Artigo de opinião de Rosa Moreira, Eng.ª Agrónoma, promotora do site A Cientista Agrícola
Produção de soja em Portugal: contextualização
A produção de soja em Portugal é praticamente inexistente.
Actualmente, não existe tradição na produção de soja, reduzindo-se a actividade nesta cultura a ensaios de variedades e a pequenas áreas e produção nas regiões do Centro e Sul do País, onde a produção é insuficiente para satisfazer as necessidades do país neste oleaginosa.
Para cativar a adesão dos agricultores com a produção de soja, será imprescindível facultar-lhes alternativas de utilização.
Produção de soja em Portugal: a importância do azoto
O azoto apresenta-se como o macronutriente mais abundante nas plantas, sendo também o que é mais exigido .
De todos os nutrientes minerais, o azoto é o mais importante para o crescimento das plantas, influenciando o crescimento das folhas e consequentemente, a disponibilidade de hidratos de carbono disponíveis para o crescimento, a taxa fotossintética, bem como o número e tamanho dos órgãos de armazenamento.
Sendo o azoto fundamental para o desenvolvimento vegetal, é de prática comum a sua adição aos terrenos para aumentar a sua produtividade.
Em virtude da poluição provocados pela acumulação de nitratos nos solos, nos últimos anos, têm vindo a ser procuradas alternativas à fertilização química.
Rotação de culturas: a utilização da cultura da soja
Uma das formas de solucionar este problema anteriormente referido poderia passar pela utilização de rotação de culturas, como por exemplo a utilização de leguminosas com o milho, na região de Entre Douro e Minho, que é considerada uma cultura esgotante do azoto no solo.
Nesta região agrária têm-se verificado nas últimas décadas mudanças estruturais e económicas muito significativas.
As políticas de ordenamento do território, o crescimento de vários sectores económicos, a gestão dos factores de produção na exploração agrícola e o aparecimento de unidades de transformação agro-industrial, provocaram a degradação dos ciclos agro-florestais, dando lugar a sistemas agro-pecuários intensivos, baseados em bovinos de raças exóticas, especializados na produção de leite.
Uma das soluções para esta série de problemas, pode passar pela incorporação no sistema de produção, de uma leguminosa como a soja, que apresenta exigências edafo-climáticas idênticas às da cultura do milho que tão bem se adapta às condições de produção da região de Entre Douro e Minho.
Produção de soja em Portugal: a minha experiência com a cultura
Entre 2015 a 2017, no âmbito da minha dissertação de mestrado intitulada “Avaliação da produção e utilização de soja nas condições de produção da região de Entre Douro e Minho” fiz dois estudos:
- Estudo 1: Avaliação da produção de soja na região de Entre Douro e Minho
- Estudo 2: Estudo de possíveis alternativas da sua utilização.
Estudo 1: delineamento do estudo
No primeiro estudo (composto por dois ensaios distintos) foram avaliadas diferentes densidades de sementeira (357000,278000 e 95000 plantas por hectare) de forma a determinar qual a que permite representar ou possibilitar um maneio mais facilitado da cultivar PR91M10, associado a uma boa produtividade agrícola de acordo com as características da região (Ensaio 1.1.). Posteriormente, foi avaliado num segundo ensaio a adaptação de 13 variedades de crescimento indeterminado de graus de maturação diferentes (IV, V; VI), (Ensaio 1.2).
Estudo 2
No segundo estudo foram avaliadas a possibilidade de utilização da soja para a produção de silagem(Ensaio 2.1), com soja(S) e milho(M) em diferentes proporções(6M:6S e 6S:4M) onde se analisou entre outros factores a composição nutricional das diferentes silagens produzidas.
Nos ensaios 1.1. e 2.1, os tratamentos constaram em 3 densidades diferentes, testando-se três espaçamentos entre-linha de (0,35; 0,45; 0,70 m) e dois espaçamentos entre plantas na linha (0,08; 0,20 m).
As características avaliadas no ensaio 1.1 foram: altura das plantas, peso total das plantas, número de ramificações e as componentes de rendimento.
Já no ensaio 1.2, utilizou-se o espaçamento de 0,70m entre linhas, e duas repetições com uma área de 9,8m × 2m. Em ambos os ensaios, realizaram observações e registos semanais, nomeadamente altura das plantas, número de ramificações e estádios fenológicos.
No ensaio 2.1 avaliou-se a composição nutricional dos diferentes silos produzidos comparando-a com a silagem tradicional de milho.
Algumas conclusões
As principais conclusões obtidas foram as seguintes: o espaçamento entre-linha em que foi possível obter um melhor rendimento foi no de 0,35 m correspondente a 357000 plantas por hectares (Ensaio 1.1.); as variedades de crescimento indeterminado não estão adaptadas à região de Entre-Douro e Minho verificando-se um crescimento em altura demasiadamente excessivo e uma tendência para o acamamento muito pronunciada, sendo as variedades correspondentes a ciclos de maturação mais precoces onde se obteu ainda assim melhores resultados (Ensaio 1.2).
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Nota: Toda a informação que teórica e prática que se encontra nesta obra foi adaptada da dissertação acima referida, pelo que tem um carácter fortemente prático podendo comportar-se como um “Guia de Produção”.