Diário de bordo da missão Biometore
“O plano da campanha só previa uma estação de amostragem com palangre-de-fundo no Tyro nesta primeira parte do cruzeiro. Dado que não conhecíamos a batimetria fina dos dois primeiros montes submarinos (Pico Sul e Tyro), tivemos que utilizar algum tempo a sondar os fundos. Na realidade as profundidades que encontrámos são em geral maiores do que aquelas que julgávamos e estações de palangre têm sido muito fundas. Hoje cobrimos fundos desde dos 730 até aos 1500 m. Os espécimenes capturados foram muito poucos e só nas profundidades mais baixas se capturaram alguns tubarões de profundidade, espadas-preto, melgas e pouco mais. Capturámos uma espécie pouco comum, a Laemonema robustrum, um parente das abróteas.
O lander de imagem está com alguma “teimosia” e hoje não o conseguimos mergulhar para obter imagens do topo do Tyro. O Sérgio, o técnico de electrónica, sempre incansável, tem-se esforçado para tentar perceber o problema mas não está fácil. Talvez amanhã no Irving ele “desperte para a vida” e consigamos utilizá-lo. O hélice de proa do Arquipélago também avariou sem razão aparente. Apesar de não ser motivo para cancelar a missão as alagens dos aparelhos tornam-se mais difíceis e podem comprometer alguns dos objectivos que foram traçados, pois ainda temos muitos dias de trabalho pela frente.
Estas são contingências que acontecem mas que não desmoralizam as 14 pessoas que estão a bordo nesta missão. O estado do tempo está óptimo, a temperatura do mar está nos 24°C, e pelas 13:00h saímos do Tyro e iniciámos a viagem para o Irving (31° 57,747’ N – 028° 05,357’ W) a cerca de 112 milhas mais a sul (396 milhas da Horta), onde chegaremos chegar cerca da 01.00h do dia 9. Em 2007 fizemos algum trabalho neste monte submarino e por isso já temos alguns dados de batimetria, o que nos vai facilitar a escolha dos locais a amostrar.”
A campanha a bordo do navio Arquipélago, coordenada pelo DOP/IMAR/MARE, decorre durante todo o mês de Julho e irá estudar os montes submarinos Pico Sul, Tyro, Irving e Great Meteor, utilizando vários equipamentos, para recolher e amostrar os peixes demersais ou de fundo e os crustáceos que ocorrem nestas áreas. Por se situarem numa zona remota e de difícil acesso em geral estes montes submarinos são ainda mal conhecidos. Apesar disso, enquanto que os montes submarinos Tyro, Irving e Great Meteor já foram objecto de campanhas científicas anteriores, o Pico Sul continua desconhecido aos cientistas.
O projeto Biometore, coordenado pelo IPMA- Instituto Português do Mar a da Atmosfera, conta com inúmeros parceiros nacionais e internacionais e envolve muitas especialidades científicas. Este grande projecto pretende recolher informação nos montes submarinos do complexo Great Meteor, na área a Sul dos Açores, mas também do complexo Madeira-Tore, entre o Continente e a Madeira que serão também alvo de campanhas científicas nos próximos meses. O objectivo geral do projecto visa aumentar o conhecimento sobre a biodiversidade destas áreas e a sua caracterização oceanográfica e será um importante contributo para fornecer informação útil ao país no âmbito da Diretiva-Quadro “Estratégia Marinha”.
Foto: Imagens obtidas pelo lander a cerca de 1.500 metros, mostrando dois tubarões de profundidade e vários congrinhos-da-fundura.
Agricultura e Mar Actual