Entrevista a Pedro Courinha, Presidente da Aflosor
A Aflosor – Associação de Produtores Agro-Florestais da Região de Ponte de Sor, organizou no âmbito do GO Platisor, o workshop “Investigação e Inovação aplicadas ao Montado de Sobro”. O encontro realizou-se no dia 5 de Julho. E o agriculturaemar.com esteve lá.
Depois de um evento que teve casa cheia para assistir aos actuais paradigmas e desafios da investigação e inovação aplicadas ao Montado de Sobro, que teve o arranque com a intervenção do Director Regional de Agricultura e Pescas do Alentejo, José Godinho Calado, foi a vez de entrevistar o presidente da Aflosor, Pedro Courinha.
O eucalipto em si é uma árvore que não fez mal a ninguém e tem o seu espaço.
Acabaram de sair dados preliminares do 6.º Inventário Florestal Nacional. O que pensa do panorama florestal apresentado no documento? Há eucaliptos e sobreiro a menos ou não?
Há espaço para tudo na nossa floresta. Um dos problemas é ser rentável. Não há nenhum sistema agrícola ou florestal que seja possível manter se não for rentável. Muitas vezes é o equilíbrio entre o montado, o eucalipto, o pinheiro manso e bravo que permite ter uma certa rentabilidade. Há espaço para todas as culturas e todas têm a sua dimensão. Não pode haver nem só de umas nem só de outras.
Mas a base tem de ser sempre a mesma, para ser possível preservar qualquer sistema florestal tem de ser rentável.
A polémica que há à volta do eucalipto tem explicação científica ou é moda dizer mal do eucalipto?
A legislação florestal em Portugal é muito restritiva. Há coisas que foram feitas fora do enquadramento legislativo no que diz respeito ao eucalipto e essas estão incorrectas. O eucalipto em si é uma árvore que não fez mal a ninguém e tem o seu espaço. E é um sector económico importantíssimo em Portugal, ao nível de produção de pasta de papel.
Ao deixarmos de produzir eucalipto em Portugal isso implica importações de eucalipto para produção de pasta de papel. Logo estaríamos a desequilibrar a balança comercial.
Acho que devem haver regras, que devem ser tecnicamente validadas e não uma questão de lugares comuns para proibir a produção de eucalipto. Que é uma espécie importante na agricultura e floresta portuguesa.
O que espera do montado daqui a 20 anos?
Espero que, por práticas de maneio, consigamos controlar um pouco a mortalidade que tem existido em alguns montados, que se consiga aumentar a qualidade da cortiça e a quantidade de cortiça extraível e que esta continue a ser aproveitada a nível mundial como um produto de excelência essencial, por exemplo o vinho é de longe o mais importante, todas as outras são ainda acessórias.
Na Europa há muito poucas regiões em que se possa produzir produtos num ecossistema tão extensivo como aqui
O que se poderia fazer para valorizar mais os produtos do montado?
Nos dias de hoje, o marketing é essencial. Tem de se gastar em comunicação, em imagem e conseguir levar os mercados a perceberem a importância deste ecossistema. Repare que na Europa há muito poucas regiões em que se possa produzir produtos num ecossistema tão extensivo como aqui. Era importante levar esse reconhecimento a outros mercados internacionais.
E além da cortiça?
Temos desde os cogumelos do montado, que podem ser produtos de excelência, todas as plantas silvestres e aromáticas que se podem produzir no montando, temos o porco preto e temos o próprio montado em si e a visita ao montando em termos de turismo.
Quantos associados tem a Aflosor?
Cerca de 100 associados, quase todos da região de Portalegre. Entre esses produtores predomina a cultura do montado de sobro.
A Barragem do Pisão vai modificar o panorama florestal da região?
O perímetro de rega da futura Barragem do Pisão não chega ao concelho de Ponte de Sôr, mas a importância económica para o concelho irá ser significativa, como é evidente.
Na agricultura, quanto mais diversificação melhor, se conseguirmos introduzir mais regadio numa área que não o tinha, só vai melhorar a rentabilidade económica das explorações.
Agricultura e Mar Actual