A seca voltou este ano a fustigar concelhos do Baixo Alentejo, com Mértola e Almodôvar a terem de abastecer populações através de auto-tanques e os agricultores a enfrentarem dificuldades para dar de beber ao gado.
Numa ronda efectuada pela agência Lusa junto de vários municípios do distrito de Beja, foi possível constatar que a escassez de chuva, não só este ano, mas também durante 2015, está a causar problemas neste período de Verão para fornecer água aos habitantes de algumas localidades e ao efectivo pecuário, segundo cita o site da Confagri – Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas de Portugal.
Segundo informação disponibilizada na página da Internet do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), as regiões do sotavento Algarvio e Baixo Alentejo encontravam-se no final de Julho em situação de seca fraca.
De acordo com o índice meteorológico de seca, referido no Boletim Climatológico do IPMA referente ao mês de Julho, verificou-se em relação a Junho um ligeiro aumento da área em situação de seca nas regiões do sotavento Algarvio e do Baixo Alentejo, que representa agora 9,3% do território de Portugal continental.
Mértola
Mértola, no distrito de Beja, é um dos concelhos “a braços” com a falta de água, com o presidente da câmara, Jorge Rosa, a lembrar que “há dois anos que não chove nada de especial” e a reclamar do Governo “o estado de seca ou de seca extrema” para que possam ser adoptadas medidas extraordinárias para apoiar os agricultores e produtores pecuários.
Ao nível do abastecimento às populações, a falta de água afecta, para já, “duas localidades”, com cerca de 100 residentes, onde os depósitos locais têm de ser abastecidos por auto-tanque.
“E temos mais duas localidades, com perto de 150 habitantes”, onde, de acordo com a monitorização dos furos efectuada pela câmara, “a água está a acabar”, relatou.
Mas a situação “mais complicada”, segundo o autarca, prende-se com a agricultura. Tal como acontece com ribeiras e riachos, “boa parte das charcas e das barragens não tem água”.
Há agricultores de “várias explorações agrícolas e pecuárias”, indicou, que têm de ir buscar água para dar de beber ao gado “ao rio Guadiana e a outras barragens com mais capacidade, a vários quilómetros e distância”, com depósitos transportados por tractores.
“É insustentável para eles e muito complicado fazer isto diariamente”, disse, referindo existirem outras explorações “em que a água deve acabar nas próximas semanas”. Jorge Rosa defendeu que “se justifica”, a adopção de medidas por parte do Ministério da Agricultura para “tentar minimizar este problema e ajudar os agricultores, para que possam dar água aos seus animais e continuar a sua actividade pecuária”.
“Temos estado em contacto com a Secretaria de Estado da Agricultura”, que “está a acompanhar a situação”, afirmou o autarca, manifestando-se esperançado de que, “nos próximos dias”, possa “haver algum desenvolvimento” que contribua para solucionar o problema.
Almodôvar
Já no município de Almodôvar, por terem secado os furos locais de captação de água, estão a ser abastecidas por auto-tanque, semanalmente, oito localidades, num total que deve rondar os “300 a 400 habitantes”, disse o presidente da câmara, António Bota.
“Nem as pessoas se apercebem, porque os bombeiros vão com o auto-tanque da Protecção Civil Municipal, enchem os depósitos e todos têm água nas torneiras”, explicou.
Os bombeiros, afiançou, “vão dando ‘conta do recado’, mas se mais localidades ficarem sem água”, as autoridades locais “passam a não ter capacidade de resposta”, tornando-se necessária a colaboração da Águas Públicas do Alentejo, empresa gestora do sistema multimunicipal de abastecimento público, e da Protecção Civil distrital.
Em Almodôvar não há tantas “dores de cabeça” como em Mértola, em relação à agricultura. “Além de terem sido instalados dois pontos de água onde os agricultores podem ir buscar a que precisam para dar de beber ao gado, existem inúmeros poços de água não potável, que servem para os animais”, explicou o autarca.
Ourique
Ainda no distrito de Beja, o presidente da Câmara de Ourique, Marcelo Guerreiro, admitiu também à Lusa alguns “problemas de seca” no concelho, apesar de estarem “salvaguardadas todas as questões de abastecimento de água” às populações, a partir da barragem do Monte da Rocha.
“A agricultura é que está a ser afectada. A barragem ainda tem água suficiente para o abastecimento público, mas, se o nível de armazenamento baixar, poderá estar em risco a rega na área de regadio” local, afirmou, acrescentando que os produtores pecuários, apesar de terem furos, “estão a sentir problemas”, sendo previsível que estes “se agravem até ao final do verão”.
Agricultura e Mar Actual