Artigo de opinião de Jorge Miguel Teixeira, assessor parlamentar da Iniciativa Liberal
A agricultura portuguesa está ainda muito longe de ter realizado o seu potencial. Muitos dos seus problemas resultam de uma inércia política que tem constituído um obstáculo ao desenvolvimento de um setor agrícola mais pujante. Infelizmente, Portugal continua a padecer de vários problemas estruturais que o impedem de aproveitar maximamente o seu território de forma produtiva.
Nas últimas duas semanas, deram-se vários debates parlamentares acerca da temática do interior, da água, dos incêndios e da agricultura. Vive-se, no país, a sensação de que pouco se aprendeu com a tragédia de 2017 e que não há solução à vista para as transformações estruturais que se avizinham.
Segundo os dados do International Panel on Climate Change, as temperaturas médias em Portugal tenderão a crescer acima da média global: se nos ficarmos pelos 2.ºC extra de aquecimento global, em Portugal esse aumento poderá traduzir-se em 3.ºC. Isto implica uma aceleração maior dos fenómenos que já temos vindo a conhecer: uma redução da água disponível nas nossas bacias hidrográficas em 25%, levando a água salgada a subir cada vez mais no interior português; chuvas menos frequentes, mas mais intensas e destrutivas; secas cada vez mais prolongadas e mais dias de temperaturas altas.
“Ultrapassar a política de resignação”
Para os agricultores, nenhum destes fenómenos são novidade, pois são eles os primeiros a experienciá-los. Cada vez mais, temos conflitos sociais evitáveis em torno da utilização de água nas regiões do Algarve e do Alentejo. Alguns partidos mais radicais insistem em fomentar o conflito entre atividades, diabolizando tanto algumas das frentes mais competitivas da agricultura nacional, como o turismo do qual o país ainda depende, infelizmente, para manter o parco crescimento económico que apresenta. Para darmos a volta a esta situação, precisamos de ultrapassar a política de resignação que este Governo tem preconizado.
Hoje sabemos que o regadio é a solução mais viável para Portugal do ponto de vista económico. Não só não podemos contar com as chuvas como outrora contávamos, como sabemos que o hectare de regadio pode chegar a ser seis vezes mais produtivo que o de sequeiro. As nossas culturas mais competitivas assentam no regadio e na gestão cuidadosa da água. E não podemos, por isso, ignorar as oportunidades e os investimentos necessários para potenciar essa frente de competitividade nacional.
Regadio
Por isso é que levámos a plenário o nosso Projeto de Resolução relativo ao regadio, defendendo, entre outras medidas, um sistema nacional de transferência e abastecimento de água entre as bacias hidrográficas, fundamental não só para agricultura, mas para todas as atividades económicas que dependem da água; a monitorização e manutenção das infraestruturas de distribuição de água e de regadio, que ainda perdem demasiada água; a publicação dos planos de eficiência hídrica, que de anúncio em anúncio se têm ficado apenas pelo Algarve; a expansão do regadio que pode acompanhar a execução de todos estes investimentos, como a construção das barragens que ainda nos faltam, como a do Alvito; e finalmente, um foco real no investimento na modernização da tecnologia agrícola, que é, sim a maior fonte de sustentabilidade que podemos ter e deve ser o principal foco da implementação do nosso PEPAC.
Ultrapassar a resignação é olhar em frente e transformar os desafios em oportunidades de crescimento. Na Iniciativa Liberal, defenderemos sempre uma política de crescimento, abundância e oportunidade.
Agricultura e Mar