O medronho serve para muito mais do que fazer aguardente: esta foi uma das ideias reforçadas na Conferência do Medronho, que se realizou no dia 12 de Outubro e lotou o auditório Mariano Gago no Centro Ciência Viva da Floresta, em Proença-a-Nova.
A conferência foi encerrada pelo vice-presidente da Câmara Municipal de Proença-a-Nova, João Manso, que convidou o público a preencher uma ficha de identificação do produtor de medronho, desafiando-os a começarem a plantar esta espécie. No final realizou-se uma degustação de produtos com medronho e ainda foi oferecido ao público um medronheiro.
Na sessão de abertura, o presidente do Município de Proença-a-Nova, João Lobo, afirmou que a conferência, “para além de partilha de experiências e de dar a conhecer as potencialidades do fruto, é também o início de uma nova fase em que queremos dar ao medronho uma capacidade diferenciadora na sua valência territorial”.
Diversas finalidades do fruto muito típico da região
A iniciativa reuniu vários oradores, que mostraram as diversas finalidades deste fruto muito típico da região e de toda a zona mediterrânica.
O evento ficou marcado pela apresentação ao público do pão de medronho, um produto idealizado e feito pelo chef de cozinha e investigador do Instituto Politécnico de Leiria, Rui Lopes, que apresentou todas fases de estudo e fabrico até ao produto final, que foi degustado pelo público no final da Conferência.
Este especialista falou ainda sobre os potenciais químicos e nutricionais do medronho, lamentando que “não haja em Portugal fábricas de transformação deste fruto, e as que existem servem apenas para a sua destilação”, salienta fonte da autarquia de Proença-a-Nova.
Já Tiago Cristóvão, que tem uma plantação de medronho de dois hectares desde 2013, falou sobre a sua viabilidade económica e alertou que não podemos olhar para esta fruta “como algo que nasce de forma silvestre, que apanhamos e com ela fazemos aguardente e vende-se de forma tradicional”.
Fundos comunitários não valorizam o medronho
O produtor garante que a “viabilidade económica do medronho passa por ter uma fileira estruturada, desde a produção primária até ao consumidor” e lamenta que as “candidaturas comunitárias lançadas pelo Ministério da Agricultura não valorizam quem aposta neste tipo de culturas”.
Por sua vez, o engenheiro agrónomo João Dias abordou a sustentabilidade do fruto e admitiu que “ainda conhecemos muito pouco sobre o medronho e nesta região ainda há muito para fazer em relação a este fruto e estamos na altura certa para o fazer”.
Filomena Gomes, professora da Escola Superior Agrária de Coimbra, apresentou as características do fruto e do medronheiro, afirmando que se trata de uma “espécie que se adapta a diferentes condições de solo e clima e tem uma grande capacidade de regeneração após os incêndios florestais”.
E António José Henriques, do Instituto Social Cristão Pina Ferraz, falou sobre a dimensão social e territorial da cultura do medronho, levantando a problemática da desertificação do interior do País.
Maturação, fermentação e destilação
Ainda segundo fonte institucional da Câmara, o enólogo Francisco Antunes abordou a temática da maturação, fermentação e destilação do medronho, apresentando como se deve fazer correctamente o processo de destilação da aguardente de medronho e como as más práticas utilizadas pelos produtores podem prejudicar a sua produção e o produto final.
Fátima Curado e João Gama, da Direcção Regional de Agricultura e Pescas do Centro, mostraram o contributo do medronheiro para a defesa da floresta, na sua utilização ornamental e do seu contributo na gestão e valorização do espaço agro-florestal.
Agricultura e Mar Actual