Início / Agricultura / Ambientalistas “maior artificialização da bacia hidrográfica do Tejo” só serve para “abastecer uma agricultura cada vez mais insustentável”

Ambientalistas “maior artificialização da bacia hidrográfica do Tejo” só serve para “abastecer uma agricultura cada vez mais insustentável”

Os ambientalistas da Coligação C6 condenam mais uma obra que, garantem, “contraria o Pacto Ecológico Europeu, privilegiando investimentos dispensáveis em detrimento do cumprimento das metas ambientais europeias” e que apenas serve “para abastecer uma agricultura cada vez mais insustentável”.

Em causa está uma nova infra-estrutura para reforçar os caudais do Médio Tejo, através de um túnel que transvasa água da albufeira de Cabril (no Zêzere) para a de Belver (no Tejo), fazendo com que aquele afluente desagúe no Tejo mais a montante do que a sua foz natural em Constância.

Trata-se de um investimento de 100 milhões de euros para a construção de um túnel com mais de 50 quilómetros entre a barragem do Cabril, no Zêzere, e Belver, no Alentejo.

Para a Coligação C6, “ao invés de promover uma agricultura insustentável utilizando água que é cada vez mais escassa, os nossos decisores deveriam apoiar uma agricultura capaz de providenciar uma alimentação saudável a todos ao mesmo tempo que garante a sustentabilidade ambiental e do próprio sector”.

Mas os ambientalistas não criticam apenas esta obra, equacionada pelo ministro do Ambiente e Acção Climática, João Pedro Matos Fernandes. “Esta é mais uma de várias obras de grande envergadura que estão a ser projectadas e politicamente negociadas no Rio Tejo, para além da já aprovada construção do aproveitamento de fins múltiplos do Crato (barragem do Pisão): a barragem de Ocreza e o megalómano projecto de açudes e barragens no Médio Tejo, que prevê um investimento de 4.5 mil milhões de euros”, com o argumento de que o mesmo servirá “para fornecer água a 300 mil hectares das regiões do Ribatejo, Oeste e Setúbal nos próximos 30 anos”.

Graves impactos ambientais

Para Afonso do Ó, especialista em Água na ANP-WWF, “além dos elevados custos económicos desnecessários – suportados em grande parte por todos os contribuintes – estas infra-estruturas hidráulicas comportam graves impactos ambientais, vão contra a tendência da maioria dos países europeus que estão a apostar na remoção de barreiras fluviais e renaturalização dos rios, e falham redondamente no cumprimento das políticas e legislação europeias em vigor”.

Por sua vez, o presidente da direcção Nacional da LPN —  Liga para a Protecção da Natureza, Jorge Palmeirim, “os fundos públicos deveriam ser aplicados precisamente em estratégias e acções que fossem ao encontro dos objectivos estabelecidos a nível europeu e não em medidas que põem em risco o seu cumprimento, e que geram custos ambientais significativos a médio-longo prazo”.

Directiva Quadro da Água

Salienta o um comunicado da Coligação C6, que integra as maiores Associações de Defesa do Ambiente portuguesas e é constituída pelo Geota, FAPAS, LPN, Quercus, SPEA e ANP/WWF, que os princípios da Directiva Quadro da Água estabelecem a promoção de caudais ecológicos e o restauro da conectividade natural dos rios.

Mas, garantem, “estes projectos navegam na direcção oposta, procurando reter a pouca água que temos nos nossos rios para abastecer uma agricultura cada vez mais insustentável, e ignorando o estado ecológico das massas de água ibéricas”. E relembram também a Estratégia Do Prado ao Prato determina que a produção de alimentos “tenha um impacto ambiental neutro ou positivo, preservando e restaurando os recursos terrestres, de água doce e marítimos dos quais depende o sistema alimentar”.

“Ao contrário do que advoga o Ministro, estes projectos não representam uma “solução com impactos ambientais baixíssimos”, mas sim um atentado ambiental e uma prova do desinteresse em cumprir as metas ambientais estabelecidas internacionalmente, em prol de uma agricultura prejudicial à saúde das águas, dos solos e da alimentação humana”, garante a Coligação C6.

Agricultura e Mar Actual

 
       
   
 

Verifique também

Projecto ATLIC. Candidaturas aos Laboratórios de Economia Azul terminam a 15 de Maio

Partilhar              O Projecto ATLIC – Atlantic Innoblue Communities, liderado pela Câmara Municipal de Santo Tirso, que …

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.