A Marinha Portuguesa informa que o submarino NRP Arpão navegou com sucesso debaixo do gelo pela primeira vez. Foram 39 horas e 30 minutos em imersão profunda sob o gelo, depois do Arpão ter largado do porto de Nuuk, na Gronelândia, no dia 28 de Abril, para a realização da Operação Árctico 2024, com a presença a bordo do Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Henrique Gouveia e Melo, decano dos submarinistas no activo.
A missão não se ficou pela navegação, contou também com a exploração operacional de um submarino debaixo do gelo, desde o mapear de Polyanas, aberturas naturais na placa de gelo para uma possível emersão de emergência, até monitorizar a largura da placa ou a densidade de gelo derivante.
Com a conclusão desta missão o NRP Arpão “tornou-se, se não no primeiro, num dos muito poucos submarinos convencionais a navegar debaixo do gelo, uma área normalmente reservada aos submarinos de propulsão nuclear. Permaneceu debaixo da placa de gelo num total de cerca de quatro dias, tendo também explorado a operação na Marginal Ice Zone , com grande densidade de gelo solto, zona essa com elevado valor tácito, área em que nenhum outro submarino do Ocidente se atreveu a operar, desde a II grande Guerra, com total sucesso”, realça uma nota de imprensa da Marinha Portuguesa.
Mas, para que fosse possível cumprir com o desígnio, de navegar debaixo do gelo, foi necessário um “intenso período de preparação e estudo”, em que a guarnição quase que teve que “reaprender” a operar o navio, refere a mesma nota, realçando que, em paralelo ao estudo e preparação da missão, “o navio foi adaptado para fazer face às especificidades da missão, nomeadamente a instalação de uma protecção na torre para os mastros pela Divisão de Submarinos da Direcção de Navios (DN-DS) e pela Arsenal do Alfeite, ou a instalação de um sonar de alta frequência na torre do submarino com o apoio do Instituto Hidrográfico (IH)”.
Explica a Marinha que “após concluída a primeira patrulha de 22 dias ao serviço da NATO, na Operação Brilliant Shield, o NRP Arpão atracou no porto de Nuuk, na Gronelândia, de forma a realizar uma paragem logística e a preparar a próxima fase da missão, a navegação debaixo da placa de gelo Árctico”.
Ao chegar a Nuuk, o navio foi “recebido por algumas dezenas de pessoas no cais, que se encontravam bastante curiosas com a chegada de um submarino a um lugar tão recôndito como a Gronelândia. Embora as paragens nos portos tenham como objectivo primário a logística, também são aproveitadas para o descanso das guarnições. Porém desta vez foi ligeiramente diferente, o navio ia iniciar uma das suas maiores aventuras até à data”.
Para que fosse possível cumprir com o desígnio, de navegar debaixo do gelo, foi necessário um intenso período de preparação e estudo, em que a guarnição quase que teve que “reaprender” a operar o navio, uma vez que a navegação submarina nas altas latitudes apresenta condições ambientais, sonoras e perigos à navegação, como a existência de Icebergs e gelo solto obrigando assim a adaptar muitos dos normais procedimentos e técnicas normalmente usadas pelos submarinos, quando a navegar em latitudes mais baixas.
Operação Árctico 2024
A Operação Árctico 2024 contou com o apoio de Marinhas aliadas nomeadamente, a US Navy, através do Artic Submarine Lab (ASL), e das Marinhas da Dinamarca e Canadá, “fazendo jus às boas relações bilaterais entre a Marinha e os diversos parceiros internacionais, fortalecendo assim a coesão da Aliança Atlântica, no seu trabalho combinado e num momento de elevada instabilidade mundial, onde os valores da democracia e o respeito pelas regras Internacionais estão a ser colocadas em causa”.
Relembra a mesma nota que no ano 2023 o Arpão navegou 212 dias, atravessou o Atlântico duas vezes, esteve presente em sítios tão longínquos como o Rio de Janeiro, no Brasil e a Cidade do Cabo, na África do Sul, e ainda terminou o ano operacional com uma patrulha no Mediterrâneo. “Os processos de manutenção e treino são os dois principais factores que permitem a condução das operações em segurança e com sucesso”.
Foi com o “sentimento de lição bem estudada e de navio pronto” que o NRP Arpão largou da Base Naval de Lisboa no dia 3 de Abril. Os quase sete meses de preparação culminaram num conjunto de alterações significativas quer aos procedimentos normais, por exemplo vindas à cota periscópica sem seguimento, de forma a minimizar possíveis danos no caso de um contacto inesperado com algum bloco de gelo, quer na organização de bordo para conseguir maximizar a operação de todos os sensores. Durante a primeira patrulha da Operação Brilliant Shield foi possível treinar, testar e validar a funcionalidade dos novos procedimentos e das alterações efectuadas.
A última fase de aprontamento da missão começou com o navio atracado no porto de Nuuk. Ao nível logístico, uma vez que o navio vinha de 22 dias de mar, foi necessário reabastecer o navio de combustível e géneros alimentares. Em termos operacionais, observando as últimas Cartas de Gelo, com o registo das mais recentes movimentações da placa de gelo, e já com a presença dos Ice Pilots, do ASL, foi desenhado o plano final e acertados os procedimentos e plano de comunicações entre todos os parceiros, nomeadamente o navio da Marinha Real Dinamarquesa, HDMS Ejnar Mikkelsen, que iria acompanhar o trânsito até à zona do gelo.
Desta forma, com todos os preparativos realizados, com o Plano Final aprovado, no dia 28 de Abril o Arpão largou de Nuuk, para a realização da Operação Árctico 2024, com a presença a bordo do Chefe do Estado-Maior da Armada, Almirante Henrique Gouveia e Melo, decano dos submarinistas no activo.
O “feito” inédito, do NRP Arpão se encontrar a navegar em imersão profunda com um tecto de gelo, confirmado pelos sonares activos e sonda, “trouxe a todos os elementos da guarnição um sentimento de expectativa realizada, que justificava todo o tempo e a dedicação empenhados na preparação da missão estavam a começar a pagar os dividendos, ampliado ainda com a presença de Sexa ALM CEMA no Combat Information Center (CIC)”.
Depois de 39h 30min em imersão profunda sob o gelo, o navio cruzou novamente a Marginal Ice Zone (MIZ) para Leste e regressou à superfície com o sentimento de missão cumprida.
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