora o recente acordo diplomático, sob a égide da Turquia e da ONU, deva permitir facilitar o comércio de milho, isto levará muito tempo, dados os danos materiais causados pela agressão russa às infra-estruturas ucranianas”, diz a mesma nota de imprensa.
Além disso, salienta, “a produção ucraniana continuará perturbada pelo menos durante a campanha 2022/2023, dada a diminuição das áreas e as dificuldades dos produtores ucranianos em expressar todo o potencial das suas culturas no contexto actual”.
Embora a alimentação animal continue a ser o principal mercado para o milho na União Europeia, a CEPM gostaria de salientar que “os produtos animais também contribuem para a soberania alimentar europeia e para uma reduzida dependência de fertilizantes sintéticos”.
Milho no consumo humano
A Confederação deseja também salientar que “uma proporção significativa do milho europeu é utilizada directamente para consumo humano, particularmente sob a forma de sêmola, amido e milho doce. Em muitos países da América Latina, África e Ásia, o milho é um importante alimento básico da dieta humana”.
E acrescenta que, no estado actual dos mercados mundiais, “estes países são directamente afectados pela subida acentuada dos preços ligada à invasão da Ucrânia. Tal como no caso do trigo, cada tonelada de milho indisponível no mercado mundial causa dificuldades adicionais para estes países e as suas populações. Ao excluir o milho, a proposta da Comissão Europeia não tem em conta esta realidade”.
A Confederação Europeia dos Produtores de Milho considera esta situação “totalmente inaceitável”.
Finalmente, a CEPM “deseja recordar, tal como a Comissão Europeia, que é necessário adaptar-se ao contexto recente da invasão da Ucrânia e prosseguir os objectivos do Pacto Verde Europeu. Isto exige que a Comissão Europeia assegure a coerência entre as suas políticas comerciais, agrícolas e ambientais, caso contrário reforçará a tendência observada nos últimos anos da soberania agrícola e alimentar da União Europeia ser posta em causa e a quota-parte das importações de milho de países que não respeitam os elevados padrões de produção seguidos pelos produtores europeus, continuará a aumentar”.
A CEPM envolve actualmente 10 países — Alemanha, Bulgária, Espanha, França, Hungria, Itália, Polonia, Portugal, Roménia e Eslováquia — e representa cerca de 90% da superfície de milho semeada ao nível da União Europeia, numa área total que ronda os 15 milhões de hectares — 9 milhões de hectares de milho grão, 6 milhões de hectares de milho silagem e 240 mil hectares de outras produções.
Agricultura e Mar