O défice a balança comercial portuguesa de trigo em 2022 pode agravar se em 165 milhões de euros, ou seja, um aumento de cerca de 60% face a 2022, refere o Instituto Nacional de Estatística (INE).
Numa conjuntura em que as questões relativas à auto-suficiência e segurança alimentar adquirem uma importância crescente, “a enorme dependência de Portugal em relação ao abastecimento de trigo tornou-se ainda mais preocupante (há mais de uma década que o grau de auto-aprovisionamento é inferior a 10%), escrevem os técnicos do INE no seu destaque “A economia do trigo”.
Em 2021, apenas 6,3% da utilização interna de trigo (consumo humano, alimentação animal, utilização industrial, etc.) era satisfeita pela produção nacional, o que compara com 59,9% em 1990.
“No cenário de redução estimada da produção potencial, tendo em conta as previsões de área (-8%) e de produtividade (-10%), e considerando que o consumo interno se mantém ao nível de 2021 e admitindo, como hipótese técnica, que o preço de exportação do trigo no porto de Rouen se manteria, até ao final de 2022, ao nível registado a 18 de Maio passado (443€/tonelada), o impacto na balança comercial portuguesa de trigo em 2022 já seria de um agravamento do défice próximo de 60% face a 2021 (considerando os dados já conhecidos do comércio internacional de bens para o 1º trimestre de 2022), correspondente a cerca de 165 milhões de euros (o que representaria perto de 1% de agravamento do défice global, tomando como referência o valor de 2021)”, escrevem os técnicos do INE no seu destaque “A economia do trigo”.
Explica o INE que a instabilidade política repercutiu-se nos mercados mundiais das commodities agrícolas, que reflectiram na cotação do trigo a importância que a Rússia e a Ucrânia têm na produção mundial deste cereal. Globalmente, a Rússia e a Ucrânia produzem conjuntamente cerca de 12% da produção mundial de trigo (média 2010-2020).
Durante o mês de Maio, o preço de exportação do trigo no porto de Rouen (um dos principais portos europeus em transacções de cereais) atingiu máximos históricos de 443€/tonelada, o que reflecte um aumento de 51% desde o início do conflito na Ucrânia e de 80% quando comparado com o mês homólogo.
No último mês, o aumento do preço de exportação desta commodity foi 9%, um acréscimo que resultou fundamentalmente da proibição de exportação de trigo da Índia.
Pode ler o destaque “A economia do trigo” aqui.
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