Quase dois terços dos decisores empresariais das regiões Norte e Centro não sabem o que é a Indústria 4.0, mas mais de 90% acha a inovação “crucial” para o futuro das suas empresas.
Estas são as principais conclusões de um inquérito que a Norgarante, sociedade de garantia mútua (SGM) que opera nas duas regiões, realizou entre os quase 700 participantes nos quatro debates sobre “Portugal 4.0 – rede de inovação” que promoveu, nas últimas semanas, noutras tantas cidades.
Segundo Teresa Duarte, presidente executiva daquela operadora financeira, os resultados dos inquéritos aos participantes na quinta edição dos Fóruns Norgarante vieram “validar a escolha do tema e o timing da abordagem” que a organização quis fazer a empresários, gestores e empreendedores do Norte e Centro.
Do contacto que mantêm com as mais de 22 mil empresas que constam da sua carteira de garantias vivas, os responsáveis da Norgarante “tinham noção do défice de informação e da pouca apetência” do tecido empresarial do Norte e Centro para as questões da inovação e da digitalização da economia, antecipa a presidente da maior sociedade de garantia mútua portuguesa.
No entanto, os resultados do inquérito aos participantes nas sessões havidas no Porto, Viseu, S. João da Madeira e Braga permitiram “retratar uma realidade mais complexa”. Apesar da capacidade industrial instalada e da qualidade do trabalho feito nas universidades e politécnicos das duas regiões, as empresas nelas sediadas “ainda não estão identificadas com as megatendências da indústria mundial e os desafios e oportunidades que se lhes colocam” com a chamada quarta revolução industrial. Daí que “não se sintam suficientemente preparados para operar num ambiente económico em que a tecnologia e a optimização dos processos digitais de criação, fabrico e gestão se constituem em factores críticos de sucesso”, adianta a primeira responsável pela organização dos V Fóruns Norgarante.
Empresários do Porto e Braga menos informados
Depois de tratadas as respostas dados pelos quase 700 participantes nas quatro sessões realizadas, verifica-se que “mais de 63%” dos participantes disseram “não conhecer o conceito Indústria 4.0”. Mas, elucidou Teresa Duarte, “uma maioria expressiva, acima dos 92%, reconhece que a inovação é um factor crucial” para a sustentabilidade das suas empresas e a competitividade das duas regiões, que no conjunto respondem por quase 60% das exportações nacionais.
Os custos associados às actividades de inovação e de investigação e desenvolvimento (I&D) são o principal factor dissuasor do investimento empresarial nestas áreas, evidenciam os resultados do inquérito. Apesar disso, só uma percentagem pouco significativa (7,7%) dos inquiridos considera a inovação como “não crucial”. Mais são os empresários do Norte e Centro do continente que não conhecem as entidades que os podem ajudar nessa matéria.
Os participantes na sessão que decorreu em S. João da Madeira são aqueles que mais familiarizados estão com o assunto, apesar de as respostas positivas terem igualado as negativas, com 50% para cada lado. Curiosamente, quem esteve presente nos encontros de Braga (81%) e do Porto (64%) foi quem revelou estar menos informado sobre a indústria do futuro. Só depois surge Viseu, região em que, extrapolando os resultados do inquérito, 60% dos empresários não conhece o que é Indústria 4.0.
O peso dos custos inerentes à inovação (34,2%), a falta de meios e recursos endógenos vocacionados para isso (27,5%), a dificuldade na obtenção de financiamento para investir nesta área (18,7%) e o desconhecimento das entidades aptas a apoiar as empresas inovadoras (11,7%) são os principais óbices identificados pelos decisores empresariais inquiridos, na sua esmagadora maioria ligados a micro, pequenas e médias empresas instaladas nas sub-regiões NUTS III da Área Metropolitana do Porto, Cávado, Ave e Viseu Dão-Lafões.
Norgarante vai informar empresários dos apoios existentes
Na última sessão dos V Fóruns Norgarante, esta semana realizada em Braga, Teresa Duarte apresentou os resultados preliminares do inquérito, realizado à entrada das quatro sessões com recurso a meios electrónicos, e adiantou que a Norgarante “vai fazer um esforço de informação e divulgação dos apoios existentes” à inovação e I&D. Se esse é o “caminho certo para o reforço da competitividade e o desenvolvimento tecnológico” das empresas portuguesas e “existem fundos e programas disponíveis”, tanto nacionais como comunitários, então é chegada a altura de “fazermos todos os investimentos certos e com sentido estratégico”. Para tanto, o sistema nacional de garantia mútua “saberá dar o seu contributo”, porque, afirmou, “queremos continuar a ajudar as nossas empresas a crescer e a serem cada vez mais competitivas”.
Este ciclo de encontros, dirigidos a empresários e empreendedores dos principais polos económicos das regiões Norte e Centro, arrancou no Porto, a 14 de Outubro, e passou por Viseu, no passado dia 3, e São João da Madeira, no dia 17. Terminou em Braga, na última terça-feira, dia 29.
O orador principal foi sempre um administrador da Agência Nacional de Inovação e entre os participantes contaram-se, em qualquer uma das quatro sessões, empresários e gestores, empreendedores, dirigentes de associações empresariais, responsáveis de instituições financeiras, agentes do sistema científico e tecnológico e consultores.
Para além de estimular o debate, o principal propósito da Norgarante foi o de registar as opiniões dos participantes sobre a digitalização da economia e a importância que a inovação, enquanto factor de criação de valor, tem para as nossas empresas.
Investimentos viabilizados superiores a 24 mil milhões de euros
A Norgarante é umas das quatro sociedades operacionais do Sistema Nacional de Garantia Mútua (SNGM), estando vocacionada para apoiar as micro, pequenas e médias empresas (PME) das regiões Norte e Centro no acesso a financiamento bancário e a prestação das garantias necessárias ao desenvolvimento da sua actividade.
Em quase 15 anos de actividade, esta SGM apoiou 42.323 entidades (PME, empresários em nome individual, empreendedores e instituições do sector social, sobretudo), mediante a prestação de mais de 99 mil garantias, no valor de 5.196 milhões de euros.
Desta forma, a Norgarante ajudou a criar ou a manter cerca de 763 mil postos de trabalho, viabilizando investimentos superiores a 10,3 milhões de euros. No final de Agosto passado, detinha uma carteira viva de garantias emitidas que ultrapassava os 1,5 milhões de euros.
Só nos primeiros nove meses deste ano, a Norgarante emitiu 7.145 garantias, num montante que ultrapassa os 480,4 milhões de euros, permitindo que as empresas mutualistas beneficiárias tivessem investido mais de 795 milhões de euros. No mesmo período, foram apoiadas no acesso ao crédito 6.085 entidades, cujo volume de emprego ultrapassa os 116 mil postos de trabalho.
O SNGM é um sistema privado, mutualista e de apoio às PME. Surgiu há mais de 20 anos, através de um projecto piloto da SPGM – Sociedade de Investimento. Esta sociedade promoveu a criação das operacionais do sistema, as SGM, e de um fundo nacional de contra-garantia, dotado com dinheiros públicos, que se denomina Fundo de Contra-garantia Mútuo (FCGM) e que cobre parte do risco assumido pelas SGM. Através deste fundo, são mantidas activas diversas linhas de garantias, susceptíveis de utilização pelas quatro SGM portuguesas – Agrogarante, Garval, Lisgarante e Norgarante.
Na globalidade do SNGM e desde o lançamento da garantia mútua em Portugal, já foram emitidas mais de 210 mil garantias, num valor global superior a 12 mil milhões de euros. Até Agosto passado, estas garantias permitiram a cerca de 90 mil entidades, sobretudo PME, fazer investimentos de mais de 24 mil milhões de euros e criar ou manter mais de 1 milhão de postos de trabalho.
Agricultura e Mar Actual